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terça-feira, 7 de outubro de 2008

FORTUNA EM POLÍTICA

NIVALDO CORDEIRO
04/01/2008

A obra O PRÍNCIPE, de Maquiavel, é certamente o marco decisivo para a modernidade e se opõe diretamente aos valores não apenas cristãos, mas também àqueles da tradição de Sócrates, Platão e Aristóteles. Esse livro é o manual para novos príncipes que irão surgir desde então, tornando-se o pai de todos os aventureiros políticos e a bíblia daqueles que construíram os partidos de vanguarda. Maquiavel conseguiu transformar todos os vícios e canalhices da política nas virtudes por excelência dos governantes. Tresvalorizou todos os valores muito antes de Nietzsche, filósofo que fechou o ciclo macabro aberto pelo florentino no campo da política.

Não que a canalhice não fosse prática corrente desde tempos imemoriais onde se organizou alguma forma de Estado. É próprio da política a violência, a traição, a rapina. A guerra, diz a expressão consagrada, é a continuação da política por outros meios, e nada há de mais atroz do que a guerra. O que Maquiavel fez foi teorizar a canalhice e dar sustentação filosófica para ela. Não é possível compreender o morticínio perpetrado na modernidade, desde a Revolução Francesa pelo menos, sem que essa filosofia seja devidamente situada na motivação e na justificação da ação dos atores políticos. Que seria de Napoleão sem Maquiavel? E de Lênin? E de Hitler? E de todos os herdeiros gnósticos da modernidade? Marx e Nietzsche são santos perto do que fez Maquiavel.

Estudiosos da obra do florentino não se cansam de exaltar a fria lógica e o cálculo racional que ele emprestou ao estudo da ciência política. E, no entanto, quedam surpreendidos com o elemento mítico com que o autor fecha a obra, ao falar da Fortuna ou, em termos astrológicos, da Roda da Fortuna, a X carta dos Arcanos Maiores do Tarô, que era ao que ele se referia verdadeiramente. A questão colocada é que todos os aventureiros poderiam usar do manual maquiavélico, como aliás têm feito desde sempre. Por que apenas alguns chegam lá, como Lula lá, e outros fracassam redondamente, como Luiz Carlos Prestes? Por que outros são efêmeros, como o nosso Fernando Collor de Mello? [As declarações da ex-esposa Roseane à revista Veja, relatando os sacrifícios de animais no quintal da Casa da Dinda pelas madrugadas quando ele era presidente da República – 3 da manhã é a hora satânica – são fatos ilustrativos de como o elemento irracional demoníaco pode tomar conta das personalidades mais proeminentes. O poder pode literalmente enfeitiçar aqueles que foram por ele fascinados]. Efêmeros como Hitler, este que também era um satanista emérito? E por que outros se mantêm no poder até a morte, como Lênin, Mao e Fidel Castro?

Não basta o manual de canalhice para ser bem sucedido, disso Maquiavel sabia. O símbolo da Roda da Fortuna é encimado por uma figura que é metade anjo e metade demônio. É, a meu ver, uma excelente representação pictórica do poder, que pode ter tanto um lado benéfico como um lado maléfico, dependendo de quem esteja a exercê-lo. Platão e Agostinho criaram a tradição de que deve o governante buscar a Justiça, sendo esse o papel fundamental do poder de Estado, a sua missão por essência. A política, para eles, era a arte de praticar a Justiça. Por isso São Paulo escreveria sobre a fundamentação divina do poder. Do governante esperava-se ao menos a boa intenção.

Maquiavel joga na lata do lixo a investigação das virtudes, despreza a missão de Justiça e recomenda expressamente que os candidatos a novos príncipes sejam mal-intencionados. Que Justiça que nada! Põe ele as armas como o único sustentáculo do poder. Obviamente que isso é um erro, a negação da essência do elemento civilizacional. Maquiavel tem, no entanto, o mérito de reconhecer esse elemento transcendente que condiciona o poder de Estado e a ação dos seus agentes, fato que seus discípulos posteriores negam ou abandonam. Esqueceram-se do principal.

Quanto maior o orgulho, maior será a queda. Ou, dito de outra forma, quanto maior a ambição política, maior a frustração. Hitler terá sido o mais audacioso dos revolucionários, o mais temerário e, no entanto, foi consumido pelas chamas de sua paixão. Queimou numa pira funerária, uma maneira plástica de ser remetido aos infernos. Muitos ditadores seguiram o seu caminho. Permanece a questão de saber porque o governante malvado pode morrer no governo, em pleno exercício do poder totalitário.

Entendo que as coisas do poder não são alheias a Deus. O jovem teólogo Ratzinger, no seu brilhante INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO, escrito quando ainda não tinha as responsabilidades que hoje tem, sugere haver um elemento irreconciliável entre o reino desse mundo e as coisas de Deus. Por isso o Deus de Abraão não tinha território, vivia em tendas, uma maneira bastante didática de dizer que não era um Deus estatal, não era um concorrente de Baal e Moloch. É aquele que é, o Deus vivo. Da mesma forma, Cristo rejeita peremptoriamente a terceira tentação que lhe fez o Demônio e disse a quem queria ouvir que seu reino não era o desse mundo.

Penso que a contribuição do homem virtuoso à política é se manter virtuoso quando do exercício da política. Ao contrário do que pensava Maquiavel, isso não implica em fraqueza ou tibieza. A virtude pode ser varonil, viril, como bem o demonstra Voegelin no seu A NOVA CIÊNCIA DA POLÍTICA. O governante virtuoso pratica o bem por escolha, mas sempre poderá usar mão da força para combater os oponentes movidos pela ambição das trevas. E esse uso da força é santificado, caracteriza o bom combate.

Os tempos de hoje conhecem os piores governantes simplesmente porque as idéias de Maquiavel (e de Marx, Hegel, Lênin, Gramsci. Nietzsche e tutti quantti) governam gente do seu próprio nível moral. A Europa da primeira metade do século XX já não era mais cristã, era atéia, como agora o é mais ainda. A força do Islã no território europeu é o espelho de sua fraqueza espiritual. O que dizer de nosso Brasil de Lula Lá? Collor, sacrificando animais no quintal à terceira hora da madrugada, é bem o emblema de um povo que cultua o Maligno alegremente. Um povo assim merece os seus governantes. Com propriedade poderíamos repetir aqui, com Cristo, que essa gente é palha que deve ser queimada no fogo inextinguível. Vivemos o tempo do Estado Total e tudo pode acontecer.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".