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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Humanistas tentando se livrar da culpa pelo nazismo e mentindo aos borbotões? Refutar isso não tem preço!

 

LUCIANO AYAN

Imagine se um grupo de hackers se juntasse e compilasse a maioria de seus principais truques em um livro, que, aos poucos poderia facilitar a vida dos Gerentes de Segurança da Informação.

Pois é, os neo ateus fizeram exatamente isso, em um livro chamado “The Christian Delusion”. O livro, ao que parece, é exatamente uma compilação dos neo ateus que jogam mais baixo (ex. Richard Carrier, Hector Ávalos), em textos repletos de fraudes intelectuais e truques psicológicos.

Para o neo ateu que sofreu a “inserção” humanista, obviamente é um deleite. Para um cético em relação ao humanismo, o livro funciona igual um guia de truques hackers funcionaria para um Gerente de Segurança da Informação.

O blog Rebeldia Metafísica, de Gilmar Pereira dos Santos, está tão empolgado, mas tão empolgado com o livro (e por que eu não estou surpreso?), que resolveu traduzir capítulos inteiros dele. (Para quem não sabe, Gilmar postava nos comentários deste blog com o nick Dalila, o nome de uma cadela – como se nota, a argumentação dele se coaduna com o que ele pensa de si próprio)

Em 21 de abril, ele traduziu o capítulo “”Historiadores” Cristãos: Incompetentes, Desonestos ou Iludidos?” , de Richard Carrier. Como era um artigo exclusivamente de ataque ao cristianismo, não dei muita atenção, pois como sou ateu esse tipo de provocação não me afeta tanto. O problema é quando a baixaria vem de humanistas, e aí obviamente na guerra entre humanismo X cristianismo, torço para o último. Seja lá como for, não pensei em responder, e na própria caixa de comentários um dos leitores de meu blog denunciou os 3 truques de Carrier. Investigador de Ateus escreveu o seguinte:

As refutações ao texto do Carrier são fáceis demais:

a – Ele confundiu de propósito ciência primitiva com ciência moderna, e tentou enrolar o leitor, pois o que Dinesh disse era da responsabilidade do cristianismo para com a ciencia moderna, não a primitiva
b – Ele tentou dizer que não existiu “revolução científica” na era medieval, mas isso não significa ciência moderna, o termo “revolução científica” era mais retórico que prático
c – A cereja do bolo é quando ele diz que os cristãos que fizeram ciência tinham que “se esconder” ou “fingir”, realizando leitura mental, apelação que o Carrier já tinha feito quando tentou dizer que Antony Flew ao dizer que acreditava em Deus não queria dizer isso na verdade

São 3 truques de baixíssimo nível que não vale nem a pena comentar. O texto é longo demais e não passa da repetição destes 3 truques. É muito trovão para pouca chuva, ou melhor, é muito peido para pouca merda.

Creio que não há mais nada a comentar sobre o texto de Carrier, e um cristão (suponho que o Investigador de Ateus seja cristão) já fez o serviço. O que me interessa mais é o texto publicado nos mês passado, ‘O Holocausto Judeu: O Mais Trágico Capítulo da História do Cristianismo”. Mais do que atacar o cristianismo, o texto ISENTA de forma absurdamente desonesta o humanismo de qualquer culpa pelo nazismo.

O responsável por esse capítulo é Hector Ávalos, que ganha a vida dando aula sobre… estudos da religião. Quer dizer, o sujeito odeia a religião tradicional mais do que tudo nesta vida, e vive dando aula sobre ela. Naturalmente, ele usa essas aulas para converter seus alunos em fanáticos humanistas, que obviamente saem odiando os cristãos.

Para piorar a situação de Dalila, ele coloca a seguinte informação no final da biografia de Ávalos: “Avalos é um ateu militante e um defensor da ética humanista secular.” Quer dizer, já entregou e confessou o crime. Se o sujeito é humanista, então é claro que tem que seguir um programa mentindo o tempo todo contra o cristianismo, ao mesmo tempo em que isenta o humanismo de qualquer culpa. (E, como mostrarei aqui, as culpas do humanismo não podem ser negadas)

Comecemos, então, a análise das desonestidades de Ávalos:

Em sua réplica às acusações dos autores neoateus de que a religião levou a matanças em larga escala, Dinesh D’Souza, o comentarista conservador, assegura-nos que “o nazismo… foi uma filosofia secular e antirreligiosa que, de modo bastante estranho, compartilhou diversos elementos com o comunismo” Desse modo, D’Souza é capaz de responsabilizar o ateísmo na Alemanha Nazista por 10 milhões de mortes, incluindo as de 6 milhões de judeus. De fato, para D’Souza, os regimes ateístas de Joseph Stalin e Mao Zedong ocupam os dois primeiros lugares no ranking da violência ateísta. De um modo geral, D’Souza afirma que estes três grandes regimes ateístas assassinaram cerca de 100 milhões de pessoas.

Tecnicamente, realmente Dinesh errou ao associar os crimes do nazismo ao “ateísmo”. Nesse ponto, Dinesh caiu no mesmo nível dos autores neo ateus, que associam os crimes do nazismo ao “teísmo”. Na verdade, nem “teísmo” nem “ateísmo” podem ser responsáveis por crimes. Não há ideologia alguma em se crer que Deus existe ou Deus não existe. No entanto, sistemas que abarcam cosmovisões (e estes são cristianismo, judaísmo, humanismo, marxismo) aí sim podem dar justificas ou não para atitudes.

O que não deixa de ser curioso, no entanto, é notar que Ávalos poderia ter feito essa correção, mas, pelo contrário, manteve o erro, e portanto todo o texto dele já poderia ser invalidado pelo engano (proposital ou não) de confundir categorias.

Sigamos:

D’Souza exemplifica à perfeição a categoria dos apologistas cristãos cuja melhor resposta aos genocídios cometidos por autoproclamados cristãos é afirmar que os ateus assassinaram ainda mais. Com efeito, D’Souza calcula que “as mortes causadas por regimes cristãos ao longo de um período de 500 anos equivalem a apenas um porcento das mortes causadas por Stalin, Hitler e Mao num intervalo de poucas décadas”.

Ávalos aqui parece se confundir, pois qualquer resposta que diga que sistemas ateus mataram mais que sistemas cristãos refuta a alegação neo ateísta de que “o cristianismo é mais perigoso que ateísmo”. Novamente, acho uma grande bobagem confundir “cristianismo” com “ateísmo”, assim como toda a argumentação contra o teísmo cai no vácuo.

Aliás, a afirmação de Dinesh é correta. O erro, é claro, é associar as mortes unicamente ao ateísmo, quando o correto seria associar todas as mortes de Stalin, Hitler e Mao ao humanismo, defendido arduamente por Ávalos.

Em frente:

Já discuti extensamente a falácia de conceber a violência estalinista em termos de ateísmo. A maior parcela da violência estalinista resultou da coletivização forçada, e documentos publicados recentemente mostram a cumplicidade das autoridades clericais com a agenda estalinista. D’Souza não fornece um único documento ou declaração de Stalin mostrando que ele estava coletivizando ou assassinando por razões ateístas.

A defesa de Ávalos só faria sentido se ele comprovasse que as mortes da Inquisição, por exemplo, fossem causadas por “razões teístas”. Percebam que até o momento Ávalos prossegue com os erros de Dinesh, e os amplia, tentando a todo tempo confundir o leitor com manipulação indevida de categorias.

Vamos corrigir a bagunça:

  • Cristianismo está para o humanismo assim como o teísmo está para o ateísmo
  • Teísmo e ateísmo não podem ser acusados de nada, pois não são cosmovisões e/ou ideologias
  • Cristianismo e humanismo, por sua vez, devem ser objeto do exame crítico em termos de cosmovisão, ideologia e/ou consequências políticas

O truque de afirmar “cumplicidade das autoridades clericais com a agenda estalinista” é obviamente uma falácia extremamente desonesta. Recentemente, Edir Macedo apoiou a agenda do governo Lula. Para alguém desonesto como Ávalos, isso seria uma prova de que o “cristianismo tem responsabilidade pelo governo Lula”. É, gente, eu avisei que Ávalos era um rei da baixaria neo ateísta. Eu não estava exagerando.

O fato é que o stalinismo é um sistema humanista, de crença no homem, e nisso oposto ao pensamento cristão. Se Stalin não estava coletivizando ou assassinando por razões ateístas, com certeza o fazia por razões humanistas.

