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terça-feira, 20 de maio de 2008

GRAMSCI E A ESTRATÉGIA ATUAL DAS ESQUERDAS

Do portal GRUPO INCONFIDÊNCIA

Palestra realizada pelo general José Saldanha Fábrega Loureiro, no Círculo Militar/BH, dia 31 de outubro de 2001 e divulgada no Jornal do Grupo Inconfidência, em 4 partes.

parte 1

“A crise do ‘Socialismo Real’ compromete uma específica interpretação de Marx, mas não o patrimônio categorial do marxismo, expresso nos textos clássicos... O que se esfacela com esta crise é o marxismo-leninismo, utilizado como pseudônimo do stalinismo, que empobreceu o aporte teórico de Marx e a própria leitura de Lenine... A esperança revolucionária não se esgotou somente porque o comunismo entrou em colapso no Leste Europeu”.

Estas são palavras de um conhecido intelectual marxista, o Sr Nelson C. Coutinho, e servem para nos alertar sobre precipitadas afirmações, comumente difundidas, tais como: o comunismo acabou, a era das ideologias está finda, a proposta marxista está superada e o mito da revolução já não empolga as massas. Será verdade? Não é demais lembrar que as ideologias entram em crise mas não desaparecem facilmente - mesmo porque, como ensina Daniel Bell, “o fim da ideologia não deve representar o fim da utopia”.

A queda do muro de Berlim encerra apenas um ciclo da história, mas não representa evidentemente seu final. É um grande equívoco acreditar que o comunismo morreu somente porque a “praxis” marxista-leninista, na ex-URSS, redundou num contundente fracasso. Mas o que é inegável, em verdade, é que o comunismo ingressa no século XXI com o seu prestígio abalado e com a sua proposta transformadora sob questionamento. Porém o mais surpreendente é que, paradoxalmente, isso tudo, muito pouco afetou a situação das esquerdas no Brasil. A muitos intriga e surpreende, em primeiro lugar, a rápida e eficiente recuperação do espectro comunista, após a derrota acachapante que as forças democráticas da nação lhe impuseram, nas décadas de 1960/70. Em segundo lugar, a situação inusitada, em termos de participação, reapresentação e influência política, alcançada, hoje, pelas correntes de esquerda no Brasil, em contraste com o desprestígio vivido pela proposta comunista, em nível internacional. Certamente, em nenhum outro período, desde a fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1922, o segmento comuno-tupiniquim desfrutou de tão consistente e privilegiada situação, no espaço sócio-político brasileiro, como atualmente. Isto tudo, porém, não aconteceu por acaso.

Para este quadro paradoxal, muito contribuiu um fato importante, que por muito tempo escapou da nossa observação. É que após a contundente derrota na luta armada, portanto, cerca de 15 anos antes da queda do Muro de Berlim, as esquerdas brasileiras iniciaram a catarse do leninismo e seus derivados (maoísmo, castrismo, foquismo, etc.) - o tradicional paradigma estratégico da III Internacional - e uma nova opção estratégica para a tomada do poder no Brasil, começa a surgir; agora porém, sob a influência e a liderança do segmento sócio-marxista mais intelectualizado, dando cumprimento, assim, a um aceitável axioma que recomenda: uma estratégia derrotada tende a ser, prudentemente, substituída e não, imprudentemente, repetida.

De nossa parte, é preciso reconhecer que, se por um lado, fomos suficientemente competentes para derrotar todas as tentativas do marxismo-leninismo durante 40 anos, por outro, custamos a perceber que no âmbito do próprio marxismo haviam outras alternativas estratégicas que possibilitavam a continuidade da sua luta pela tomada do poder. E entre tais alternativas - talvez a mais original de todas - destacava-se, nos textos do neomarxismo italiano, a proposta teórico-estratégica de Antônio Gramsci, que a ortodoxia de Prestes e companhia sempre repeliu e nós, os vencedores de 1964, com algum retardo fomos perceber.

