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sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O legado maligno de Lee Harvey Oswald

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Daniel Pipes em 29 de novembro de 2007

Resumo: Um novo livro nos EUA explica como o assassinato de JFK, cometido por um militante comunista, foi atribuido pelas esquerdas a "uma conspiração de extrema direita" e serviu de senha para uma radicalização assustadora do liberalismo americano, que dura até hoje.


© 2007 MidiaSemMascara.org


O que há de errado com o liberalismo americano? O que aconteceu com o Partido Democrata de Franklin D. Roosevelt, Harry Truman e John F. Kennedy, outrora confiante, prático e otimista? Por que Joe Lieberman, a encarnação contemporânea mais próxima desses três, foi expulso do partido? Como foi que o antiamericanismo infectou escolas, a mídia e Hollywood? E de onde vem a fúria esquerdista que conservadores tais como Ann Coulter, Jeff Jacoby, Michelle Malkin e o Media Research Center documentaram amplamente?

Num esforço sobre-humano, James Piereson, do Manhattan Institute, oferece uma explicação histórica, tanto nova quanto convincente. Seu livro, Camelot and the Cultural Revolution: How the Assassination of John F. Kennedy Shattered American Liberalism [Camelot e a Revolução Cultural: Como o Assassinato de John F. Kennedy Estilhaçou o Liberalismo Americano] (Ed. Encounter Books), investiga o deslocamento do liberalismo americano para um antiamericanismo, remontando até o fato, aparentemente menor, de que Lee Harvey Oswald não era nem um segregacionista nem um adepto da Guerra Fria, mas um comunista.

Eis o que Piereson argumenta: durante os quase quarenta anos que antecederam o assassinato de Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963, o progressivismo/liberalismo foi a filosofia pública reinante e quase única; Kennedy, um centrista realista, vinha de uma tradição eficaz que visava, e com sucesso, à expansão da democracia e do welfare state.

Em contraste, aos republicanos, tais como Dwight Eisenhower, faltava uma alternativa intelectual a esse liberalismo, daí que só lhes restou diminuir o ritmo. O "resíduo" conservador deixado por Wiliam F. Buckley, Jr., virtualmente não teve nenhum impacto na política. A direita radical, corporificada pela John Birch Society, cuspia fanatismo ilógico e inútil. Piereson explica que o assassinato de Kennedy afetou profundamente o liberalismo americano porque Oswald, um comunista ao estilo da New Left, assassinou-o para proteger o regime de Fidel Castro de um presidente que, durante a crise cubana dos mísseis em 1962, brandiu a carta do poderio militar americano. Kennedy, em resumo, morreu porque foi valentão na Guerra Fria. Os liberais americanos não aceitaram tal fato porque esse contradizia o seu sistema de crenças; em vez disso, apresentaram Kennedy como uma vítima da direita radical e um mártir das causas liberais (i.e., esquerdistas).

Essa quimera política requeria dois passos audaciosos. O primeiro se aplicava a Oswald:

• Ignorar o seu perfil comunista ao caracterizá-lo como um direitista extremado. Deste modo, o promotor distrital de Nova Orleans, Jim Garrison, afirmou que "Oswald teria ficado mais à vontade com Mein Kampf [Hitler] do que com O Capital [Marx]".

• Reduzir o seu papel à insignificância ao (1) teorizar acerca de outros dezesseis assassinos ou (2) fabricando uma gigantesca conspiração na qual Oswald seria um simplório manipulado pela Máfia, Ku Klux Klan, cubanos anticastristas, russos brancos, milionários do petróleo texanos, banqueiros internacionais, a CIA, o FBI, o complexo industrial-militar, os generais, ou o sucessor de Kennedy, Lyndon Johnson.

Com Oswald quase apagado da narrativa, ou até mesmo transformado em bode expiatório, o establishment governante – Johnson, Jacqueline Kennedy, J. Edgard Hoover, e muitos outros – continuou, dando então um segundo e surpreendente passo. Eles jogaram a culpa do assassinato não em Oswald, o comunista, mas no povo americano e na direita radical em particular, acusando-os de matar Kennedy porque ele teria sido mole demais na Guerra Fria ou acomodatício na questão dos direitos civis para os negros americanos. Aqui estão apenas quatro dos exemplos citados por Piereson que documentam essa distorção desenfreada:

• O juiz da Suprema Corte, Earl Warren, censurou publicamente o suposto "ódio e amargor que foram injetados por fanáticos na vida da nossa nação".

• O líder da maioria no senado, Mike Mansfield, encolerizava-se contra "o fanatismo, o ódio, preconceito e a arrogância que, naquele momento de horror, convergiram para abatê-lo".

• O deputado Adam Clayton Powell advertia: "Não chorem por Jack Kennedy, mas pela América".

• Um editorial do New York Times lamentava "[...] A vergonha que toda a América deve suportar pelo espírito de loucura e ódio que abateu o Presidente John F. Kennedy".

É nessa "negação ou pouco caso" quanto aos motivos e a culpa de Oswald, que Piereson determina as origens rançosas, mas férteis, da transformação do liberalismo americano na direção de um pessimismo antiamericano. "A ênfase reformista do liberalismo americano, que tinha sido prática e com os olhos postos no futuro, foi sobrepujada por um espírito de autocondenação nacional".

Ao ver os Estados Unidos como um país grosseiro, estúpido, violento, racista e militarista, o foco do liberalismo americano deslocou-se da economia para os assuntos culturais (racismo, feminismo, liberdade sexual, direitos gays). Essa mudança ajudou a criar o movimento de contracultura do final dos anos 1960; de forma mais duradoura, alimentou um "resíduo de ambivalência" quanto ao valor das instituições tradicionais americanas e quanto à validade do uso do poderio militar dos Estados Unidos; quarenta e quatro anos depois, esses mesmos perfil e disposição geral do liberalismo americano permanecem.

Assim, o legado maligno de Lee Harvey Oswald continua vivo em 2007, ainda causando dano e pervertendo o liberalismo americano, poluindo o debate nacional.


Publicado pelo Jerusalem Post. Também disponível em www.danielpipes.org

Tradução: MSM

[1] NT: O liberalismo americano, tal como apresentado pelos autores do artigo e do livro citado, teria como princípio fundamental a crença quase irrestrita no progresso, na bondade essencial do homem, na promoção da justiça, da igualdade e dos direitos civis, coisas que na visão de mundo do liberal americano pressupunham e pressupõem a intervenção estatal em várias esferas e não apenas na economia (New Deal, p.ex.). Por outro lado, o liberalismo econômico clássico propugnado pela Escola Austríaca (Böhm-Bawerk, Mises, Hayek, etc.) é a antítese dessa noção americana de liberalismo. Assim, hoje, mas já há bastante tempo, nos EUA, liberal e liberalismo são sinônimos de esquerdista e esquerdismo, respectivamente. O artigo e o livro resenhado tentam mostrar a origem dessa radicalização, ou da transformação de um tipo americano de liberalismo, por assim dizer, em esquerdismo antiamericano, hoje representado por uma miríade de grupos ou “ismos”, os quais, grosso modo, têm o Partido Democrata como principal porta-voz e abrigo no establishment político americano, sem esquecer-se das universidades, ONGs, Fundações, parte da grande mídia e de Hollywood.

[2] NT: No contexto americano, Camelot, o castelo do mítico Rei Arthur, significava e simbolizava a esperança de que a presidência de John F. Kennedy fosse a realização de uma grande promessa; esperança essa ainda mais reforçada pelos discursos do próprio Kennedy.

[3] New Left: consulte os arquivos do MSM através do mecanismo de busca por palavra chave.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".