DIÁRIO DO COMÉRCIO
Escrito por Sérgio Paulo Muniz Costa
É simplesmente estarrecedor que pessoas que cometeram assassinatos, sequestros, roubos e atentados com a finalidade de instalar uma ditadura totalitária no Brasil se apresentem como defensoras da democracia. Mas é absolutamente escandaloso que elas se apresentem simultaneamente como vítimas e governantes do mesmo Estado que hoje viola e desrespeita os Direitos Humanos numa escala incomensuravelmente maior do que há quarenta anos.
A vitimização midiática de pessoas que fizeram vítimas sem qualquer arrependimento é de um personalismo surrealista que aliena qualquer ética e essa efusão patética de narcisismo político vai assumindo os contornos de hecatombe social num país em que nada funciona direito, simplesmente por que aqueles que governam para si aliaram-se aos que governam para a sua utopia, reduzindo a sociedade a um mero instrumento de seus desígnios.
Não há manipulação estatística, lobby ou propaganda que apague da realidade nacional a verdade da multiplicação nas últimas décadas das mortes de brasileiros nas cidades, nos campos e nos presídios, nem justificativa para a arrogância ideológica daqueles que pretendem dominar a História para expiarem a sua frustração em exercer o poder dentro da moldura socioeconômica que pretenderam destruir.
A violência é um problema intrínseco à vida social, cabendo ao Estado enfrentá-la. Num momento em que os desafios à sociedade democrática se agravam em cidades cada vez maiores, através de fronteiras permeáveis e nos crimes de tantos objetos, a questão central é como o Estado vai lidar com a violência que daí aflora, multiforme e inesperada; uma tarefa a ser cumprida na forma da Lei, o que exige renovadas competências.
Como numa democracia nada pode acontecer fora da política, o preparo de quem exerce o poder começa a se evidenciar no discurso que pratica. E como o estado é a suprema instância da resolução de conflitos, jamais da promoção do confronto, não é apenas uma presumida capacidade de gestão que caracteriza a competência para sua governança. Para isso, faz-se não o que se quer, mas o que se deve, ou melhor, o que a sociedade espera – no caso, promover segurança onde se abrigam os direitos das pessoas.
Presumir que, em qualquer tempo, seja lícito a algumas pessoas agredir deliberadamente outras por causa de suas convicções ideológicas é aceitar que, por qualquer outra razão, a violência se afirme como meio de resolução de conflitos, algo absolutamente contrário à promoção dos Direitos Humanos.
Continua faltando alguma coisa no Plano Nacional de Direitos Humanos que o governo vem procurando impor a todo custo à sociedade. No mínimo, sintonia com a sociedade e contato com a realidade.
Sérgio Paulo Muniz Costa é Historiador, membro do Centro de Pesquisas Estratégicas (CPE) da UFJF, e autor do livro Os Pilares da Discórdia.
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