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sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Ideal insano

Do portal MOVIMENTO ENDIREITAR
Escrito por Olavo de Carvalho em 29 de novembro de 2007

Em 1996, como eu denunciasse o avanço comunista na América Latina, o diretor da Folha de S. Paulo, Otávio Frias Filho, naquele tom de serenidade olímpica que no Brasil vale como prova de superior entendimento, acusou-me de açoitar cavalos mortos. Não duvido de que sua opinião expressasse o sentimento geral.

Decorridos 11 anos, e estimulado sobretudo pela visibilidade obscena do senhor Hugo Chávez, o reconhecimento do acerto das minhas análises começa a despontar aqui e ali, até mesmo em publicações que um dia me demitiram (não é o caso da Folha) por teimar em falar do assunto então considerado o cúmulo da impertinência.

Não é preciso dizer que a relutância coletiva em admitir os fatos se inclui entre as causas coadjuvantes do crescimento subseqüente dos próprios males cujo surgimento eu assinalava.

Descontadas a cumplicidade consciente, a insensibilidade presunçosa das classes falantes e a lentidão proverbial do processo cognitivo brasileiro (o filósofo Raymond Abellio dizia que aqui as idéias jogadas ao solo não germinam: afundam e só voltam à tona decorridas muitas eras geológicas), várias causas concorreram para essa demora suicida.

A mais decisiva está na própria índole proteiforme do movimento revolucionário, que desaparece e ressurge a cada geração com nova forma e nova identidade, desorientando os que só aprenderam a reconhecê-lo pela sua fachada anterior.

A observação direta do fenômeno e a extensa freqüentação dos melhores estudos já empreendidos a respeito - sobretudo os de Albert Camus, Norman Cohn, Eric Voegelin, Marcel de Corte, Joseph Gabel, James Billington, Thomas Molnar, Luciano Pellicani e outros tantos - acabaram por me persuadir de que a unidade desse movimento não pode ser apreendida no plano dos meros discursos ideológicos e muito menos no das propostas políticas concretas, mas requer a sondagem de uma estrutura de percepção do mundo, a qual subjaz, íntegra e permanente, à variedade desnorteante dos pretextos e das estratégias que se sucedem na periferia mais visível da História.

Como o campo de observação da mídia é precisamente essa periferia, é quase inevitável que os recuos temporários e as trocas de formato da onda revolucionária lhe pareçam extinções definitivas ou transmutações de essência. A própria palavra "comunismo" torna-se enganadora quando a tomamos como nome de um sistema econômico definido e não do puro movimento que a ele conduz, ou promete conduzir, bem como dos submovimentos a que dá origem, alguns aparentemente antagônicos ao comunismo enquanto fórmula ideológica explícita.

A estrutura subjacente a que me refiro - nascida entre as heresias cristãs do início da era moderna - consiste num profundo distúrbio na percepção do tempo histórico, ilusoriamente tomado pela mente revolucionária como cenário possível de uma mutação apocalíptica que, na concepção bíblica originária, transcende toda temporalidade e não pode nem mesmo ser pensada como capítulo da História. Paródia mundana do Juízo Final, o ideal revolucionário falseia na base a experiência humana e por isso mesmo é tão prolífico em engendrar substitutivos alucinógenos capazes de ludibriar não só seus militantes e simpatizantes, mas também seus adversários e, principalmente, suas vítimas.

Apreender a unidade profunda do movimento revolucionário ao longo dos tempos é a condição prévia para impedir, se possível, que mais algumas centenas de milhões de cadáveres inocentes venham a se somar, nas décadas vindouras, àquelas que no século passado celebraram as glórias macabras de um ideal insano.

Publicado no JB - 29/11/2007

Sobre a Mentalidade Revolucionária ver os artigos:

- A revolução cultural gramsciana e a filosofia edificante de Olavo de Carvalho
- A mentalidade revolucionária
- A mentira estrutural
- Ainda a mentalidade revolucionária
- A inversão revolucionária
- Como não enxergar a realidade

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".