Justamente, é com base nas concepções de Gramsci “o mais original pensador neomarxista italiano” que o segmento intelectual comuno-brasileiro vai encontrar inspiração e suporte, seja para superar a incômoda situação a que fora submetido, em face da inclemente derrota nos anos de 1970, seja para definir o rumo da sua inserção no processo político que, sob novos moldes, já se delineava no horizonte dos últimos governos da Revolução de 1964. Assim podemos dizer que Gramsci é, hoje, o grande “guru” das esquerdas brasileiras e o inspirador da estratégia que modula as suas ações na luta pela conquista do poder. Aliás, luta esta que vem incluindo um discurso que se caracteriza por falar de uma tal “democracia radical” e que enfatiza como legenda maior a LUTA PELO SOCIALISMO NO BRASIL, sem contudo especificar, de modo claro e insofismável, qual a forma de LUTA que pretende empreender e qual o TIPO DE SOCIALISMO que pretende implantar. Bem! A ambigüidade e o mimetismo são velhas e conhecidas armas do arsenal persuasivo das esquerdas.

Uma estratégia derrotada tende a ser, prudentemente, substituída e não, imprudentemente, repetida. Gen. Fábrega

parte II

A revolução triunfará através da estratégia de "Guerra de Posição", mediante a qual se desgasta o inimigo penetrando nas "casamatas" e "fortificações" da "Sociedade Civil". Antônio Gramsci

Mas quem é Gramsci ?

Antônio Gramsci nasceu em Ales, na Sardenha em 1891. Desde cedo exerceu intensa atividade intelectual e política, tendo sido um dos fundadores do Partido Comunista Italiano (PCI) em 1921.

Por sua militância política e ferrenha oposição ao fascismo foi preso em NOV/1926, aos 35 anos de idade, e condenado a 24 anos de prisão. Nesta ocasião era deputado ao Parlamento Italiano e principal dirigente do PCI. Após cumprir 11 anos de prisão, devido ao seu precário estado de saúde, foi posto em liberdade, em 20.04.1937, vindo a falecer, sete dias após, numa clínica em Roma.

Sua obra de maior relevo e repercussão está consubstanciada nos denominados "CADERNOS DO CÁRCERE", escritos na prisão entre 1929 e 1935. São 33 cadernos manuscritos que perfazem um total de 2.500 páginas. Segundo Giovani Reale destacado filósofo e historiador italiano...."a obra de Gramsci constitui uma das mais notáveis reelaborações do marxismo, no século vinte, tanto por suas referências aos problemas sociais, culturais e políticos, mas também por sua tentativa de integrar o marxismo na história italiana..."

Os escritos de Gramsci só vieram a ser conhecidos após a Segunda Guerra Mundial (1945). Até então eram totalmente ignorados uma vez que foram, por inteiro, produzidos no interior da prisão.

Vale acrescentar que o pensamento de Gramsci não constitui unanimidade dentro da ortodoxia marxista-leninista, que sempre identificou nas suas propostas um acentuado viés revisionista.

Daí explicar-se a dificuldade de aceitação e penetração do gramscianismo nos centros irradiadores do Movimento Comunista Internacional (MCI) e, também, da sua tardia difusão fora da Itália.

Entretanto a leitura atenta da sua obra demonstra, insofismavelmente, que os seus estudos, reflexões e propostas têm como fundamento essencial e ponto-de-partida os referenciais básicos oferecidos pelo marxismo teórico - a "filosofia da praxis" - isto é : o materialismo dialético, o materialismo histórico, a luta de classes, o mito da revolução etc. etc. Isto significa dizer que o comprometimento total da sua proposta inovadora está dirigido, essencialmente, para a consecução da "revolução socialista", cujo propósito maior é a superação da sociedade burgueso-capitalista e a conseqüente edificação da sociedade proletária.

Percebe-se, porém, que certos autores gramscianos, propositadamente, procuram omitir ou esmaecer o sectarismo e o revolucionarismo marxista consubstanciados na proposta de Gramsci, apresentando-a, eufemisticamente, como uma forma mitigada (de marxismo) de passagem do capitalismo ao comunismo, atitude que representa um claro desvirtuamento dos propósitos da obra do pensador italiano. Gramsci, manteve-se sempre fiel à essência do projeto comunista, embora, tenha proposto formas e caminhos mais consentâneos com o mundo do seu tempo, mas sem perder a referência essencial da teoria marxista.

Qual a essência da proposta teórica de Gramsci ?

O desenvolvimento da teoria de Gramsci buscou motivação na necessidade de encontrar respostas e alternativas ao inconteste fracasso em que se transformara a aplicação do paradigma revolucionário bolchevista (Revolução Russa/1917) nos países capitalistas desenvolvidos da Europa.

