15th setembro 2011 written by Paulo Nogueira
Recebo de um leitor uma carta assustada.
Ele pede para não publicar seu nome. Quer, basicamente, que eu analise o texto de Mario Sergio Conti, que ele admira intensamente desde que leu o livro “Notícias do Planalto”. Nesse livro, Conti narra bem a seu estilo – com veneno, credulidade, bajulação e auto-reverência maldissimulada – a queda de Collor. Na época, ele era diretor da Veja. Não demorou muito, foi despedido pelo acúmulo de absurdos editoriais cometidos quando teve poder.
Demorei semanas para responder porque não tenho a menor admiração por ele, com quem convivi à distância na Veja nos anos 1980. Segui meu caminho depois, ele o dele – e quase nos cruzamos quando fui cotado fortemente para substituí-lo. Ele ficou tão incomodado com isso que conseguiu me colocar em “Notícias do Planalto” de uma forma estupidamente forçada. Eu teria sido pivô de um desentendimento entre os diretores da Veja, os mitológicos JR Guzzo e Elio Gaspari.
Não me lembro de ter visto outro editor, em minha carreira, que usasse o poder tão acintosamente para perseguir os inimigos, bajular os amigos (mais do cargo que dele) e fazer alpinismo social. Tudo isso faz dele um antiexemplo. Nas escolas de jornalismo, deveria haver uma disciplina que ensinasse os alunos a não fazer nada que Conti fez.
Conti conseguiu dizer, por exemplo, numa matéria sobre meio-ambiente, que era uma pena derrubar árvores para publicar livros como os Caio Fernando Abreu. Ele mandava tratar João Gilberto com uma deferência abjeta, porque queria virar “amigo” dele, e Caetano Velloso era chutado por motivos distantes de sua qualidade musical. Na Veja São Paulo, uma ordem de Conti impedia que se publicasse o nome de Otavio Frias Filho na resenha de sua peça Rancor.
Conti atingiu o pináculo da canalhice quando, em seu livro, caluniou o homem que o colocou na direção da Veja, JR Guzzo. Guzzo é o maior editor de revistas da história do jornalismo brasileiro, e Conti é o que é – o editor de uma revista pretensiosa, inútil e sem rumo financiada não pelos leitores ou pelos anunciantes, mas por um milionário. Só o assombroso atraso cultural brasileiro pode explicar o relativo prestígio da Piauí diante de um pequeno público que se considera de elite.
Minha lembrança mais marcante é a risada esquisita e barulhenta que Conti reservava para as piadas dos chefes. Para os subordinados, seu humor era bem menos exuberante. Conti despediu a então jovem Míriam Leitão – que imagino que seja grata por isso a ele – depois que ela terminou a última legenda num fechamento de sexta-feira quando já era, como de costume, alta madrugada.
O leitor quer saber especificamente do texto de Conti. Não acho nada. Ele põe as vírgulas no lugar e não erra concordâncias, mas está longe de ter uma prosa com personalidade, inspiradora, exemplar. Alguém se lembra de um único texto dele? Como redator, Conti é, essencialmente, um copidesque.
Costumo indicar leituras para os jornalistas jovens.
Para este eu diria: vá ler quem pode, efetivamente, ajudar você a ser um bom redator. Leia Machado, Eça, Nelson Rodrigues, Rubem Braga. Veja como eles juntam palavras e encantam quem lê. Anote as frases que mais o impressionam.
Quanto a Conti, aprenda com ele o que não fazer – e isso fará de você um jornalista melhor e um ser humano mais íntegro.
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