Mais baixarias à frente:

Além disso, o comunismo, entendido como um sistema de propriedade coletivizada, é uma noção bíblica já encontrada em Atos 4:32-37. Esse sistema comunista cristão também resultou no assassinato de um casal (Atos 5:1-11) que quebrou sua promessa de renunciar à suas posses. Portanto, o princípio de matar os que não se resignassem à coletivização de suas propriedades é bíblico.

No texto “O Deuteronômio manda você matar… segundo Sam Harris”, já desmascarei o truque tentado acima. Nesse caso, é uma variação comunista,para fingir que a Bíblia DERIVA no comunismo. O fato é que a Bíblia narra muitos eventos, e não há nenhuma orientação para que as pessoas REPRODUZAM esses eventos em suas vidas. Nos tempos em que era cristão, eu sabia que as orientações cristãs eram os 10 mandamentos, e vários eventos estavam citados na Bíblia para servirem como ensinamentos, mas não orientações para “reprodução de eventos”. Enquanto Ávalos não trouxer trechos bíblicos dizendo algo como “Um casal foi assassinado por não renunciar às suas posses, e todo cristão deverá assassinar casais que não fizerem essa renúncia”, a tentativa de Ávalos de definir o comunismo como algo endossado pelo cristianismo não passa de uma deslavada mentira.

O próximo truque é sensacionalmente engraçado:

Além disso, D’Souza não possui a competência necessária para avaliar as alegações de violência maoísta porque tal tarefa requer um treinamento extensivo na língua e nos documentos chineses para averiguar a acurácia das informações fornecidas pelas fontes inglesas. Como eu também careço de especialização no idioma e na cultura chinesa para avaliar a violência maoísta, não abordarei o maoísmo aqui. O que sabemos é que D’Souza não apresenta uma única citação de Mao ou mesmo de algum documento chinês traduzido para respaldar suas asserções de que Mao assassinou por causa do ateísmo.

Ou seja, o “não conhecimento” do dialeto chinês permite que eventos ocorrido na China não possam ser investigados (!!!). Essa é provavelmente a maior “sabonetada” que vi em muito tempo. Livros com “Mao, A História Desconhecida” narram em detalhes as atrocidades de Mao. Foram escritos em chinês e traduzidos para o inglês, português…

Só uma correção: realmente Mao não assassinou por causa do ateísmo, mas do humanismo.

Abaixo, a promessa de Ávalos:

Na verdade, demonstrarei que:

  • O Holocausto nazista, em vez de resultar de algum tipo de ateísmo darwinista, é efetivamente a mais trágica consequência de uma longa história de racismo e antijudaísmo cristãos.
  • O Nazismo assassinou pessoas por sua etnicidade ou religião seguindo princípios enunciados na Bíblia.

E, nesta refutação, demonstrarei que:

  • O Holocausto nazista realmente não resulta de algum tipo de ateísmo darwinista, mas é a consequência óbvia de uma longa história de genocídios do humanismo
  • O humanismo assassinou pessoas por que eram bodes expiatórios, sendo uma consequência natural desta técnica (a de elencar bodes expiatórios que atrapalhiam projetos de “remodelação de mundo”)

Para começar seu ataque, Ávalos faz novamente uma interpretação desonesta do texto de Dinesh:

De acordo com a Convenção das Nações Unidas contra o Genocídio (também chamada de Primeira Convenção de Genebra), o termo genocídio descreve “atos cometidos com o objetivo de destruir, parcial ou totalmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Não existe nenhuma distinção ética entre assassinar um grupo religioso ou um grupo étnico. Não existe nenhuma distinção ética entre assassinar um grupo racial ou um grupo nacional. Todos são igualmente proibidos pelos padrões das Nações Unidas. Isto é importante porque D’Souza muitas vezes tenta atenuar a violência religiosa alegando, geralmente sem respaldo documental, que alguns atos atribuídos à violência religiosa são na verdade casos de violência étnica ou racial.

Ávalos tentar apelar aos padrões das Nações Unidas não passa de um discurso patético. É uma mistura de distinção de emergência (estratagema erístico) com apelo à autoridade. É como se as definições das Nações Unidas para genocídio fossem a DEFINIÇÃO OFICIAL. Tudo bem que como humanista e adepto do governo global, Ávalos talvez tente convencer sua patuléia de que “Se o órgão das Nações Unidas falou, está falado”.

Se o truque do apelo à autoridade (Nações Unidas), está descartado, é irrelevante ele apresentar a definição das Nações Unidas como prova.

Nesse truque de simular a definição das Nações Unidas como se fosse a definição oficial, ele tenta dizer dizer que violência étnica é igual a violência racial e/ou religiosa. Na verdade, a distinção existe sim, embora a definição de genocídio englobe todas as categorias. O fato é que atingir um grupo pelo fato de pertencer a um grupo nacional diferente é totalmente diferente de atingi-lo por causa de sua religião.

Richard Dawkins até tentou argumentar em “Deus, um Delírio” que, sem religiões diferentes, não haveriam divisões entre as pessoas, mas isso só demonstra uma ignorância cabal do processo gregário nas espécies. Na verdade, religião é apenas um motivo de divisão, e, sem esse motivo, a espécie encontrará outros. Portanto, a afirmação de Ávalos dizendo que “D’Souza falha em ver que a etnicidade pode ser criada e/ou exacerbada por diferenças religiosas” não faz o menor sentido. E quando ele diz “não é possível dissociar religião e etnicidade tão facilmente quando D’Souza tenta fazer”, podemos refutar facilmente mostrando vários outros motivos para o gregarismo que não a religião.

Por isso, uma violência cometida por motivos étnicos e/ou nacionais, não é o mesmo que uma violência cometida por motivos religiosos. Nesse ponto, Dinesh acerta, enquanto Ávalos, como sempre, está errado.

Sigamos:

D’Souza também ressalta mais os números do que o princípio ético de que é errado assassinar grupos de seres humanos em virtude de sua raça, etnicidade, nacionalidade ou religião. Mas se, como D’Souza aparentemente pensa, o genocídio é sempre condenável, então os números não importam tanto quanto o princípio. Se D’Souza não pensa que o genocídio é sempre condenável, então ele não é menos relativista moral do que os ateus, e agora teríamos somente suas razões arbitrárias para justifica-lo.

Aqui é outro truque. É claro que os números importam. Se estamos estudando as consequências de algo, obviamente 10 pessoas contaminadas pela gripe é algo diferente de 150.000 pessoas. Ou será que Ávalos quer reescrever a forma pela qual as organizações de saúde trabalham? A crença no homem, trazida pelo humanismo, traz autoridade moral que HABILITA o aumento de crimes, e por isso essas consequências são importantes. O erro de Dinesh foi, como já citei, apenas associar as mortes ao ateísmo. Se associasse as mortes ao humanismo, seria irrefutável. É o que estou fazendo aqui.

Portanto, a única coisa que D’Souza conseguiu foi mostrar que o Cristianismo não é moralmente superior em seus princípios de genocídio. Cristãos podem e tem procurado assassinar grupos inteiros de pessoas. É um mero acidente histórico que os saldos dos regimes ateístas sejam maiores em comparação com os regimes cristãos, mesmo se concedermos a tese errônea de que Hitler representou um regime ateísta.

Como sempre, Ávalos distorce as coisas. Dinesh estudava os regimes por sua PERICULOSIDADE. Então, uma doença que contamina 10 pessoas e as mata é diferente de uma que contamina e mata 150.000. Se o “caso” dos neo ateus para dizer que a religião é “perigosa” envolve citar vítimas, para denunciar o humanismo como muito mais perigoso basta citarmos todas as vítimas de Stalin, Mao e  Hitler. E mais ainda, as vítimas de Pol Pot, Castro, etc.

Agora, Ávalos tenta o que parecia ser sua “causa mor”: o de imputar ao cristianismo a culpa pelo nazismo. O truque se baseia em dizer que Lutero era contra os judeus, portanto o cristianismo era contra os judeus. Vejamos como ele começa:

Ao contrário da polêmica tese defendida por D’Souza de que o nazismo é uma “filosofia antirreligiosa”, o nazismo na verdade é um capítulo da longa história do antijudaísmo cristão. O nazismo não representa um desvio radical das atitudes dos cristãos tradicionais em relação aos judeus. Isto é reconhecido pelo historiador católico Jose M. Sanchez: “Há poucas dúvidas de que o Holocausto remonta à milenar hostilidade dos cristãos contra os judeus“.

