28/12/2009 - 00h10
Pilar Bonet
Em Kiev
O serviço de segurança da Ucrânia (SSU) abriu os arquivos da época soviética para o público nacional e estrangeiro, pesquisadores ou simples curiosos, que podem frequentar sem problemas 26 centros de leitura eletrônica situados em outras tantas cidades do país.
"A Ucrânia está se transformando em uma meca para os especialistas em URSS, que vêm trabalhar aqui porque os arquivos da Rússia foram fechados ou são cada vez menos acessíveis", afirma Volodymir Viatrovych, diretor do arquivo estatal do SSU. Entre os historiadores também há russos com problemas de acesso a seus próprios arquivos, explica.
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O diretor do arquivo estatal da Ucrânia diz que foram encontrados muitos documentos sobre as operações realizadas pelos órgãos de segurança soviéticos para comprometer ativistas do movimento nacional ucraniano e fazê-los parecer colaboracionistas com os nazistas e antissemitas
No centro de leitura eletrônica de Kiev, Viatrovych mostra na tela de um computador o índice de milhares de documentos escaneados. Eles vão de 1919 a 1991, e entre outros temas referem-se à consolidação do poder soviético, à grande fome (Holodomor, 1932-33), à Segunda Guerra Mundial e ao sistema repressivo, começando com a Cheka e acabando com a KGB. Também estão lá os documentos das organizações contra as quais lutavam esses órgãos, desde as nacionalistas até as democratizantes.
O centro de leitura de Kiev foi aberto no outono de 2008, mas seu trabalho foi sistematizado, segundo Viatrovych, depois do decreto do presidente Victor Yushenko em janeiro passado, para promover a reclassificação de documentos e dar prioridade a temas como "a repressão política, fome e movimento de libertação".
A reclassificação foi acelerada, na contramão da legislação vigente, "orientada para um trabalho mais lento". Por enquanto Viatrovych lida com dezenas de milhares de documentos, mas "temos 800 mil volumes que devem ser reclassificados e isso só do SSU. Além disso, há os do Ministério do Interior e os da espionagem".
O SSU criou um grupo de trabalho interno formado por especialistas desses serviços. Esse núcleo colabora com um "grupo de historiadores que define as diretrizes sobre os temas com especial importância social", indica; 90% dos documentos sobre o Holodomor já foram reclassificados, diz Viatrovych. "Pode ser que se encontrem mais nos arquivos das províncias, que são bastante caóticos, porque não foram criados para os pesquisadores mas para a perseguição e o extermínio dos adversários do regime", explica.
As "lacunas" existentes são maiores nos últimos anos da URSS, salienta, e explica que quando a KGB deu ordem para destruir documentos em 1990, os funcionários "começaram fazendo desaparecer o que afetava a eles e seus agentes".
O arquivo que Viatrovych dirige colabora com instituições semelhantes na Polônia, República Checa e Lituânia. Com os arquivos do Serviço Federal de Segurança (SFS) da Rússia, a cooperação é limitada. "Nesta primavera propusemos ao SFS um acordo de colaboração como o que temos com os poloneses ou os checos, para trocar experiência de desclassificação e cópias e também fazer publicações conjuntas. Nos responderam que consideram suficientes os acordos existentes entre os dois serviços de segurança", explica.
Soldados ucranianos participam de parada militar na rua principal da capital Kiev. O evento fez parte das tradicionais comemorações do aniversário da independência do país da antiga União Soviética, que completou 18 anos em 2009
"Não impomos nenhuma interpretação da história", exclama, e qualifica de "quase cômica" a relação entre os arquivos ucranianos e russos. "Nós desclassificamos documentos sobre um ou outro tema, e imediatamente, como resposta, os russos reclassificam outros que indicam outra coisa."
Abordando sua matéria de uma perspectiva de "missão" nacional, Viatrovych diz ter encontrado "muitos documentos interessantes sobre as operações realizadas [pelos órgãos de segurança soviéticos] para comprometer ativistas do movimento nacional ucraniano e fazê-los parecer colaboracionistas com os nazistas, antissemitas e heróis negativos".
"A Ucrânia continua o trabalho de desmascaramento do regime stalinista que ia em paralelo ao processo de democratização no final dos anos 1980 na URSS. Nos 90, a Rússia julgava o totalitarismo e estava na frente do processo de reclassificação e publicação de documentos, mas agora recuou enquanto a Ucrânia recebeu um novo impulso", opina. "Compartilho da opinião de que uma parte dos materiais foi tirada da Ucrânia em 1990 e 1991, e pode ser que esteja na Rússia. Uma prova indireta é que o último dirigente do KGB da Ucrânia, Nikolai Golushko, se transformou em chefe do SFS da Rússia."
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
- do UOL Notícias
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