Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Capitalismo de mentirinha

MÍDIA SEM MÁSCARA
6 outubro 2008
Editorias - ComunismoLivre iniciativaPolítica

“Government is not the solution to the problem. Government IS the problem.”

(Ronald Reagan)

No decorrer de uma dessas crises recorrentes do capitalismo, durante os anos 80, o então presidente Reagan, instado a fazer o Estado salvar a economia do cataclismo que se anunciava pela mídia, formulou a famosa frase que até hoje reverbera no mundo liberal como uma das mais lúcidas e criativas tiradas do ex-presidente: “na crise atual, o governo não é a solução para os nossos problemas; o governo É o problema”

Se vivo fosse, provavelmente estaria dizendo hoje a mesma coisa. Embora as viúvas do comunismo insistam em maldizer o mercado e a ganância dos agentes econômicos pelas mazelas por que passa o setor financeiro mundial, e proclamem que é chegada a hora de o todo-poderoso Estado-babá colocar ordem na casa, a verdade é que os referidos problemas têm início, meio e fim nas ações (e regulamentações) equivocadas do Tio Sam, as quais disseminaram incentivos institucionais nocivos entre os agentes, que acabaram por desvirtuar, durante quase três décadas, a eficiente alocação dos recursos no mercado

Como muito bem colocou o economista Lawrance H. White, “culpar a ganância dos agentes pelo problema é o mesmo que culpar a força da gravidade pela queda de um avião”. Tal qual a gravidade nos eventos de natureza física, a ganância estará quase sempre presente nas interações dos indivíduos no mercado. Se o problema estivesse na ganância, portanto, nem só o setor financeiro estaria atingido, mas o mercado como um todo. Aliás, de forma geral, as trocas no mercado seriam impossíveis se precisássemos afastar a ganância humana para que elas se realizassem. 

Por outro lado, para qualquer analista sério, não resta dúvida de que a origem da atual crise está intimamente relacionada às “ações afirmativas” dos recentes governos norte-americanos, a começar pela paternidade desses dois monstrengos gêmeos – que respondem pela alcunha de Freddie Mac e Fannie May – cujo caráter peculiar de empresas privadas implicitamente patrocinadas pelo governo, aliado à demagogia dos políticos em querer tornar em realidade o sonho da casa própria a cada americano, tudo isso temperado por uma política monetária frouxa, acabou gerando a famigerada bolha imobiliária que acaba de estourar. 

Em meu último artigo, contei a história das duas estrovengas híbridas, meio peixe, meio mulher, digo, meio públicas, meio privadas, e como elas se valeram de sua situação especial para tomar e emprestar dinheiro barato. O que eu não contei ainda foi que os políticos também apropriaram-se delas para colocar em ação suas políticas demagógicas e ações assistencialistas.  

Tudo começou em 1977, quando o então governo socialista de Jimmy Carter criou o chamado Comunity Reinvestment Act, cujo propósito era obrigar os bancos a emprestar uma parte dos seus ativos às comunidades mais carentes. Em 1994, aquela legislação foi ampliada, e o governo explicitamente determinou que a dupla expandisse seus empréstimos a tomadores finais de baixa renda. Isso, logicamente, criou enormes incentivos para que os bancos emprestassem mais aos hipotecários chamados “sub-prime”, ou com capacidade de pagamento reduzida, já que, na retaguarda, Fannie e Freddie entrariam como uma espécie de “resseguradores” estatais, numa analogia com o mercado de seguros. 

Enquanto isso, o Banco Central (FED) continuava com sua política de crédito frouxa, sempre na esperança de que pudesse adiar indefinidamente as tão odiadas recessões. (Só para que o leitor possa ter uma idéia de como essa paranóia anti-recessiva está impregnada na política daquele país, existe por lá uma lei – Humphrey-Hawkins – apelidada de “lei do Pleno Emprego”, que força o FED a manter as taxas de juros artificialmente baixas, olhando não só para a inflação e o poder de compra da moeda, como seria prudente, mas também para os índices de emprego e desemprego). 

