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quarta-feira, 18 de junho de 2008

Komintern – A ajuda fraternal aos partidos comunistas de todo o mundo

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Carlos I.S. Azambuja em 14 de junho de 2008

Resumo: O Partido sempre valorizou e considerou mais útil a seus interesses estratégicos um homem tido como de direita, com acesso aos organismos empresariais ou de Segurança, que um provado e leal militante. Essa foi a realidade.

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O Komintern - Organização internacional comunista fundada por Vladimir Lenin e pelo Partido Comunista da União Soviética em março de 1919, que pretendia lutar com “todos os meios disponíveis, inclusive armados, para derrubar a burguesia internacional e estabelecer uma República Soviética internacional como um passo transitório à completa abolição do Estado”.

Após a Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia, foram criadas forças e partidos comunistas em vários países, que logo aceitaram as famosas 21 condições exigidas pela III Internacional – também conhecida como Komintern ou Internacional Comunista – para que fossem reconhecidos em nível internacional. O Komintern foi assim definido pelo “Pequeno Dicionário Político”, editora Progresso, Moscou, 1984: “Estado-Maior ideológico e político do movimento revolucionário do proletariado”.

Em troca da adesão, o Komintern outorgava a esses partidos a patente de revolucionários, numa relação periferia-centro que pouco tempo depois ficaria conhecida como Movimento Comunista Internacional. Essa foi a origem dos vínculos que, por 70 anos, os comunistas da ex-União Soviética mantiveram com todos os partidos comunistas do mundo.

Para Lênin, que dirigiu a Revolução Bolchevique, o Komintern tinha como objetivo “lutar por todos os meios possíveis para a derrubada da burguesia internacional e criação de uma revolução mundial soviética, como etapa de transição à completa abolição do Estado”. Nesse contexto, a ditadura revolucionária do proletariado era o único caminho possível para “libertar a humanidade dos horrores do capitalismo”.

Logo depois da Revolução Bolchevique, em 1925, foi instalado em Buenos Aires o Bureau Sul-Americano (BSA) do Komintern, com a tarefa de coordenar as atividades dos partidos comunistas da região. Nesse sentido, o papel do Partido Comunista Argentino (PCA), como correia de transmissão da política do Komintern, passou a ser decisivo, uma vez que, então, o PCA já possuía contatos com dirigentes da Internacional, em Moscou, que eram os que, de fato, dirigiam o PC Argentino.

Nessa época o PCA era o partido comunista mais importante da América Latina, e já contava, em 1923, com cerca de 3.300 militantes.

Em 1928 o Bureau Sul-Americano passou a ter existência legal na Argentina e a refletir as forças e as precariedades do Komintern na região. A bolchevização, ou seja, a aplicação irrestrita das 21 condições leninistas e a adesão incondicional à União Soviética era a condição essencial para que um partido comunista fosse admitido como membro do Komintern. O Partido Comunista Brasileiro, fundado em 1922, logo aceitou essas condições. Tanto é assim que sua denominação era Partido Comunista do Brasil, Seção Brasileira da Internacional Comunista.

Segundo o dirigente comunista argentino Luis Sommi, enviado do PCA ao Komintern, em fins de 1934 foi realizada em Moscou a III Conferência Comunista Latino-Americana, na qual foi aprovada a deflagração, no Brasil, de um movimento armado. Nesse sentido, a Conferência respaldou a criação da Aliança Nacional Libertadora, que pouco tempo depois, em julho de 1935, viria a ser efetivamente criada como uma organização de fachada do PCB.

Sob a tutela da Internacional Comunista, criaram-se uma série de organizações internacionais, entre as quais pode-se citar: Internacional Sindical Vermelha (Profintern), Internacional da Juventude Comunista, Socorro Vermelho Internacional (MOPR), Internacional Camponesa (Krestintern) e Internacional Desportiva Vermelha (Sportintern);

Em 15 de maio de 1943, depois de celebrada a Conferencia de Teerã, o Presidium do comitê executivo da Internacional Comunista, “tendo em conta a maturidade dos partidos comunistas” nacionais, e para evitar os temores dos países capitalistas aliados, decidiu disolver a Internacional Comunista.

Em 1947 foi criada a Kominform (Oficina de Informação Comunista) como substituta da Komintern, que reunía os Partidos Comunistas da Bulgária, Checoslováquia, França, Hungria, Itália, Polônia, a União Soviética e Iugoslávia. Foi dissolvida em 1956 por Nikita Kruschev.

William Waak, em seu livro “Camaradas”, assinala que a Intentona Comunista seria impossível de ser explicada sem levar em conta a personalidade carismática de Prestes, já então membro do Comitê Executivo do Komintern. Baseado em dados inéditos, pesquisados nos arquivos do Komintern, em 1993, em Moscou, William Waak demonstra que a Intentona Comunista foi mais uma ação do prestismo do que do comunismo.

Em 1932, quando o general Agustín Justo tomou o Poder na Argentina, em decorrência de um golpe de Estado, o Bureau Sul-Americano foi tornado ilegal, passando a funcionar em Montevidéu.