Essa tese não se sustenta pelo fato de que sistemas cristãos deveriam ter provocado holocaustos judeus semelhantes MUITO ANTES de Hitler, que não era cristão (embora adotasse uma visão de Deus que remonta a cultura viking, dentre outras). Além do mais, a hostilidade de ALGUNS cristãos (da turma de Lutero) contra os judeus se deviam à questões políticas momentâneas, mas nem de longe à projetos de “salvação de mundo”. Lutero, por exemplo, não prometia em momento algum criar um mundo melhor sem os judeus. É por isso que o Holocausto judeu só veio a ocorrer em um governo humanista, mas não em governos anteriores, que estavam distantes do humanismo.

Em relação ao texto “Sobre os judeus e suas mentiras”, de Lutero (que pode ser visto aqui), Ávalos tenta dizer que ele é “responsável” pelo Holocausto. Não há evidências disso, pois não temos casos históricos de genocídios judeus provocados pelos sistemas cristãos. Mas uma investigação dos sistemas humanistas, nos mostra que pouco antes, entre 1918 e 1922, já tínhamos genocídios humanistas causados pelos russos, incluindo a grande fome russa de 1921, que matou 5 milhões de pessoas. Na verdade, vários genocídios humanistas vieram antes, incluindo aqueles cometidos na Revolução Francesa.

Voltando ao nazismo, o que podemos notar é que Hitler usou como um pretexto um texto de Lutero (dentre muitos outros), mas sem este texto iria arrumar um outro qualquer. Para piorar a questão de Ávalos, uma questão pessoal de Lutero contra os judeus não implica no “cristianismo contra os judeus”. É por isso que podemos chamar Hector Ávalos e os neo ateus de mentirosos, mas isso não implica no ateísmo como mentiroso.

Ávalos segue:

Os cristãos católicos possuem uma história ainda mais longa de antijudaísmo. O décimo-sexto canône do Concílio de Elvira (ca. 306), por exemplo, proibiu o casamento entre judeus e cristãos. De modo que as leis de Nuremberg nazistas, que proibiram o casamento entre alemães e judeus, são uma mera extensão de uma tradição cristã, não uma ruptura radical, como D’Souza quer nos fazer crer. Não obstante o antijudaísmo remontar ao NT, é na Idade Média que começamos a testemunhar alguns dos mais brutais e sistemáticos ataques cristãos contra os judeus. Em parte, a codificação do cânone legal católico foi responsável por uma política mais uniforme em relação aos judeus. E apesar das migalhas de tolerância mostradas esparsamente no cânone legal, a realidade é que os judeus foram expulsos da Inglaterra em 1290 e da França em 1306. Por volta de 1492, como se sabe, a Espanha também expulsou os judeus.

Aqui novamente, um truque. Comparar expulsões de judeus por questões de divergência política é apelar a um expediente, novamente, baixo demais. Nenhum desses eventos resultou, por exemplo, em qualquer tipo de genocídio judeu, o que torna a comparação inválida. Aliás, a “proibição de casamento entre judeus e cristãos” não tem nada a ver novamente com Holocausto. Os próprios judeus atuais defendem que judeus só se casem com judeus, ou pessoas que tenham se convertido ao judaísmo. Neste parágrafo de Ávalos, o que tivemos foi apenas estratagemas de ampliação indevida, que só podem ser entendidos como piada, mas não como trabalho histórico sério.

Mais ampliações indevidas seguem abaixo:

De qualquer maneira, a Primeira Cruzada, que tencionava libertar a Terra Santa do domínio muçulmano, deu origem a uma nova onda de violência sistemática contra os judeus. A primeira cruzada foi proclamada em 1095, e os primeiros contingentes começaram sua viagem em direção ao leste em 1096. Estes contingentes, compostos majoritariamente por leigos, foram responsáveis pela maior parte da violência antijudaica. Hordas de “cruzados” tomaram de assalto cidades como Colônia, Mainz e Worms, e deixaram cerca de 3 mil judeus mortos.

Aqui, novamente a fraude intelectual de Ávalos fica clara. Hordas de “cruzados” tomaram de assalto não só cidades habitadas por judeus como também cidades habitadas por islâmicos. Aliás, tomaram cidades habitadas por cristãos. Portanto, as “cruzadas” não podem ser classificados como um movimento anti-judaico nos mesmos moldes que o Nazismo, que tem como maioria de suas vítimas… os judeus. Ainda mais à frente vemos que as coisas não são bem como Ávalos afirma:

Vários dos judeus capturados nestes pogroms recusaram-se a se converter ao Cristianismo. Segundo os relatos judaicos, a seguinte justificativa para o martírio foi proferida: “Depois de tudo, não há dúvidas dos caminhos do Santíssimo, louvado seja… Que nos deu Sua Torá e nos ordenou que permitíssemos que fôssemos mortos e chacinados em testemunho da Unicidade de Seu Santo Nome. Felizes estamos se satisfazemos sua vontade e feliz é aquele que tomba e morre atestando a Unicidade de Seu Nome.”

Agora o truque é mais apelativo ainda. A parte entre aspas é citada a partir do livro “The Jews and the Crusades: Hebrew Chronicles of the First and Second Crusades”, de Shlomo Eidelberg, que não fala dos Cruzados, mas de grupos de saqueadores que não tinham autorização da monarquia e nem dos papas para agir. E a própria justificativa de morte por “não conversão” não tem muita sustentação arquivística. O que mais aparenta é que um grupo judeu foi atacado por saqueadores, e tentou dar um tom heróico à sua morte. Mas, se os ataques surgiram a partir de grupos não ligados à religião, as mortes não podem ser atribuídas ao cristianismo.

Estes judeus, vitimados pelos cristãos, certamente viram o ódio que lhes era dirigido como enraizado na religião. A defesa de D’Souza de que pelo menos os judeus medievais poderiam ter se convertido, ao contrário da situação na Alemanha Nazista, fracassa pelos padrões das Nações Unidas. É proibido exterminar qualquer grupo baseado em sua etnicidade ou religião, de modo que a oportunidade de se converter não faz a menor diferença.

Como mostrei antes, não há evidências de que os ataques feitos aos judeus teriam sido provocados por questões religiosas. Na verdade, eram disputas territoriais. Como se nota, Ávalos mente em repetição para tentar convencer a platéia por desistência.

Sabemos que existe uma diferença lógica entre deixar de matar alguém que propõe se converter ao seu grupo gregário com matar alguém sem lhe dar esta chance. Isso é conhecido desde as guerras tribais, em que os habitantes vencidos de uma tribo aceitam bandear para a outra tribo, multiplicando o exércido da tribo conquistadora. Hitler não deu essa chance aos judeus, mostrando que o ódio era tão profundo que não aceitaria conversões.

[...]Por outro lado, os leigos podem ter agido da maneira como o fizeram por causa de palavras como as do Papa Inocente III, que no dia 9 de Outubro de 1208 expediu ao rei da França Philip II Augustus o seguinte édito a respeito dos hereges e dos judeus: “A fim de que a Santa Cidade de Deus, disposta como uma assustadora frente de batalha, possa prosseguir contra seus mais cruéis inimigos, exterminar [ad exterminandum] os seguidores de heresias abomináveis, que como um verme ou uma úlcera, infectaram a província inteira, formamos guarnições de soldados cristãos a serem convocados juntos…. Observe que, mesmo que nem sempre obedecidas literalmente, a idéia de extermínio de grupos de pessoas (hereges, judeus) já está lá, bem como o uso da linguagem genocida medicalizada (“úlcera… infectaram”) compartilhada com o nazismo.

Acima, outra fraude intelectual. Na verdade, os judeus nem de longe eram vistos como um grupo representativo a ser exterminado na época da Inquisição, conforme já demonstrei aqui. As ordens do Papa Inocente III mencionam “seguidores de heresias abomináveis”, mas não faz menção específica alguma aos judeus. Note que em seguida, Ávalos tenta usar o truque da manipulação ao dizer “a idéia de extermínio de grupos de pessoas (hereges, judeus) já está lá”. Não, não estava idéia de extermínio de judeus. Mentir é feio, Ávalos.

Já o extermínio de grupos rivais existia muito antes dessa declaração do Papa Inocente III, portanto não se pode definir um mero extermínio a grupos rivais como a origem do sistema que criou a campanha Nazista.