Gramsci convenceu-se de que o mencionado fracasso resultara, primordialmente, da inadequação da estratégia bolchevista ("Guerra de Movimento") às condições histórico-políticas e culturais daqueles países, que, evidentemente, se revelavam flagrantemente distintas das condições vigentes na Rússia em 1917. Percebeu, também, que o ponto focal desta distinção residia, sobretudo, no grau de desenvolvimento e organização da "Sociedade Civil", numa e noutra formação social, e, fundamentalmente, na dinâmica das relações entre "Sociedade Civil" e Estado ("Sociedade Política"). Isto evidenciava, nitidamente: a importância do processo histórico-cultural dos países-alvos, o elevado significado estratégico da "Sociedade Civil" e a necessidade de formulação de uma nova estratégia, adequada ao universo sócio-político de tipo europeu. A partir daí, Gramsci construiu a sua teoria sobre a estratégia da "Guerra de Posição", destinada à conquista do poder numa Sociedade de tipo "Ocidental". Este termo tem um sentido meramente metafórico e não necessariamente geográfico como pode parecer. Para explicitar a sua teoria, o autor criou um corpo conceitual próprio, hoje conhecido e designado como "Categorias de Gramsci", cuja originalidade terminológica e de suporte analítico constitui uma especificidade no seio do marxismo.

Por exemplo: Sociedade Civil, Sociedade Política, Hegemonia, Consenso, Senso Comum, Intelectual Orgânico, Domínio, Direção Cultural, Bloco Histórico, Oriente e Ocidente, Crise Orgânica, etc. etc., são categorias de Gramsci , freqüentemente utilizadas no proselitismo ideológico das esquerdas, sem que a audiência leiga, muitas vezes, perceba o vinculo categorial desses termos.

Mas, vejamos como se referiu Gramsci sobre as estratégias da "Guerra de Movimento" e da "Guerra de Posição":

No "Oriente" o Estado era tudo e a "Sociedade Civil" era primária e gelatinosa. Neste caso a "Guerra é de Movimento", isto é, caracterizada pelo ataque frontal e direto à Cidadela do Poder.

No "Ocidente" entre Estado e "Sociedade Civil" havia uma adequada e equilibrada relação e quem pretendesse flanquear o Estado encontraria, de imediato, a robusta estrutura da "Sociedade Civil". O Estado não era mais que uma trincheira avançada, atrás da qual havia uma sólida cadeia de fortificações e casamatas... Em tais circunstâncias, a revolução não pode triunfar no "Ocidente" através de um choque frontal contra as trincheiras do Estado, porque estas se encontram bem consolidadas e protegidas. Neste caso, a revolução triunfará através da adoção da estratégia da "Guerra de Posição", mediante a qual se desgasta o inimigo penetrando nas fortificações e casamatas da Sociedade Civil. Este é o único caminho que pode levar o Partido Comunista ao Poder nos países de perfil "Ocidental".

A "Guerra de Posição", concebida por Gramsci para a conquista do "Poder no Ocidente", tem como referência e fundamento a dinâmica das inter-relações dialéticas (ação recíproca) entre a "Sociedade Civil" e a "Sociedade Política" (Estado no sentido estrito), característica essencial das sociedades tipo "Ocidental". Lenine, por exemplo, em 1917, empregou a "Guerra de Movimento", atacando, de modo frontal e direto, o Estado Russo, porque lá o Estado era tudo e não havia uma "Sociedade Civil" organizada, participativa e dinâmica, que fizesse o contraponto relacional com a "Sociedade Política" (Estado).

Já no "Ocidente", essa inter-relação dialética é decorrência de um processo hegemônico continuado e desenvolvido ao longo da história, que, por sua vez, gerou uma concepção de mundo própria (ideologia), consubstanciada, hoje, no que a linguagem gramsciana chama de "Senso Comum" da Sociedade burguesa . O "Senso Comum" é representado pela incorporação, comunhão e prática de valores, princípios, procedimentos, tradições, costumes, história, civismo, vultos, próceres, etc, enfim, a própria Cultura.