Sobre o tão falado Ouro de Moscou, ou seja, a ajuda fraternal que o PC Soviético sempre deu a todos os partidos comunistas do mundo, deve ser assinalado que sustentar um exército de revolucionários profissionais que tornasse possível a manutenção de casas ilegais (aparelhos), imprensas, depósitos para literatura, aparatos de autodefesa, gráficas, serviços de Inteligência, etc, requeria muito dinheiro. Dinheiro que os PCs da região não tinham. Nesse contexto, a ajuda fraternal, embora limitada para as necessidades sempre crescentes, não era desdenhável. Aos partidos comunistas antepunham-se duas alternativas: o caminho das expropriações revolucionárias ou o da penetração nos grandes âmbitos econômicos – os chamados empreendimentos partidários. Todos os partidos comunistas do mundo optaram por este último caminho, que requeria pessoas fiéis e incorruptíveis.

O Ouro de Moscou, no entanto, não fluía sem limites e, muitas vezes, nem em montantes significativos que atendessem a todas as necessidades partidárias. Todavia, esse auxílio fraternal foi muito mais amplo do que se possa imaginar, conforme os balancetes dados a conhecer em Moscou após o fim da União Soviética, a partir de 1991. Seguindo o jornal Konsomolskaya Pravda de 8 de abril de 1992, o PCUS, somente em 1990 – ou seja, 5 anos após a implantação das políticas da glasnost e perestroika, de Gorbachev – “ajudou com mais de US$ 200 milhões os partidos irmãos do mundo, entre os quais o da Espanha e Portugal e quase todos da América Latina. Os mais beneficiados foram os partidos comunistas do Chile (US$ 700 mil), da Argentina, da Venezuela e de El Salvador (US$ 450 mil cada um). Os do Brasil e Colômbia receberam US$ 400 mil cada um. Os partidos de tendência comunista da Espanha receberam US$ 300 mil e o PC Português, o primeiro da lista, U$ 1 milhão”.

O apoio político e a ajuda fraternal, todavia, não eram dados apenas aos partidos comunistas fiéis a Moscou, como seria lícito supor. Ao final da década de 70, dos diversos exilados latino-americanos que foram acolhidos e viveram em Moscou e em países do bloco comunista, cerca de 100 pertenciam à organização argentina de luta armada Montoneros, segundo registra o livro El Oro de Moscu, 1994, de Isidoro Gilbert, ex-chefe da agência de notícias soviética Tass, em Buenos Aires. Ou seja, o PCUS, que se sobrepunha ao Estado soviético, apoiava também as organizações de luta armada, ao mesmo tempo em que mantinha negócios e relações diplomáticas com os países onde essas organizações atuavam, como ficou claro com o apoio em dinheiro, armas e treinamento aos militantes da Frente Patriótica Manuel Rodriguez, uma cisão do Partido Comunista Chileno que, em meados da década de 80 descambou para a luta armada.

Essa ajuda fraterna era, todavia, muito mais ampla que as cifras mencionadas pelo Konsomolskaya Pravda. Implicava também em financiamento de editoras, gráficas, jornais, revistas, viagens de membros do aparelho dirigente ao exterior, férias anuais em casas de repouso na Criméia, educação política e treinamento de quadros nas escolas do partido, em Moscou, inclusive treinamento militar e outros tipos de auxílio. Muitos negócios no comércio exterior foram facilitados graças à interferência do Departamento de Relações Internacionais do PCUS, ao qual se vinculavam os partidos comunistas de todo o mundo, através de um “referente” (membro do aparelho do Departamento de Relações Internacionais responsável pelos assuntos de um PC determinado, encarregado de encaminhar e buscar solucionar todos os problemas, que ordinariamente surgiam, envolvendo o partido comunista ao qual ministrava assistência). O “referente” fazia também as vezes de “perevodchic” (intérprete) quando das reuniões de visitantes comunistas com funcionários de maior hierarquia do PCUS. Os “referentes” sempre conheceram de perto e influenciaram nas lutas íntimas dos partidos comunistas aos quais davam assistência política.

Nos casos de intermediação de negócios de comércio exterior, os partidos comunistas recebiam comissões por parte das empresas nacionais que haviam sido ajudadas. Mas, na medida em que o socialismo real se foi degradando, particularmente após 1985, quando Gorbachev assumiu o Poder na URSS, sua decadência influenciou negativamente sobre esses negócios, bem como sobre os empreendimentos partidários, pois nenhum deles conseguiu adaptar-se à situação de livre mercado. Na Rússia de hoje, conforme a imprensa dá conta quotidianamente, o fim do PCUS deixou a várias frações e diversos ex-dirigentes pós-soviéticos alguns negócios, dando origem ao que hoje é chamado máfia russa.