E qual a diferença específica do nazismo? Simples. É uma proposta humanista, de salvação do mundo, com a definição de bodes expiatórios (no caso, os judeus). É como os marxistas fizeram, propondo salvar o mundo, definindo os burgueses como bodes expiatórios. E é como os humanistas atuais fazem, propondo salvar o mundo, definindo os religiosos tradicionais como bodes expiatórios. Ou seja, Hitler apenas seguiu um humanismo igual ao de Héctor Ávalos, não uma filosofia do cristianismo, que sempre foi modesta em suas ambições de domínio territorial.

O fato de que Hitler via o que ele estava fazendo como uma continuação da política católica é confirmado por uma conversa que ele teve em 26 de Abril de 1933, com Hermann Wilhelm Berning, bispo de Osnabriick, Alemanha. De acordo com um relatório registrado nos Documentos sobre a Política Externa Alemã: “[Hitler] então trouxe à baila a questão judaica. Justificando sua hostilidade para com os judeus, ele referiu-se à Igreja Católica, que igualmente sempre considerou os judeus como indesejáveis e que em virtude dos perigos morais envolvidos proibiu os cristãos de trabalhar para os judeus. Por estas mesmas razões a Igreja baniu os judeus para o gueto. Ele via os judeus como nada além de inimigos perniciosos do Estado e da Igreja e, por essa razão, quis exclui-los cada vez mais, sobretudo dos cargos públicos e da vida acadêmica”.

Notem o nível da baixaria. Como não consegue uma fonte primária para validar sua argumentação, ele apela ao “hearsay”. Significa “ouvi dizer”. Toda a parte entre aspas não está em uma declaração formal de Hitler. Também não está em documentos oficiais. Está em uma declaração contida em um relatório narrando uma “suposta conversa” entre Hitler e Berning. Mas e as evidências dessa conversa? Ela foi gravada? Infelizmente, não serve como prova. O fato de Ávalos ter apelado à evidências anedotais confirma a má intenção de sua empreitada. Em relação à alegação acima, como sempre, é fácil refutá-la.

Sigamos:

Conforme sumarizado pelo renomado historiador do Holocausto Guenter Lewy, “Hitler simplesmente estava fazendo o que a Igreja havia feito por 1500 anos.” Na verdade, Hitler simplesmente dispunha de tecnologias e logísticas muito superiores para fazer o que os cristãos medievais quiseram fazer aos judeus. Também haviam muito mais judeus vivendo na Alemanha na época de Hitler. Portanto, D’Souza deveria estar contando os acréscimos nas populações-alvo, não apenas as populações como um todo, para avaliar a proporcionalidade da violência ateísta e religiosa.

Guenter Lewy era um historiador de esquerda, também conhecido por suas críticas à ação norte-americana no Vietnã. Uma fonte duvidosa, no mínimo. E a própria Igreja Católica já refutou as alegações de Lewy. Usar declaração de esquerdista, sem evidências, simplesmente não é uma evidência de nível sequer razoável.

Mais patético ainda é dizer que Hitler só “conseguiu matar” por causa de “tecnologias e logísticas muito superiores para fazer o que os cristãos medievais quiseram fazer aos judeus”.

Como já mostrei aqui, não há evidência alguma de tentativa de extermínio dos judeus, por parte dos cristãos. Aliás, uma prova disso é que nações essencialmente cristãs foram as que lutaram para condenar os alemães pelos crimes cometidos contra os judeus na Segunda Guerra Mundial.

Quanto à afirmação de que Hitler só conseguiu matar por “tecnologias e logísticas” superiores é uma piada sem igual. Na verdade, uma tecnologia de morte superior pode ser exemplificada no caso da bomba atômica, por exemplo, pois com uma bomba de larga potência foi possível matar mais pessoas do que com bombas menores. Mas no caso de extermínios em campos de concentração, isso é irrelevante. Se Hitler usasse facões para matar os judeus, conseguiria matar tantos quantos matou com câmaras de gás. Portanto, isso de “Hitler matou mais só por causa de tecnologia” é que poderíamos chamar de prosopopéia flácida para acalentar bovinos. Em português claro, conversa mole pra boi dormir.

D’Souza levanta a polêmica tese de que o nazismo foi uma “filosofia antirreligiosa”, mas oferece escassas evidências incontestáveis para esta alegação. Se desejamos conhecer motivos, um procedimento razoável é buscar as razões que as pessoas oferecem para o que fazem. Se seguirmos este procedimento, então a seguinte declaração de Hitler no Mein Kampf é bastante relevante: “Por isso hoje acredito que estou agindo em concordância com a vontade do Criador Todo-Poderoso; ao me defender contra o Judeu, estou lutando pela obra do Senhor.”

O estranho é que antes Ávalos dizia que provaria que o massacre de judeus é oriundo do cristianismo. Agora mostra Hitler falando de “obra do Senhor”, mas sem mencionar o cristianismo. A enrolação dele é evidente.

Mas uma coisa eu concordo. O nazismo não foi uma filosofia anti-religiosa. Foi uma filosofia religiosa, mas não da religião tradicional, e sim da religião política. A mesma pela qual Ávalos nutre fé apaixonada.

A coisa vai ficar mais divertida a seguir:

Mas D’Souza descarta a declaração de Hitler como evidência de que Hitler realmente pretendeu dizer o que disse. Em vez disso, D’Souza sugere que uma fonte melhor para os pensamentos de Hitler sobre a religião é Allan Bullock, autor de um livro chamado Hitler e Stalin: Vidas Paralelas, de 1993. Conforme D’Souza expressa em suas palavras: “‘Desde a mais tenra idade’, o historiador Allan Bullock escreve, ‘Hitler não dedicou tempo algum ao catecismo católico, considerando-o uma religião adequada somente para escravos e detestando sua ética.”  Esta é claramente uma tática de esquiva, já que D’Souza não explica porque Bullock sabe o que Hitler pensava melhor do que o próprio Hitler.

De novo, Ávalos tenta enrolar o leitor. D’Souza tirou a associação das idéias de Hitler com o catolicismo, e não com uma suposta crença em Deus. Ávalos somente estaria correto se única forma de crença em Deus fosse pelo catolicismo, e sabemos que não é. Assim como a única forma de gostar de futebol não é torcer pelo Flamengo. Ademais, depois do deísmo e do panteísmo, citações à Deus nem sempre encontram ressonância em explicações sobrenaturais, como podem inclusive mencionar um arquétipo da mente humana. Pelo humanismo de tom secular de Hitler, é evidente que ele pode mencionar a “vontade do Senhor” sem estar atrelado a religiões tradicionais.

Portanto, D’Souza não diz que Bullock sabe o que Hitler pensava melhor do que o próprio Hitler. Bullock apenas explicou o que Hitler disse sem os truques desonestos de retórica cometidos por humanistas como Ávalos.

Além disso, mesmo se Hitler detestasse os ensinamentos católicos, D’Souza confunde ateísmo com anticatolicismo. E a citação acima não é a única em que Hitler invoca Deus, a religião ou o Cristianismo para explicar suas idéias políticas no Mein Kampf. Hitler também declarou: “Pois a vontade de Deus deu aos homens sua forma, sua essência e suas habilidades. Qualquer um que destrua Sua obra está declarando guerra à criação do Senhor, a vontade divina.” No encontro com Berning, Hitler insistiu que “nem uma vida pessoal nem uma nação poderia ser construída sem o Cristianismo.”

Em uma das raras verdades de Ávalos, ele afirma que D’Souza confunde “ateísmo com anticatolicismo”. Na verdade, o correto seria D’Souza demonstrar que Hitler era humanista, e esta ideologia é em essência anticatólica. É por isso que não há diferença conceitual entre Dawkins, Ávalos, Stalin e Hitler. Todos são humanistas. São ateus por serem inimigos da religião tradicional, mas esse tipo de ateísmo raivoso é consequência do humanismo secular, não do ateísmo. Tanto que sou ateu e não demonstro o mesmo ódio pela religião tradicional que Hitler e Ávalos possuem.