"Gramsci manteve-se sempre fiel à essência do projeto comunista, embora propondo formas e caminhos mais consentâneos com o mundo do seu tempo."

parte III

Por oportuno, desejamos iniciar esta Parte III, com a seguinte OBSERVAÇÃO: Por reconhecer que a teoria de Gramsci apresenta um certo grau de complexidade, sobretudo conceitual, pedimos escusas antecipadas por algum excesso teórico-didático, presente na nossa abordagem sobre a “Guerra de Posição”. Vale dizer, entretanto, que o nosso propósito maior, no caso, é facilitar ao máximo a compreensão do assunto e, principalmente, oferecer aos caros leitores mais um instrumento teórico-auxiliar, para a leitura dos fatos que perfilam a nossa complexa realidade atual (dominada pelo mimetismo, pela ambigüidade e pelas manipulações das esquerdas, em geral) e máxime para identificar os seus fatores de comandamento, de modo a constatar o inequívoco e perceptível avanço da estratégia de Gramsci no nosso país.

No diagnóstico gramsciano, o “Senso Comum” é uma visão de mundo acrítica, difundida (pelas classes dominantes) no seio das classes subalternas (proletariado urbano e rural), constituindo-se, assim, num eficaz instrumento de dominação ideológico-cultural e, ipso fato, de afirmação da “Hegemonia” burquesa. Este entendimento harmoniza-se com um clássico conceito marxista, que sublinha: “as idéias dominantes, em todas as épocas, sempre foram idéias da classe dominante”. Há um texto de I. Simionatto (Ed.Cortez/95), bastante ilustrativo que complementa esta parte: ....“a “Hegemonia” cria a subalternidade (social) de outras classes, não apenas pela submissão à força, mas também pela submissão às idéias... A classe dominante repassa a sua ideologia (concepção de mundo) e realiza o controle do “Consenso” através de uma rede articulada de aparelhos culturais – que Gramsci chama de “Aparelhos Privados de Hegemonia” e o ilustre Professor Jorge Boaventura, da ESG, muito apropriadamente, denomina de “Centros de Prestígio e de Irradiação Cultural”. Estes aparelhos (que correspondem às “casamatas” e “fortificações” da “Sociedade Civil”) compreendem: Escolas, Universidades, Igrejas, Mídia (Rádio, TV, Jornais, Revistas, etc), Associações Intelectuais, Culturais, Corporativas, Sindicatos, Editorialismo, Literatura, Crítica, Cinema, Artes em geral, ONGs, etc. “Através desses aparelhos é que é imposta às classes subalternas a submissão passiva e feito o repasse ideológico (isto é, o próprio “Senso Comum”)”.

Gramsci, por seu turno, destaca que “a supremacia (Hegemonia) de um grupo social se manifesta como “Domínio” ou como “Direção” Intelectual e Moral” (cultural). O “Domínio” pressupõe o acesso ao Poder, o uso da força e a coerção. A sede do “Domínio” é o Estado (“Sociedade Política”). Já a “Direção”, que corresponde à “Hegemonia” propriamente, é exercida na “Sociedade Civil” e é alcançada mediante a persuasão, o proselitismo, a doutrinação, a adesão, enfim pela obtenção do “Consenso”. A “Hegemonia” se conquista e se exerce no universo aliado; o “Domínio”, por sua vez, é imposto sobre o universo antagônico.

Esta visão conceitual levou Gramsci a concluir que: “um grupo social pode e deve ser dirigente, antes mesmo de ser dominante, significando dizer que: antes de ter o Poder Governativo, um grupo social pode conquistar a “Direção” ideológica e cultural, na Sociedade como um todo. Tal entendimento evidencia, claramente, a posição de relevo que a “Hegemonia” (e por extensão o “Senso Comum”) ocupa na formulação estratégica da “Guerra de Posição”, corroborada, também, numa conhecida sentença de Gramsci: “jamais existiu um Estado sem “Hegemonia” e, em substância, a luta entre duas classes que se disputam o poder é, antes de tudo, uma luta entre duas “Hegemonias”. Por outro lado, cabe frisar que a “Hegemonia” só se completa com a eliminação do “Senso Comum” da classe dominante e com a conseqüente imposição de um “Novo Senso Comum”. Nesta oportunidade, vale mostrar aos caros leitores como este processo já está em curso no país, recorrendo, para isso, a um exemplo apresentado pelo General Sérgio A. Coutinho, que destaca alguns aspectos pragmáticos, que se enquadram nas técnicas do gramscianismo, com vistas à mudança do “Senso Comum”, vigente na nossa Cultura: “Sociedade nacional x sociedade civil organizada; direito positivo x direito alternativo; desenvolvimento x ecologia; vulto histórico x líder popular; vontade nacional x opinião pública; tradição x atraso; organismo público x comunidade; invasão x ocupação; legal x legítimo; casamento x união civil de parceiros – formalidade x informalidade”.

