15 de junho de 2008
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Vácuo na oposição formal abre caminho para Goicoechea se consolidar como ícone da resistência ao chavismo
Por Renata Miranda (*)
Uma das principais figuras da oposição na Venezuela não faz parte de nenhum partido político, ainda não saiu da faculdade e, recentemente, ganhou um prêmio de US$ 500 mil de um instituto americano por sua militância no país. Aproveitando o vácuo deixado pela falta de crença nas antigas classes políticas do país, o universitário Yon Goicoechea, de 23 anos, tornou-se a causa de mais uma dor de cabeça do presidente Hugo Chávez.
“Entrei no movimento estudantil porque acredito ser possível mudar a situação degradante em que se encontra o governo de meu país”, afirmou Goicoechea ao Estado, por telefone. “Se os próprios jovens não acreditarem que podem mudar o futuro, quem vai acreditar?”
Goicoechea surgiu no cenário político venezuelano em maio do ano passado, quando articulou e liderou os protestos estudantis contra o fechamento da emissora Rádio Caracas Televisão (RCTV) - cuja renovação de concessão para transmitir por canal aberto foi negada pelo governo de Chávez e saiu do ar em 27 de maio de 2007. Desde então, o estudante do 5º ano de direito da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB) organizou mais de 40 marchas, que reuniram cerca de 80 mil manifestantes cada, e mostrou para a Venezuela e o mundo que não têm intenção de parar sua “luta pela democracia”: Ele diz que chegou para ficar. “Quero continuar o trabalho que faço e, daqui a alguns anos, seguir carreira na política”, afirmou. “Mas esse projeto não é imediato, ainda não penso em me candidatar.”
Com a eloqüência de um político com anos de carreira, Goicoechea conquistou o apoio e admiração de milhares de estudantes, que não só participam das marchas convocadas por ele, mas também o auxiliam em seus projetos sociais e zelam por sua segurança. “Yon é um rapaz muito aplicado tanto na liderança estudantil quanto na área acadêmica”, disse a estudante de jornalismo Dariela Sosa, de 22 anos.
“Ele consegue lidar de maneira muito satisfatória com questões difíceis.” Dariela e Yon são dois dos três representantes da UCAB no Parlamento Estudantil Venezuelano - entidade que reúne as organizações de universitários do país. Foram seus “companheiros de militância” que o abrigaram em suas casas quando, no fim do ano passado, Goicoechea sofreu diversas ameaças de morte. A insegurança que o cercava era tanta que ele foi obrigado a dormir cada dia num lugar diferente. Na época, ele fazia campanha contra a reforma constitucional proposta por Chávez, que reforçaria os poderes do presidente e limitaria a liberdade democrática no país.
VITÓRIA ESTUDANTIL
Horas antes do referendo de 2 de dezembro, Goicoechea teve um de seus discursos televisionado em rede nacional e pediu para que o povo se mobilizasse em favor do “não”. O emocionado discurso do universitário e sua militância no movimento estudantil parecem ter surtido efeito - o projeto de Chávez foi rejeitado por 50,6% dos votos e, pela primeira vez desde 1999, o presidente sofreu uma derrota significativa nas urnas. “Hoje, a possibilidade de uma Venezuela melhor venceu... Queremos dizer a todos os venezuelanos, àqueles que votaram ‘sim’, àqueles que apóiam o presidente, que estamos comemorando com humildade e dedicamos esse triunfo a vocês”, disse o estudante após a divulgação do resultado. “Essa vitória foi a vitória do povo venezuelano que hoje defendeu sua liberdade, mas acima de tudo foi uma vitória do futuro e das imensas possibilidades que temos de construir um país juntos.”
Foi sua atuação durante os protestos do referendo que lhe rendeu o prêmio de US$ 500 mil do Instituto Cato, em Washington. Em 15 de maio, Goicoechea recebeu na capital americana o Prêmio Milton Friedman para o Avanço da Liberdade. Agora, ele estuda os requisitos legais para aplicar o dinheiro que ganhou em projetos sociais na Venezuela. “Quero investir a quantia do prêmio em uma escola de formação de líderes em Caracas, um lugar onde possamos dar apoio aos futuros chefes regionais e nacionais.”
Goicoechea chegou a sofrer agressões de partidários do presidente e teve seu nariz quebrado depois que um chavista o atacou num evento em Caracas. Hoje, ele afirma que está mais seguro, mas ressalta que continua recebendo ameaças. “Eu procuro ficar sempre atento em locais públicos e nunca fico sozinho.” Por medo de ter suas conversas grampeadas, ele também tomou como medida de segurança mudar o número do telefone e o endereço de e-mail a cada duas semanas. Apesar de todas as ameaças, ele não admite a possibilidade de deixar a Venezuela. “Esse país é de todos e não apenas de Chávez”, afirmou. “Eu amo a Venezuela e, por isso, tenho de continuar resistindo.”
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