O livro “Deus, um Delírio”, de Richard Dawkins chega a trazer declarações de Hitler em 1941 com o seguinte tom: “O pior golpe que já atingiu a humanidade foi a chegada do cristianismo. O bolchevismo é o filho ilegítimo do cristianismo. Ambos são invenções dos judeus. A mentira deliberada na forma de religião foi introduzida no mundo pelo cristianismo [...] O mundo da Antiguidade era tão puro, leve e sereno porque não conhecia duas grandes escórias: a varíola e o cristianismo. Falando francamente, não temos motivo para desejar que os italianos e os espanhóis se libertem da droga do cristianismo. Sejamos o único povo imunizado contra a doença.”

O que, definitivamente, implode todas as tentativas de Ávalos em associar Hitler ao cristianismo, mas segue permitindo que o associemos ao humanismo, pois as declarações dele contra o cristianismo são semelhantes àquelas dos anti-clericaristas mais raivosos do Iluminismo.

Outra tentativa de evitar as implicações óbvias das declarações de Hitler é o apelo de D’Souza ao aspecto propagandístico do Mein Kampf. D’Souza alega que “o próprio Hitler diz no Mein Kampfque suas declarações públicas deveriam ser interpretadas como mera propaganda que não guarda a menor relação com a verdade, sendo antes planejadas para exaltar as massas.” D’Souza não cita um trecho direto de Hitler para esta alegação e apenas nos remete às páginas 177-85 do Mein Kampf, o que mais uma vez reflete um péssimo trabalho de pesquisa histórica. D’Souza parece não notar que esta generalização grosseira sobre o Mein Kampf não guardar “nenhuma relação com a verdade” cria um caso de incoerência autorreferencial. Se a propaganda de Hitler sempre esconde a verdade, então segue-se que o próprio enunciado sobre como ele estava usando a propaganda deve ser falso. E Hitler não acreditou realmente que os judeus são malignos porque o que ele diz no Mein Kampf não possui relação alguma com a verdade? Em vez disso, um procedimento histórico superior é interpretar literalmente os enunciados de um autor sobre suas próprias crenças a menos que o contrário seja provado. Nada do que Hitler disse desmente que ele acreditou estar fazendo a vontade de Deus.

Acima, temos apenas um parangolé desesperado. Lembremos que nada do que Hitler disse desmente que ele acreditou estar fazendo a vontade de Deus, mas não define que Deus seja conforme os religiosos tradicionais apregoam. Aliás, até o budismo define uma variação de Deus conforme o ateísmo. Mas com certeza, nada do que Hitler disse não desmente que ele acreditou estar levando o mundo a um estágio superior com sua eugenia, em um projeto claramente humanista.

O fato de “não guardar nenhuma relação com a verdade” é simplesmente o truque esquerdista que Lenin apregoou anteriormente. Basta dizer uma mentira várias vezes e esperar que ela se torne verdade. Isso é o que Hitler confessou fazer no Mein Kampf, ao invés de pedir para “desconsiderarem tudo que ele escreveu”, de forma que podemos catalogar este truque de Ávalos como um estratagema de ampliação indevida.

Além disso, D’Souza deixa inexplicado por que Hitler teria pensado que sua retórica antijudaica poderia comover as massas a menos que as massas fossem receptivas a uma mensagem antijudaica. Isto é importante porque as massas das quais D’Souza fala se autoidentificavam majoritariamente como cristãs. Por exemplo, um relatório nazista indica que por volta de 1938, 51,4% dos membros da SS foram identificados como protestantes, 22,7% como católicos, e 25,7% como “crentes em Deus” (Gottglaubigen). Como o antijudaísmo não encontra-se associado às obras do próprio Darwin, trabalhar tendo como pano de fundo uma história de antijudaísmo cristão seria muito mais efetivo no convencimento das massas cristãs.

Agora ele mudou de truque. Aqui ele passa a considerar o pretexto como a causa raiz. Pode até ser possível que Hitler tenha POTENCIALIZADO E ALTERADO a rivalidade entre cristãos e judeus (que era exclusivamente ideológica) para uma questão étnica, mas isso não torna o cristianismo responsável por isso. É como no exemplo que eu trouxe do fato da expressão “Sou professor” ter atingido politicamente um gerente. A culpa não é da expressão, que foi usada apenas como um pretexto, mas sim do uso político de uma expressão, adaptado a um contexto organizacional. Tecnicamente, a raiva de Hitler contra os judeus é similar àquela propagada por Lenin e Marx contra os burgueses, ou mesmo àquela propagada por Ávalos e Dawkins contra os cristãos e demais religiosos tradicionais. Os alvos de ódio são escolhidos pelo poder que tem e o risco destes grupos atingirem os objetivos de obtenção de poder dos totalitários.

Portanto, a tentativa de dizer que Hitler SÓ CONSEGUIU atacar os judeus por causa de uma grande quantidade de cristãos é obviamente uma grande bobagem.

A parte do “cristianismo positivo”, a seguir, amplia o grotesco do OANI (Objeto Argumentativo Não Identificado) de Ávalos:

Outro aspecto do nazismo que D’Souza descarta sem muita investigação é a idéia nazista do Cristianismo Positivo. A primeira ocorrência do termo remonta ao ponto 24 do Programa do Partido Nazista de 1924, que diz: “O Partido enquanto tal reflete o ponto de vista de um Cristianismo Positivo não limitado confessionalmente a qualquer denominação específica. Ele combate o espírito materialista judaico.” Mais uma vez, o antijudaísmo foi um de seus principais pilares, o mero resultado de uma longa história de antijudaísmo cristão. Nesse sentido, mais uma vez, o nazismo não é um desvio radical do Cristianismo historicamente ortodoxo.

Resumindo a palhaçada acima. Ávalos tenta convencer o leitor de que uma idéia deturpada, a partir de uma idéia original, responsabiliza a idéia original. É mole? O cristianismo positivo, definido no Programa do Partido Nazista, mostra simplesmente a tentativa de um truque similar à Teologia da Libertação, uma deturpação do cristianismo para tentar enrolar um povo essencialmente cristão. O cristianismo não é culpado nem pela Teologia da Libertação e nem pelo Cristianismo Positivo.

Repetindo: uma idéia deturpada, a partir de uma idéia original, não culpa a idéia original por sua deturpação. Não existe uma argumentação lógica de Ávalos a favor de que uma idéia deturpada responsabiliza a idéia original pela deturpação. Simplesmente, não dá. Baixar o nível tem limites, Ávalos!

Quem ler O Mito do Século XX, um tratado sobre o nazismo escrito por Alfred Rosenberg, a quem é atribuída a autoria do Programa do Partido de 1920, entenderá que ele concebia o Cristianismo Positivo como uma restauração dos ensinamentos puros e originais de Cristo. De fato, Rosenberg nos diz que a vida de Cristo é o que deveria ser siginificativo para os alemães. Rosenberg repudiou a idéia do sacrifício de Cristo como uma corrupção judaica, e via Jesus como uma figura cuja verdadeira obra, o amor à própria raça, foi distorcida pela cristandade organizada num amor universal, em vez de um amor restrito ao grupo racial a que se pertence (sobretudo em sua interpretação de Levítico 19:18 e 25:17).

Toda a parte acima deixa evidene que o cristianismo positivo é deturpação absoluta do cristianismo, portanto a cada tentativa Ávalos vai atirando no próprio pé ao usar tais citações.

Sim, Rosenberg sincretizou os conceitos cristãos encontrados no NT com mitos germânicos, e mitos de sua própria criação ou adaptação. Mas em que a exegese bíblica e o sincretismo de Rosenberg diferem do que outros autoproclamados cristãos estiveram fazendo ao longo da história? Com efeito, vários estudiosos defendem exatamente que o Cristianismo foi o resultado da combinação de idéias judaicas com outras helenísticas. Ao conceberem a si próprios como restauradores do Cristianismo primitivo, os cristãos positivos não foram menos cristãos do que os primeiros luteranos ou anabatistas. Na verdade, o Cristianismo Positivo possui precursores ilustres dentre os primeiros cristãos que rejeitaram o judaísmo. Estes incluem Marcião (segundo século), o cristão gnóstico que repudiou o Antigo Testamento (AT) por inteiro, e promoveu um cânone consistindo apenas de um Evangelho de Lucas expurgado e algumas das epístolas paulinas. O marcionismo repetiu-se na história cristã, especialmente entre alguns grupos anabatistas e teólogos cristãos (por exemplo, Friedrich Schleiermacher).

