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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

"Marilena Chauí é intelectual e militante. Não possui o tempo necessário para leituras. Ela pode agir assim, pela causa"

FAPESP
Publicado em: Correio Popular (Opinião) em 16 de Setembro de 2005

O silêncio palavroso de Marilena Chaui

Por Roberto Romano

Continuo a história da moça que iria "provar" o socialismo fatal da Igreja Católica. Seu projeto, disse, era digno de Weber e de Marx. Após o sorriso satisfeito da moça, terminei: "Digna de Weber pouco antes de ser internado e de Marx quando os furúnculos lhe doíam na British Library". Como ela conseguiria demonstrar a passagem de um campo ao outro da vida social? Marx mesmo desistira do sipoal em questão. Entreguei à moça uma lista de livros a serem lidos, se ela quisesse falar algo sobre o tema, algo em torno de 100 títulos. Ela recebeu uma informação sobre "o" documento do Vaticano 2. O Concilio produziu milhares de páginas. A resposta da candidata foi honesta e singela, nos padrões da esquerda misóloga e militantes: "Não lerei tais livros e documentos, porque eles podem modificar o resultado da minha pesquisa!" A sua possível orientadora desistiu de ambas, tese e orientanda.

A narrativa acima ilustra o ambiente da esquerda católica da época, com os seus parasitas de sempre. O saber estava dado nos lambões de marxismo e a pesquisa era roupagem para "expropriar" a Fapesp e demais instituições burguesas. No mesmo plano superficial da "pesquisadora" andavam importantes líderes da Teologia da Libertação, como Clodovis Boff, irmão de outro Boff mais famoso. Na resenha que escreveu para o meu livro (Brasil, Igreja contra Estado) e tentando ridicularizar minhas advertências sobre o conúbio entre socialismo e catolicidade, ele brindou a cultura política com lindas pérolas, referindo-se à "inegável tendência da Igreja na direção do projeto socialista". Burrice satisfeita e grosseria definiam os "projetos" da estudante uspiana e de Boff. Termina o autor a sua resenha de maneira gentil : "Este discurso altivo e coquete dá mostras de estar completamente por fora da questão real. Ele não se engata na caminhada dos oprimidos. A quem poderá interessar?" (A Igreja da Esperança, Leia Livros, Agosto de 1980). A "ciência marxista" rezava que a Igreja se tornaria irresistivelmente socialista. Quem não "engatasse" naquele trem perderia a história.

Volto à mestra Chaui. Se a Igreja era candidata certa ao socialismo, nada mais "natural" que João Paulo 2 assumisse semelhante "projeto". Afinada com todos os setores que lhe acarretam dividendos, a professora jogou Spinoza às urtigas, escondeu as críticas à dominação teológico-política e pregou as maravilhas do Bom Pastor. A Folha de São Paulo (Folhetim) organiza um encontro para discutir a visita papal ao Brasil. Foram convidados religiosos e até aquela data a muito atéia professora. Recebi um convite, pois imaginaram-me fervoroso adepto do novo papa. Engano fatal. Os religiosos cantaram João de Deus em prosa e verso. Chaui armou um aranzel para dizer que ele libertarias as massas oprimidas pelo capital. Alertei os presentes e a esquerda: o sumo pontífice era contrário ao socialismo e desmantelaria as teologias da "libertação". Matéria publicada, a censura mostrou-se com evidência, pois foram editadas frases minhas sem as bases críticas que avancei. Já a arenga "socialista, cristã e libertária" da professora foi publicada na íntegra. Seguiu-se a luta entre João Paulo 2, a URSS, e quejandos. As primeiras vítimas, merecidamente, foram os "teólogos" que preferiram insultar em vez de refletir no real alcance do delírio de uma catolicidade "socialista". Com a repressão do Vaticano, a professora calou o bico sobre o libertarismo religioso e, rápido, retornou a Spinoza.

Certo dia, ao ler o jornal, vejo um texto de José Guilherme Merquior acusando um plágio da professora. Movido pela piedade e diante dos lamentos dramáticos por ela encenados, tentei defendê-la. Como não pertencia ao PT, sugeri que os "companheiros" deveriam vir a público. Todos, menos um, declaravam-se "indignados" com Merquior. Logo, afirmavam, escreveriam algo contra ele. Nada aparecia. Vários dentre eles mantinham colunas em revistas do País. O "menos um" indicado, importantíssimo no Panteão da esquerda, disse clara e distintamente : "Ela colou". Com o silêncio dos intelectuais petistas, em companhia de uma docente da USP escrevi na Folha em defesa de Chaui. Levei merecidas pauladas de Merquior. Numa polêmica é preciso sair ou solicitar desculpas pelo começo. Marilena Chaui exigia que não respondêssemos ao crítico enquanto o objeto do plágio, Claude Lefort, não o desmentisse. Depois de muita espera escrevemos comunicando que não diríamos mais nada sobre o caso. A acusada se lixou para o que ocorreu conosco, uma vez "absolvida" por Lefort. Na época um universitário ligado ao petismo saiu-se com esta: "Marilena é intelectual e militante. Não possui o tempo necessário para leituras. Ela pode agir assim, pela causa". Adeus às aspas…

Roberto Romano é filósofo e escreve às terças-feiras.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".