Retomando, pode-se aduzir que toda esta elaboração teórico-conceitual, até aqui apresentada, está imbricada na grande premissa estabelecida por Gramsci que: considerou a fórmula maximalista, adotada por Lenine em 1917, como superada, levando, em conseqüência, o pensador italiano a fixar-se na concepção de que a luta revolucionária, no “Ocidente” deve ser travada, substantivamente, no plano das idéias e da cultura, afastando-se, deste modo, do economicismo estrutural, próprio do marxismo clássico.

Neste contexto, portanto, a “batalha cultural” assume um papel preponderante, na rota para a conquista do Poder, apresentando-se, no caso, como “fator decisivo no processo de luta pela “Hegemonia”, na conquista do “Consenso” e da direção político-ideológica, por parte das classes subalternas”. O espaço estratégico nesta contenda é representado pelas “casamatas” e “fortificações” da “Sociedade Civil” – (que na visão gramsciana compreende o conjunto das relações políticas, sociais, ideológicas, culturais, religiosas, intelectuais, etc. e, como tal, é cenário da luta de classe, do repasse do “Senso Comum” e palco dos fatos históricos) – e pelos estamentos da “Sociedade Política” (Estado).

A guisa de síntese e recorrendo a uma linguagem mais formatada, tipo “conceito de operação”, podemos dizer que: Na estratégia da “Guerra de Posição”, a luta revolucionária se caracteriza, em essência, pela disputa da “Hegemonia” (direção política, ideológica e cultural) e conseqüente obtenção do “Consenso” (adesão, concordância, aceitação voluntária), nas “casamatas” e “fortificações” da “Sociedade Civil”, a fim de neutralizar (pela desinformação, desgaste, desvirtuamento, etc) o repasse da ideologia burguesa e impor um “Novo Senso Comum”, criando, ato continuo, as condições subjetivas e objetivas necessárias para investir sobre os estamentos da “Sociedade Política” (Estado), conquistar o Poder burguês (“Domínio”), elevar o proletariado à condição de classe dominante e implantar uma “nova ordem”, calcada nos cânones do marxismo.

Percebe-se, assim, que a “Sociedade Civil” funciona como a grande plataforma de manobra, tanto para a conquista da “Hegemonia” num primeiro tempo, quanto para o investimento sobre a “Sociedade Política”, quando constituirá a própria base estratégica. A tática de luta repousa, por excelência, na “Penetração Cultural”, levada a efeito, como já ressaltado, nos espaços da “Sociedade Civil” e do Estado (“Sociedade Política”). A penetração nos estamentos deste último, opera-se, na verdade, de forma concomitante com a disputa pela “Hegemonia” na “Sociedade Civil” e é dirigida, basicamente, sobre as instâncias e organizações dos Serviços Públicos, Justiça, Legislativo, Executivo, Procuradoria, Promotoria, Defensoria, TCU, Empresas Estatais, Autarquias, Forças Armadas, Polícias, Universidades e Escolas Públicas, Hospitais, Associações de Funcionários, Sindicatos etc.etc.

Um exemplo inequívoco do processo de penetração do gramcianismo nos estamentos do Estado brasileiro e na “Sociedade Civil” é a “Operação Marabá”, levada a efeito por motivação ideológica e conduzida por funcionários da “Sociedade Política”: policiais e procuradores federais, em íntima ligação com jornalista --estes últimos, funcionários pertencentes a uma "casamata" de "Sociedade Civil" (integrantes da parcela "araponga" da mídia "hegemonizada") -- A citada operação, vale recordar, foi realizada contra instalações da 23ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Marabá/PA.

Esta forma de atuação, inaceitável e sem precedentes é bastante reveladora de que na Procuradoria Geral da República e na Polícia Federal, já vige, hoje, um "Novo Senso Comum" que, ideologicamente, inspira e baliza as suas ações e procedimentos institucionais, sendo que, no presente caso, tiveram propósito de inibir e neutralizar a atuação das Forças Armadas na Segurança Interna, objetivo buscado insistentemente pelas esquerdas derrotadas.