Vejam o nível da bizarrice. No mundo humanista “freak” de Ávalos, se um darwinista criar uma versão bizarra do darwinismo misturado com criacionismo, ele passa a ser tão darwinista quanto alguém que acredita no darwinismo original. Qual o critério? Basta declarar ser darwinista. Vamos adaptar os truques de Ávalos para essa possibilidade: “Com efeito, vários estudiosos defendem exatamente que o Darwinismo foi o resultado da combinação de idéias de Lamark e Wallace. Mas os darwinistas criacionistas da Terra Jovem, ao conceberem a si próprios como restauradores do darwinismo original, não foram menos darwinistas do que os primeiros adeptos da teoria de Darwin, ou mesmo os posteriores, como Stephen Jay Gould”.

O padrão do truque é maquiar os fatos para FINGIR que a idéia deturpada é tão legítima quanto a original, inclusive no uso do rótulo da idéia original. Qual o critério para isso? É repetir à exaustão. Que Ávalos tenha baixado o nível a esse ponto, é algo que não me surpreende. Me surpreende é o fato do blog Rebeldia Metafísica ter considerado truques assim como o grande trunfo na causa anti-cristã dele.

D’Souza também deixa de dizer a seus leitores que antes do Papa Pio XI se distanciar do nazismo em sua famosa encíclica de 1937 (Mit Brennender Sorge/ “Com Ardente Pesar”), esse mesmo Papa assinou, “na época”, em 1933, um pacto com os nazistas, que Hitler inclusive apreciou como um inestimável auxílio para levar adiante sua “batalha contra a judiaria internacional (‘der kampf gegen das internationale judentum‘)”. E observem como D’Souza não questiona se o Papa Pio XI teve motivos políticos em vez de sublimes motivos humanitários para sua reprovação aos nazistas em 1937. D’Souza não indaga se Pio XI realmente pretendeu dizer o que ele disse, como faz quando Hitler afirma estar acatando a vontade de Deus. No entanto, quando se lê essa encíclica de 1937, o Papa Pio XI admite fazer acordos com a Alemanha Nazista:  “Quando, em 1933, consentimos, venerável Brethren, em abrir negociações por um pacto, que o governo do Reich propôs como base de um programa de muitos anos de colaboração… Estávamos propensos pela vontade, como nos é próprio, de assegurar à Alemanha a liberdade da missão beneficente da Igreja e a salvação das almas sob seus cuidados, bem como pelo desejo sincero de prestar ao povo alemão um serviço essencial para seu desenvolvimento pacífico e prosperidade. Assim, apesar de várias e graves dúvidas e inquietações, decidimos então não recusar nosso assentimento pois foi nosso desejo poupar os devotos da Alemanha, na medida em que fosse humanamente possível, dos julgamentos e dificuldades que eles teriam que enfrentar, dadas as circunstâncias, houvessem as negociações malogrado.” Por que isso não se qualificaria como uma manobra política, já que almeja proteger os interesses de um grupo distinto (católicos)? Por que não podemos  também dizer que a hierarquia do Vaticano não pretendeu dizer o que disse em 1937? E será que nenhum dos conselheiros do Papa estava familiarizado com o Mein Kampf, que fora publicado aproximadamente uma década antes de 1933?

Nota-se que a medida que o texto vai caminhando, Ávalos vai baixando cada vez mais de nível.

Se Pio XI, com a encíclica de 1937, tentou proteger os interesses de um grupo distinto (católicos), as associações humanistas vão proteger os interesses dos humanistas, as associações ateístas vão proteger os interesses dos ateus, oras. Portanto, Ávalos não tem um “caso” a favor da tese de que “cristianismo causou o Holocausto”.

Quando ele questiona “ E será que nenhum dos conselheiros do Papa estava familiarizado com o Mein Kampf, que fora publicado aproximadamente uma década antes de 1933?”, isso também é irrelevante, haja vista que até as declarações de Gramsci foram consideradas irrelevantes pelos militares brasileiros. Isso não torna os militares brasileiros CONIVENTES com os terroristas. No máximo, isso permitiria uma crítica em relação à estratégia de atuação.

Enfim, qualquer tentativa de citar Pio XI, já foi devidamente refutada e é um truque dos mais baixos. Que Ávalos tente esse mesmo recurso à essa altura do campeonato, isso pode ser um sintoma de que seus leitores realmente não tem mais senso crítico para discernir fatos de uma propaganda anti-religiosa barata.

Na verdade, Diego Von Bergen, o embaixador do Reich na Santa Sé, relatou que enquanto o Papa estava dizendo uma coisa, Eugenio Pacelli, o cardeal secretário do Vaticano e o homem que se tornaria o Papa Pio XII, prometeu que “relações normais e amistosas… seriam reestabelecidas o mais cedo possível” entre o Vaticano e os nazistas após essa encíclica. De fato, por volta de 1939, o arcebispo Cesare Orsenigo, o núncio para Berlim, estava atarefado  abrindo uma recepção de gala para o quinquagésimo aniversário de Hitler. Isso encerra a questão do suposto repúdio da Igreja Católica ao regime nazista.

Quer dizer, se uma organização católica faz uma recepção aos líderes políticos do país (como é de praxe isso ocorrer), então passa a se coadunar com TODOS OS OBJETIVOS do regime político. De novo, mais um salto indutivo completamente desonesto de Ávalos, encerrando a questão de termos ou não dúvidas de que ele é um humanista perfeito. Raros teriam a cara de pau de mentir tanto. Lenin, como já disse, estaria orgulhoso.

Agora, ele tentará impugnar as Conversações Informais, de Hitler:

Os problemas com as Conversações Informais foram minuciosamente estudados por Richard Carrier. Do meu ponto de vista, na qualidade de historiador acadêmico, existem pelo menos três problemas com a utilização desta fonte; (1) não existem originais autógrafos, do próprio punho de Hitler, desta fonte. Não temos fitas de áudio para verificar as transcrições. O que temos são cópias célebres que muitas vezes foram filtradas através de Martin Borman, auxiliar de Hitler. O fato de estas versões concordarem suficientemente para sugerir uma fonte comum não necessariamente prova que esta fonte comum tenha sido o próprio Hitler. (2) As versões às vezes são discrepantes. Algumas passagens estão ausentes na edição de Trevor Roper em relação à edição de Picker. De modo que é difícil dizer o que vem de Hitler e o que vem dos editores. (3) Trevor-Roper autenticou os Diários de Hitler, apesar de estes mais tarde terem sido desmascarados como uma fraude. Genoud também é um personagem de reputação duvidosa que pode ter estado envolvido em outras falsificações. E como Carrier tem mostrado, ambas as edições de Genoud e Trevor-Roper muitas vezes traduzem com erros grotescos o original alemão. Além disso, o principal mediador em todas as versões conhecidas das Conversações Íntimas é o secretário pessoal de Hitler, Martin Bormann, conhecido por seus pontos de vista anticristãos. De modo que às vezes podemos estar lendo os pensamentos de Bormann em vez de os de Hitler.

Carrier de novo? Quando se juntam dois mentirosos profissionais (Ávalos e Carrier), o que temos senão mentiras em 3D?

Se o critério é não ter “fitas de aúdio”, ou não ter “originais autógrafos”, de próprio punho de Hitler, então todas as evidências dizendo que os massacres de judeus em 3 cidades por “Cruzados”, também vão automaticamente pelo ralo. Notem o que Ávalos disse anteriormente: “O fato de que Hitler via o que ele estava fazendo como uma continuação da política católica é confirmado por uma conversa que ele teve em 26 de Abril de 1933, com Hermann Wilhelm Berning, bispo de Osnabriick, Alemanha. “

Espere aí, o “fato”? Mas não tinha “fita de áudio” e nem “originais autógrafos”. Mas aí ele aceita? É claro que essa dupla está usando um peso e duas medidas. Por que não estou surpreso?

A diferença é que nas Conversações Íntimas, temos a mediação do SECRETÁRIO PESSOAL de Hitler. Mas quer dizer então que agora Ávalos defende a tese de que o secretário pessoal de Hitler registrava algo diferente do que o chefe queria? Quais as provas para isso? Simplesmente ele não tem. Enfim, até termos prova em contrário: sabemos que secretários cumprem as ordens de seus chefes. Eu tenho uma secretária. Se Ávalos quiser dizer que ela documenta coisas diferente das que eu mando, ele que prove. A alegação extraordinária passa a ser a de Ávalos.

