03/01/2010
Percival Puggina
O presidente Lula está na lista das personalidades mais influentes da década. Ainda bem que ele não influiu suficientemente quando se opôs:
a) ao Plano Real, que chamava de estelionato eleitoral;
b) à Lei de Responsabilidade Fiscal, que chamava de arrocho imposto pelo FMI;
c) à abertura da economia brasileira, que chamava de globalização neoliberal;
d) ao fim do protecionismo à indústria nacional, que chamava de sucateamento do nosso parque produtivo;
e) às privatizações, que chamava de venda do nosso patrimônio;
f) ao cumprimento de nossas obrigações com os credores internacionais, que chamava de pagar a dívida com sangue do povo;
g) à geração de superávit fiscal, que chamava de guardar dinheiro para dar ao FMI;
h) à primeira reforma da Previdência, que ele já teve sete anos para corrigir e não corrigiu;
i) ao Proer, que, segundo ele, era dar dinheiro do povo para banqueiro;
j) ao fortalecimento da agricultura empresarial, que o Influente queria substituir por assentamentos do MST.
Felizmente, escapamos de tais influências! Os governos anteriores suportaram a vaia petista e criaram as condições com que o país enfrentou a turbulência internacional de 2008/2009. Entre elas: responsabilidade fiscal, moeda forte, superação da imagem de país caloteiro, sistema bancário sólido e bem fiscalizado, gradual modernização do parque produtivo, duplicação da produção de grãos e a acelerada produção de divisas daí decorrente. Felizmente, também, reconheça-se, ao assumir o governo o Influente teve a sensatez de:
a) qualificar como “bravata” sua atuação como oposicionista;
b) convidar o tucano Henrique Meirelles para o Banco Central;
c) não atrapalhar o que ia bem.
Ah! Esquecia-me de dizer que o Influente ampliou muito os programas sociais criados antes dele (Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação e Vale-Gás) que migraram para o seu Bolsa Família. Mas, vale lembrar que também aqueles programas de FH haviam sido tenazmente combatidos pelo Influente que os qualificara como forma de ganhar o voto do pobre pela barriga (assista-o abaixo).
Vejamos, agora, onde o Influente, de fato, influenciou.
Ele influenciou a decisão brasileira de não declarar as narco-guerrilheiras Farc como organizações terroristas.
Ele influenciou a eleição de Evo Morales que fez campanha anunciando que agiria contra a presença da Petrobras na Bolívia.
Ele influenciou a eleição de Lugo, que fez campanha anunciando que agiria contra o acordo com o Brasil em Itaipu.
Ele influenciou a OEA a favor da readmissão de Cuba na organização e, dias depois, influenciou a decisão da OEA contra a destituição do golpista Manoel Zelaya em Honduras.
Ele sistematicamente protege regimes de esquerda quando são votadas, em organismos internacionais, moções de repúdio a violações de direitos humanos.
Visitou e recebeu afetuosamente todos os ditadores do planeta.
Ele é o Influente. Ele é o cara.
Sabem por quê?
Porque aquele discurso que tanto atrai o eleitor de poucas luzes nos países periféricos produz o mesmo efeito em alguns europeus. Refiro-me à ideia de que a economia funciona como um deserto, onde a areia muda de lugar conforme o vento, formando dunas e depressões, mas a quantidade de areia permanece imutável. Logo, se há acumulação é porque, em algum lugar, se formou uma depressão. É por causa desse raciocínio infantil que as esquerdas atribuem a pobreza à existência da riqueza. E o Influente, aonde vai, arranca aplausos ensinando isso. Mas os ricos do Brasil nunca riram tão à toa e nunca aplaudiram tanto um presidente.
(Zero Hora - 03/01/2010)
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