Depois que o PCUS foi formalmente colocado na ilegalidade e declarado extinto, em agosto de 1991, seus arquivos secretos foram abertos e, alguns deles, rapidamente fechados. Velentin Falin, último chefe do Departamento de Relações Internacionais do PCUS, que em fins de 1992 solicitou e obteve asilo político na Alemanha – onde havia sido embaixador – declarou que “em meados de março de 1990, uma grande injeção financeira foi recebida pela maioria dos partidos comunistas estrangeiros. O da França recebeu US$ 2 milhões, o do Chile US$ 700 mil, os da Alemanha e Portugal US$ 500 mil cada um, o do Líbano US$ 400 mil, o de Luxemburgo US$ 270 mil, e os da Índia e Argentina US$ 250 mil cada um” (jornal Novedades, Moscou, 27 de setembro de 1992).

Também o livro “A Conspiração do Kremlin”, escrito conjuntamente pelo Procurador-Geral da Rússia, Valentina Stepankov, por seu segundo, Evgueny Lisov, e pelo jornalista Pavel Nikitin, assinala que o PCUS doava cerca de US$ 20 milhões de ajuda financeira, anualmente, aos partidos comunistas e organizações revolucionárias de todo o mundo. Esse montante é considerado correto pelo general da KGB, hoje na reserva, Nokolai Leonov.

Todavia, a imaginação criadora daqueles que geriam os fundos financeiros do PCUS não tinha limites. Havia outras formas de enviar dinheiro aos partidos comunistas estrangeiros. A Federação Sindical Mundial, a Federação Mundial da Juventude Democrática, a União Internacional de Estudantes, a Federação Democrática Internacional de Mulheres, e outras entidades que integravam o Movimento Comunista Internacional, também possuíam seus canais, se bem que mais modestos, de remeter ajuda fraternal às entidades similares dos países do Ocidente.

Essa tarefa de auxílio aos revolucionários de todo o mundo teve início em 1920, logo depois da Revolução Bolchevique, através do Serviço de Relações Internacionais do Komintern, entidade conhecida pela sigla OMS (Otdel Mezhdunarodnykh Suyasey), que era a alma do aparato secreto do Komintern, pois controlava os códigos para a transmissão e o recebimento de mensagens, bem como as planilhas sobre o financiamento aos partidos comunistas, que eram manuscritas, a fim de que delas não tomassem conhecimento olhares menos confiáveis.

Existiam, então, representantes do OMS em todo o mundo, aos quais cabia a tarefa de fazer chegar essa ajuda fraternal a quem de direito. Esses representantes, contudo, não devem ser confundidos com os dirigentes do Komintern enviados ao exterior para educar na doutrina científica os membros dos partidos comunistas estrangeiros. Os partidos comunistas da América Latina, por exemplo, durante toda a existência do Komintern, desativado por Stalin em maio de 1943, receberam a ajuda financeira através do Bureau Sul-Americano, em Buenos Aires e, posteriormente, em Montevidéu.

Nesse sentido, é edificante o quadro publicado por William Waak, na página 210 do seu livro “Camaradas”, relacionando “os gastos justificados ao Komintern de abril a setembro de 1935” com a conspiração que resultou na Intentona Comunista. Segundo esse quadro, desde então, Luis Carlos Prestes era um assalariado do Komintern, recebendo a quantia de US$ 1.714,00.

A nova situação criada com o fim da União Soviética e o desmantelamento do PCUS afetou fundamentalmente as finanças dos partidos comunistas de todo o mundo, que a partir de 1992 não mais receberam a ajuda fraternal à qual haviam se acostumado por 70 anos, levando à falência os jornais, revistas, gráficas, editoras e demais empreendimentos da maioria – senão de todos - os partidos comunistas do mundo.

A bem da verdade, deve ser assinalado que essa múltipla colaboração, sob a hegemonia do PCUS e sob a égide do Movimento Comunista Internacional, não obscurece o talento e o sacrifício de milhares de militantes que integraram os aparatos anônimos dos partidos comunistas de todo o mundo, que participavam de comícios, greves políticas, distribuição de panfletos e colagem de cartazes, tarefas essas que marcaram a ferro e fogo as personalidades da grande maioria desses anônimos que fizeram dessa profissão o seu modo de vida e jamais conheceram outro, e da vida um alheamento da realidade. Profissão que deglutiu famílias e pessoas diabolicamente convencidas de estarem lutando por um mundo melhor.

A esses, o dinheiro nunca chegou. Viviam como pedintes, do que era denominado “circulismo”. Isto é, de arrecadar dinheiro em seu círculo de amigos, colaboradores e simpatizantes. Muitos desses militantes agora perguntam: “O que se passou?”. Nada, apenas o tempo...

Contraditoriamente, o Partido (com inicial maiúscula) sempre valorizou e considerou mais útil a seus interesses estratégicos um homem tido como de direita, com acesso aos organismos empresariais ou de Segurança, que um provado e leal militante. Essa foi a realidade. Realidade que não significou, absolutamente, o fim da História. Pelo contrário, o mundo encontra-se apenas no início de um período duvidoso, carregado de imponderáveis. Mais perigoso que o dos tempos da Guerra Fria. As perspectivas são várias e as diversas conjecturas estão em aberto.

Carlos I. S. Azambuja é historiador.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".