Essa parte aqui é também suspeita : “As versões às vezes são discrepantes. Algumas passagens estão ausentes na edição de Trevor Roper em relação à edição de Picker. De modo que é difícil dizer o que vem de Hitler e o que vem dos editores. “

Bastaria que Ávalos demonstrasse as discrepâncias, de forma científica. Dizer que “às vezes são discrepantes” não configura prova.

Mais uma: “Trevor-Roper autenticou os Diários de Hitler, apesar de estes mais tarde terem sido desmascarados como uma fraude. ” O que não prova que as Conversações Íntimas são uma fraude.

O show não termina: “E como Carrier tem mostrado, ambas as edições de Genoud e Trevor-Roper muitas vezes traduzem com erros grotescos o original alemão.”. Ora, se a tradução está errada, que mostrem a tradução correta, oras.

Como se nota, não dá para levar a sério os neo ateus.

Também sabemos, a partir de outras fontes, que Hitler discordou de Bormann e também discordou de suas próprias opiniões expressas nas Conversações Íntimas. Por exemplo, Albert Speer, que foi o arquiteto pessoal de Hitler, disse: “Mesmo após 1942 Hitler prosseguiu sustentando que considerava a Igreja indispensável na vida política. Numa dessas conversas à hora do chá, ele afirmou que ficaria feliz se algum dia um eclesiástico renomado se revelasse adequado para liderar uma das igrejas – ou, se possível, ambas, a católica e a protestante, reunidas.” Speer também relata casos em que Hitler censurou ações anticristãs cometidas por seus subordinados. Assim, se utilizarmos somente as fontes mais confiáveis, D’Souza definitivamente não demonstra seu caso.

É exatamente o oposto. As tais “fontes mais confiáveis”, segundo Ávalos, nem sequer possuem “fitas de áudio” ou “assinatura de próprio punho”, portanto possuem tanta confiabilidade quanto as demais. Reparem que Ávalos seleciona suas fontes pela sua conclusão apriorística.

O fato de Hitler torcer para que um eclesiástico pudesse liderar as igrejas “católica e protestante reunidas” foi uma citação precipitada de Ávalos, pois configura um interesse que não é nem dos católicos e nem dos protestantes. Aliás, o ecumenismo é uma iniciativa que os humanistas adoram, tornando cada vez mais esmagador o meu caso demonstrando que a culpa do Holocausto Judeu não é do cristianismo, mas do humanismo.

Que D’Souza comete alguns erros, isso é um fato, como o de associar o nazismo ao ateísmo, quando ele deveria estar associando ao humanismo. Mas em todas as refutações quanto a associação de cristianismo positivo com o nazismo, e a tentativa safada de definir Pio XVII com o nazismo, D’Souza esfarela Ávalos com facilidade.

D’Souza não cita uma única passagem do Mein Kampf, uma fonte incontestavelmente atribuída a Hitler, em que este diz que seus motivos foram ateístas. Todavia, podemos encontrar uma série de passagens do Mein Kampf em que Hitler, não menos do que Martinho Lutero, reivindica estar realizando a vontade de Deus.Além disso, D’Souza não revela a frase completa, que na verdade encontra-se nos Pronunciamentos de Hitler, um livro historicamente desacreditado da autoria de Hermann Rauschning: “Mas é através do campesinato que realmente seremos capazes de destruir o Cristianismo porque existe entre eles uma verdadeira religião enraizada no sangue e na natureza.” Assim, em sua versão integral, o alegado objetivo de Hitler é uma religião melhor (“verdadeira religião”), não religião nenhuma.

Opa, religião “verdadeira”? Pronto. Esta é a alegação do humanismo, a “religião da humanidade”, baseada no positivismo. Ei, alguém se lembrou do cristianismo “positivo”? De novo, Ávalos atira no próprio pé.

Hitler acrescenta: “Pode-se perguntar se o desaparecimento do Cristianismo acarretaria o desaparecimento da crença em Deus. Isso não seria desejável. A idéia de uma divindade confere à maioria dos homens a oportunidade de concretizar o sentimento que eles possuem da existência de realidades sobrenaturais. Por que deveríamos destruir este maravilhoso poder  que eles possuem de encarnar o sentimento para o divino que há em seu interior?” Assim, mesmo aqui Hitler distingue entre não acreditar no Cristianismo e não acreditar em Deus.

Ué, no máximo aqui Hitler está FAZENDO USO da crença dos outros em realidades sobrenaturais. Basta ler o que ele escreve: “o sentimento que eles possuem”. Eu não concordo com Hitler em termos de ideologia humanista, pois sou opositor do humanismo. Mas fiz algo semelhante no meu texto O inimigo do meu inimigo é meu amigo, em que mostro apreciar a crença em um Deus sobrenatural de forma conveniente, mas não como objeto de minha crença.

Na verdade, no original alemão das Conversações Íntimas, Hitler manifesta sua esperança de vida eterna no paraíso e seu real desprezo por aqueles que escarnecem da providência divina, declarando em vez disso que ele pensa ser possível que Deus o tenha escolhido, e que é nossa crença num Criador que nos distingue dos animais.

Fico no aguardo das evidências, que seriam essas declarações traduzidas. Se algum humanista quiser trazê-las, que o faça. Pelo que vi, Ávalos foi muito cara de pau ao escondê-las. Aliás, no máximo ele tenta teorizar sobre uma das possibilidade para o homem ser distinto dos demais animais, o que é uma crença humanista, independente da crença em Deus ou não. Uma crença que não tem sustentação darwinista, diga-se.

Reis cristãos muitas vezes mataram clérigos e perseguiram igrejas que discordavam deles. O que estamos vendo no nazismo é uma guerra sectária ou uma guerra intrarreligiosa, que não deveria ser confundida com antirreligiosidade.

É verdade que reis cristãos já mataram pessoas que discordavam deles em termos religiosos. Mas se havia uma guerra intrareligiosa no nazismo, era uma guerra da religião da humanidade (nazismo é um dos perfis humanistas) contra uma religião tradicional.

Em relação às associações de Darwin com o nazismo, discordo frontalmente de Dinesh D’Souza, portanto não tenho muito o que refutar. Mas mesmo em sua tentativa de dissociar o darwinismo do nazismo, Ávalos segue propagando mentiras, as quais tenho que refutar:

Primeiro, a própria noção de que o darwinismo foi necessário para o nazismo é desmentida pelo plano de Lutero para os judeus de 1543. Por volta de 1543 era possível levar a cabo com êxito um programa que até os especialistas na obra de Lutero reconhecem ser semelhante ao nazismo, e não havia Darwin algum então. Weikart se esquece completamente de Lutero, e raramente menciona a longa história de antijudaísmo cristão que certamente seria mais importante do que o darwinismo. A maioria dos alemães não era tão familiarizada com as obras de Darwin como eram com a Bíblia ou com as tradições antijudaicas de personagens da história alemã como Lutero.

Na verdade, Hitler usou um conjunto de idéias, a maioria delas humanistas, para criar seu paradigma que envolvia a “solução final” contra os judeus. Esse paradigma é essencialmente humanista, mas tem quase nada a ver com Darwin. A própria eugenia de Hitleré baseada em extrapolações bizarras do darwinismo, que nada tem a ver com o darwinismo original. Na verdade, o “darwinismo” de Hitler, envolvendo eugenia, está tão próximo do darwinismo quanto o cristianismo positivo está próximo do cristianismo. Como um adendo ele usou as opiniões de um cristão (Lutero), que não passavam de posições políticas. Chamar as opiniões políticas de Lutero de “o cristianismo” é mais uma safadeza intelectual sem limites. Resumindo, nem o darwinismo e nem o cristianismo são culpados pelo nazismo. Somente o humanismo carrega essa culpa em sua integridade.

Considere a idéia hitlerista da “pureza do sangue” (Reinhaltung des blutes). Esta noção não teve início com Darwin, nem sequer foi discutida como tal por Darwin em A origem das espécies. Em vez disso, a terminologia específica de Hitler corresponde muito de perto à terminologia católica espanhola (limpieza de sangre/”limpeza ou pureza do sangue”) aplicada contra os judeus na Espanha. Em particular, Juan Martinez Siliceo, o arcebispo de Toledo, propôs em 1547 uma legislação baseada muito especificamente sobre esta noção de limpieza de sangre. Normas decretadas em Toledo em 1449 também se concentraram na pureza do sangue como um meio para discriminar os judeus que haviam se convertido mas não eram espanhóis  “de sangue”.