“Jamais existiu um Estado sem “Hegemonia” e, em substância, a luta entre duas classes que se disputam o poder é, antes de tudo, uma luta entre duas “Hegemonias”

parte IV (final)

Gramsci dedica um apreciável espaço na sua obra para realçar o papel decisivo e estratégico reservado aos “Intelectuais” e ao Partido Político, na “Guerra de Posição”.Dadas as peculiaridades e, sobretudo, o caráter da luta visualizada na proposta gramsciana de tomada de poder – que muitos identificam como uma modalidade da estratégia indireta, tipicamente de desgaste e de aplicação a longo prazo – pode-se admitir que a “Força de Manobra Revolucionária”, na “Guerra de Posição” está centrada, basicamente, na tropa de “Intelectuais Orgânicos” e no Partido Político (o Comando), que Gramsci também denomina de “Intelectual Coletivo” e de “Moderno Princípio”, este por inspiração maquiaveliana.

O texto gramsciano destaca que: “uma massa humana não se distingue e não se torna independente, por si, sem organizar-se; e não existe organização sem “Intelectuais”. O Partido Político é o novo e eficiente instrumento para enfrentar os grupos dirigentes, na luta pela conquista da “Hegemonia”. Ele será o “parteiro”de uma nova sociedade, realizando a elevação cultural das massas (reforma intelectual e moral) e movendo as suas vontades à ação político-revolucionária. (G.Staccone – Vozes/95)

A teoria de Gramsci, na verdade, considera duas categorias de “Intelectuais”: os “Orgânicos” e os “Tradicionais”. Os primeiros se caracterizam, antes de tudo, pela função organizadora e militante que exercem, em prol da causa revolucionária e não, necessária e obrigatoriamente, por possuírem um elevado nível cultural ou de conhecimento, ou mesmo pelo exercício efetivo da atividade intelectual. Os “Intelectuais Orgânicos” distinguem-se, de fato, por serem os artífices da organização, da doutrinação ostensiva e subliminar e do repasse do “Novo Senso Comum”.

Por exemplo, o Sr. José Rainha e sua esposa dona Deolinda, membros do MST, são considerados “Intelectuais Orgânicos” do mesmo modo como o são Frei Beto, o Senador Roberto Freire e o Sr. Chico Buarque de Holanda. Os “Intelectuais Tradicionais”são os que realmente exercem atividades intelectuais, possuindo as qualificações devidas e reconhecidas como tais. Em princípio, constituem um grupo autônomo adaptado à convivência com a ideologia dominante.

Habitualmente são alvo de cooptação ideológica, até mesmo pelo afago às suas vaidades e, via de regra, são pressionados e patrulhados pelos “Intelectuais Orgânicos” para aderirem ou colaborarem com a causa revolucionária.

Não será difícil para os caros leitores identificar um e outro tipo de “Intelectual”, no universo brasileiro, onde os “orgânicos” já desfrutam de posições consolidadas na mídia, na educação, nas igrejas, na cultura, nos sindicatos, nas associações de profissionais liberais, no serviço público, nos movimentos ditos populares, nas ONG(s), etc. A acelerada penetração ideológico-cultural e a concomitante disseminação do “Novo Senso Comum”, no nosso espaço sócio-político, têm estimulado a incorporação de novos segmentos sociais (inclusive classe média) ao espectro ativista-participativo e militante das esquerdas em geral, indicando o surgimento de um esdrúxulo “proletariado ampliado” e, por via de conseqüência, a moldagem de uma nova “identidade de classe”. Tal fenômeno tem feições próprias do atual processo sócio-político brasileiro, mas certamente deve ser encarado, também, como produto das transformações , sobretudo sociais, trazidas pela dinâmica da nova “Sociedade de Serviços”, cuja tardia percepção na União Soviética levaram-na á completa desintegração, como indica F.Fukuyama.

Por outro lado, ao contrário do que ocorreu em relação aos pólos irradiadores do marxismo-leninismo (detetados e conhecidos), os centros de irradiação do gramscianismo, hoje no Brasil, são bastante difusos, não permitindo, ainda, a sua precisa indicação.

Entretanto, poder-se-ia dizer que, atualmente, o gramscianismo atua e propaga-se por capilaridade ideológica, valendo-se dos partidos de esquerda, em geral, e da rede militante menos radical do espectro marxista no país.