Com o dinheiro cada vez mais barato e disponível, os bancos continuavam a assumir riscos cada vez maiores. Para piorar as coisas, em 2005, após um escândalo contábil ocorrido na Freddie Mac, ambas as GSEs concordaram, como forma de penitência diante do congresso, em expandir ainda mais as suas operações junto às comunidades de baixa renda, de tal sorte que, entre 2004 a 2006, o percentual das chamadas operações “sub-prime” cresceu de 8 para 20% do total de hipotecas. E, mesmo diante de todas as evidências, ainda há gente hipócrita a gritar que a raiz do problema estava na ausência da mão peluda do Estado.  É preciso ser muito cara-de-pau! 

Em resumo, os bancos assumiam cada vez mais riscos, mas tinham compradores garantidos para os seus títulos, nas pessoas de Freddie e Fannie, as quais estavam – em princípio supostamente, e agora efetivamente – lastreadas pelo governo (contribuinte). O leitor poderá dizer que os bancos agiram sem as devidas cautelas, além de movidos pela ganância de ganhar sempre mais – o que é absolutamente correto. Ocorre que eles estavam respondendo a incentivos criados por intervenções do governo, ainda que estas intervenções muitas vezes fossem bem intencionadas. 

Pois bem: depois que a cobra fumou e a crise estabeleceu-se, os mais afoitos resolveram que o incendiário deveria, de uma hora para outra, transformar-se em bombeiro. E pior: o único instrumento de que dispõe o bombeiro/incendiário é justamente querosene.  Resumindo, pretende-se curar uma crise gerada por excesso de liquidez, injetando-se no mercado cada vez mais dinheiro. 

No afã de defender o chamado “bailout”, seus patrocinadores não se fazem de rogados.  O mínimo que prevêem, caso o resgate dos títulos podres pelo governo não seja implementado, é o Armagedom. 

Pois eu discordo do catastrofismo reinante no mercado.  Até onde a vista alcança, as condições hoje são completamente distintas das de 1929, a começar – e principalmente – pela liquidez do sistema. Note-se ainda que os bancos comerciais não estão tendo maiores problemas, como os bancos de investimento, e recentes dados divulgados lá nos EUA demonstram que as linhas de crédito comerciais estão fluindo e irrigando a chamada economia real sem maiores problemas. 

Agora, cá entre nós e que ninguém nos escute: é lógico que os profissionais, investidores ou operadores do mercado, seja porque estão entupidos de papeis podres ou sentados em cima de um monte de ações que não param de encolher, vão ficar alardeando o fim do mundo, pois querem salvar a própria pele ou lucrar um pouco mais. 

Ao ler essas opiniões, de gente que tem todo interesse no resultado da questão, me fizeram lembrar das minhas peladas futebolísticas da infância, em que não havia juízes e quem marcava as faltas e decidia as regras eram os próprios jogadores. É óbvio, e não podia ser diferente, que cada um queria “puxar a brasa para a própria sardinha”. E nem poderia ser diferente. 

Vejam, por exemplo, o caso do famigerado Warren Buffet, oráculo do mercado financeiro mundial e de boa parte da chamada Grande Mídia:  acabou de comprar $ 5 bi em papeis do Goldman Sachs “na bacia da almas”. É previsível, e muito provável que, a curto prazo, as ações desse banco de investimento aumentem muito de preço, caso o pacote do governo venha a ser aprovado. O que faz então ele? Usa todo a sua influência, tanto junto ao Congresso quanto junto à mídia, para alardear uma crise sistêmica profunda, caso o congresso não aprove o plano de salvamento. E tome canelada pra todo lado. 

Já no meio acadêmico, no entanto, não há essa ânsia pela aprovação do plano, nem há consenso sobre supostas catástrofes, caso o plano não seja aprovado. É evidente que algum sofrimento imediato, principalmente no meio financeiro, vai ocorrer, mas daí a supor que acontecesse “o fim do mundo” ou que “a vaca fosse para o brejo” vai uma enorme diferença. 

Enfim, já me alonguei demais, especialmente porque, pelo menos de acordo com os últimos informes vindos de Washington D.C., parece que a associação perversa dos rent-seekers do mercado financeiro com os intervencionistas do Estado-Babá mais uma vez irá deixar os contribuintes com o abacaxi nas mãos e o pepino sabe-se lá onde… 


E viva o capitalismo de mentirinha!

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".