Aqui o truque é pensar por palavras. A lógica de Ávalos é a seguinte. Se há o termo “pureza de sangue” usado no passado por religiosos cristãos, então eles endossariam as práticas de Hitler. Nada mais falso. Todas as culturas sempre buscaram meios, no passado, de saber quem era do grupo ou não. E isso nada tem a ver com o radicalismo do Holocausto Nazista. Enfim, mais uma ampliação indevida, junto com generalização apressada. Estão perdendo as contas das fraudes intelectuais? Eu já perdi…

Como até mesmo os estudiosos judeus observaram, diversos personagens bíblicos podem ser interpretados como defensoras de práticas eugênicas séculos antes que o termo fosse inventado. O rabino Max Reichler, um dos autores de Eugenia judaica e outros ensaios, nos diz: “Certamente a eugenia como ciência dificilmente poderia ter existido entre os antigos judeus; mas diversas regras eugênicas de fato foram incorporadas na vasta coleção de leis bíblicas e rabínicas. Na verdade existem indícios inequívocos de um esforço consciente para utilizar todas as influências capazes de aumentar as qualidades inatas das raças judaicas e resguardar contra quaisquer práticas que poderiam conspurcar a pureza da raça ou “prejudicar as qualidades raciais das futuras gerações” seja física, mental ou moralmente… O próprio fundador da raça judaica, o patriarca Abraão, reconheceu a importância de certas qualidades hereditárias, e insistiu que a esposa de seu “único filho amado” não deveria vir “das filhas dos cananitas”, mas da semente de uma linhagem superior.”

O truque agora é similar ao do “Deuteronômio Manda Você Matar… segundo Sam Harris”, de novo. Nesse momento, os truques começam a ficar repetitivos e a leitura de Ávalos cansativa. Aliás, tudo que foi repetido várias vezes eu cortei da análise investigativa do texto. Mas, para não deixar passar barato: eventos dos tempos de Abraão não necessariamente significam regras de conduta do cristianismo. Dá sono ter que refutar esse truque neo ateu de novo.

Se olharmos para as justificativas racialistas do próprio Hitler, descobriremos que ele invoca a Bíblia, não o A Origem das Espécies, para respalda-lo. Um exemplo é esta passagem do Mein Kampf  a respeito da miscigenação: “… é uma daquelas a respeito do que é dito com tão grandiosa e terrível justiça que os pecados dos pais são vingados até a décima geração… O pecado contra o sangue e a profanação da raça são o pecado original neste mundo… ” Mas de onde Hitler tirou a idéia de que a profanação do sangue é um pecado que macula até a décima geração? Não a vemos em nenhuma das obras de Darwin. Mas no livro de Esdras, capítulo 9, versículos 1-2 e 12, lemos: “Acabadas, pois, estas coisas, chegaram-se a mim os príncipes, dizendo: O povo de Israel, os sacerdotes e os levitas, não se têm separado dos povos destas terras, seguindo as abominações dos cananeus, dos heteus, dos perizeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios, e dos amorreus.  Porque tomaram das suas filhas para si e para seus filhos, e assim se misturou a linhagem santa com os povos dessas terras; e até os príncipes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão. (…) Agora, pois, vossas filhas não dareis a seus filhos, e suas filhas não tomareis para vossos filhos, e nunca procurareis a sua paz e o seu bem; para que sejais fortes, e comais o bem da terra, e a deixeis por herança a vossos filhos para sempre. (Ênfase do autor)”

O truque de Ávalos aqui é fingir que TODO o nazismo e todo anti-semitismo é baseado nessa questão da “décima geração”. Nem de longe. Na verdade, essa é mais uma deturpação do cristianismo (pois como já mostrei no texto “O Deuteronômio Manda Você Matar… segundo Sam Harris”, uma deturpação do cristianismo não é o mesmo que o cristianismo). E responsabilizar a existência desse trecho no Velho Testamento com a ocorrência do nazismo é um truque bem sujo. Seria como responsabilizar a frase “Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás…” pelos atos criminosos de Che Guevara.

E ao contrário da afirmação de Weikart de que a orientação espiritual do judeocristianismo resistiu a tais idéias racialistas, Robert Knox, o famoso escritor racialista escocês, declarou: “Agora, esteja a Terra superpopulada ou não, uma coisa é certa, os fortes sempre irão se apoderar das terras e das propriedades dos fracos. Estou convicto de que esta conduta não é, em absoluto, incompatível com a mais elevada moral e mesmo com o sentimento cristão.”

Se antes Lutero virou “o cristianismo” agora ele transforma Robert Knox em um  porta voz do cristianismo também. É mole?

Conclusão

Realmente existem dois equívocos de D’Souza, que Ávalos nem de longe abordou com a profundidade adequada. São eles:

  1. Associar o nazismo ao ateísmo
  2. Associar o nazismo ao darwinismo

Ávalos provavelmente não abordou esses dois equívocos de D’Souza por estar tão emocionalmente envolvido em sua causa humanista de ódio ao cristianismo, que confundiu um ataque forte que ele poderia fazer à D’Souza com uma pregação anti-cristã de baixo nível, recheada de mentiras, falácias, estratagemas erísticos, citações fora do contexto e um caudal realmente impressionante de fraudes intelectuais.

O fato é que o ateísmo não é responsável pelo nazismo, mas sim o humanismo. O humanismo é a filosofia que defende a idéia de que o ser humano é uma espécie A PARTE das outras espécies, e por isso pode criar o paraíso na Terra. O humanismo também é essencialmente rival de qualquer religião tradicional, pois estas pregam uma crença em Deus, ao invés da crença no homem. Hitler precisava desta crença no homem, tal qual Stalin precisava para implementar a ditadura do proletariado e tal qual os arquitetos do governo global precisam para estabelecer uma ONU fortíssima, a ponto de estabecer esses núcleos de poder controlando o Globo. Esta crença dá o tom não só de toda a manifestação marxista, como também de toda a ação humanista (inclusive a de Hector Ávalos). Naturalmente, o padrão seguiu-se na Alemanha Nazista. Revisando os padrões:

  • Nazismo -> Judeus
  • Marxismo -> Burgueses
  • Humanismo Secular -> Religiosos Tradicionais

Cada um dos três é uma variação do humanismo, que compreende toda a esquerda, definindo então a religião política. Todos eles trabalham com bodes expiatórios. O truque de promover um paraíso em Terra, a partir da crença no homem, fazer os adeptos se sentirem parte desse movimento para criar um paraíso e definir um bode expiatório que impede o paraíso de ocorrer COMPREENDE TODO O FRAMEWORK ESQUERDISTA.

Conforme já mostrei aqui, Ávalos não aborda decentemente a questão de Darwin. Este, se bem entendido,derruba toda a iniciativa da religião política. É por isso que afirmo que Darwin não é responsável pelo nazismo. O estudo profundo de Darwin ajudaria a demolir não só o nazismo, como também qualquer outra forma de humanismo, inclusive o de Ávalos. Provavelmente por isso, a defesa dele do darwinismo foi pífia.

Os fatos: Ávalos foi razoável ao mostrar que Dinesh D’Souza estava errado ao associar o ateísmo ao nazismo. Foi o único acerto dele. A defesa do darwinismo foi patética, e poderia ser mais contundente, e novamente mostraria que D’Souza errou.  Só que os erros de Ávalos foram mais gritantes pois ele lançou uma coleção realmente impressionante de mentiras para tentar transferir a culpa (erradamente atribuída por D’Souza) dos crimes do nazismo do ateísmo para o cristianismo, no que pareceu uma birrinha ridícula. Conforme mostrei, nem cristianismo e nem ateísmo são os habilitadores do nazismo, mas sim o humanismo, crença pela qual Ávalos demonstra paixão inacreditável.

Para finalizar esta análise, não posso deixar de notar um padrão comportamental no jogo de Ávalos. É assim: primeiro o sujeito mente 3 ou 4 vezes, e vê essas mentiras refutadas. Depois mente 40 vezes. E as 40 são refutadas. Depois mente 400 vezes, e espera que os oponentes desistam de refutar, pelo cansaço.

Deu trabalho de refutar? Sim. Fazia tempo que eu não escrevia um texto tão longo. Mas eu também estava sentindo falta de esmagar um fraudador que comete tantas fraudes em sequência como Ávalos.

Agora, os humanistas do blog Rebeldia Metafísica não tem mais motivos para comemorações.

Aguardo a próxima falsa proclamação de vitória.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".