Do ponto-de-vista teórico-estratégico, o quadro final que a “Guerra de Posição” pretende configurar é o da geração de uma crise irreversível nos domínios do Estado burguês, motivada pela ruptura do equilíbrio nas relações entre a “Sociedade Política” e a “Sociedade Civil”. Segundo Gramsci, nas Sociedades “ocidentalizadas” o Estado se “ampliou”, isto é: o Estado (lado sensu) é concebido como um conjunto composto de dois elementos indissociáveis: a “Sociedade Política” (Estado stricto sensu) e a “Sociedade Civil”. Isto significa que o Estado, em si, detém, ao mesmo tempo, as funções de Domínio (coerção) e de Direção (“Hegemonia”) – “Hegemonia revestida de coerção”.

A crise final se instalará, justamente, quando o “Estado Ampliado” perder a “Hegemonia” (Direção) na “Sociedade Civil”- o que significa perder a legitimidade – ficando destarte reduzido aos estamentos da “Sociedade Política” (Estado stricto sensu) e ao exercício do Domínio (coerção). Isto ocorrerá porque nos espaços da “Sociedade Civil” já terão sido implantados, de fato, um “Novo Senso Comum” e uma nova “Hegemonia”, sob a liderança das classes subalternas que, em conseqüência, terão adquirido a condição de “classe dirigente”, mas não ainda a de “classe dominante”, que só se produzirá com a conquista da “Sociedade Política”, isto é com a obtenção do “Domínio” (o Poder).

Tal situação retrata um quadro caótico, em que uma classe tem o “Domínio” e a outra classe a “Direção” a (“Hegemonia”) indicando, pois, a inevitabilidade do confronto e da ruptura final. Esta antevisão caracteriza o que Gramsci denomina de “Crise Orgânica” e que está sintetizada numa frase sua: “o velho está morto e o novo não pode nascer”.

O que os democratas devem ter presente é que o impasse da “Crise Orgânica” será resolvido inclusive pela “Guerra de Movimento”, se necessário. Gramsci nunca negou esta possibilidade. Eis o porquê da generosidade do tratamento concedido ao MST, pelas esquerdas no Poder.

O “novo” nascerá seja de parto normal seja pela ação “cesária” das armas; mas nascerá de qualquer maneira, porque o seu nascimento representa o caminho único para a edificação do Estado Comunista.

Segundo o insuspeito Norberto Bobbio, Gramsci, como todo bom marxista, não fugiu à regra e, na sua obra, ocupou-se somente dos aspectos relativos à tomada do Poder, revelando-se omisso e silente com relação aos problemas do exercício da democracia e dos limites do Poder do Estado, não explicitando, seriamente, como a nova classe deveria exercer a “Hegemonia” e o “Domínio”, na transição para alcançar a “Sociedade Regulada”, isto é: “a sociedade sem classes”, a utopia.
Seu silêncio, no caso, representa uma coonestação ou referendo à ditadura do proletariado – Caros leitores ! cuidado com a pregação de uma tal “democracia radical” que vem sendo feita, espertamente, pelos mesmos pregadores da UTOPIA.

Tenhamos sempre presente o alerta que nos faz o grande filósofo Giovani Reale: “Cuidado! Em todo utópico costuma esconder-se um totalitário”.

“O nosso compromisso é com a Pátria”.
* CURRICULUM VITAE

- Natural de Itaqui/RS
- Turma de Formação:
- AMAN/1954 – Cavalaria
- Cursos:
- Possui todos os regulares do Exército e o da Escola Superior de Guerra
- Principais funções desempenhadas como oficial:
- Instrutor da AMAN – EsAO e EsCEME
- Adjunto da Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai
- Oficial de Gabinete do Ministro do Exército
- Adjunto do Estado-Maior do Exército
- Comandante do 3º Regimento de Carros de Combate (3º RCC - Realengo/RJ)
- Subchefe do Exército do Gabinete Militar da Presidência da República
- Assistente do Secretário de Economia e Finanças
- Comandante da 2ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (2ªBda C Mec-Uruguaiana/RS)
- Assistente do Exército no Comando da Escola Superior de Guerra
- Condecorações:

  • Possui 9 (nove) condecorações nacionais e 5 (cinco) estrangeiras

“Uma massa humana não se distingue e não se torna independente, por si, sem organizar-se; e não existe organização sem “Intelectuais”

Caros leitores!
"Cuidado com a pregação
de uma tal “democracia radical” que vem sendo feita, espertamente, pelos mesmos pregadores da UTOPIA".

OBSERVAÇÃO

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A REVOLUÇÃO GRAMSCISTA NO OCIDENTE”

Autor: Gen Sérgio Augusto de Avellar Coutinho

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".