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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

“Ditadura da Tolerância” – entrevista com José Antônio Ureta

SOU CONSERVADOR, E DAÍ?
São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Edson Carlos de Oliveira


José Antonio Ureta, Congresso ConservadorEm 2010, durante o VII Congresso Conservador realizado em Cracóvia, o pesquisador chileno José Antonio Ureta (foto ao lado), um dos conferencistas daquele evento, tratou sobre um assunto de grande atualidade: a “Ditadura da Tolerância”.

Para deixar nossos leitores a par do tema, o Sr. Ureta foi muito solicito em nos conceder uma entrevista.
***

- O que podemos entender por “Ditadura da Tolerância”? Não são palavras contraditórias?

José Antonio Ureta - Em teoria, são contraditórias; na prática, não. É uma outra maneira de exprimir aquilo o que o Papa Bento XVI denuncia como a "ditadura do relativismo".

Se por tolerância se entende que não há verdade nem êrro, nem bem nem mal, e que cada um pode pensar, querer e agir como bem entende, então deixa de haver valores absolutos e limites objetivos que se impõem a todos.

O resultado é que a maioria (ou até uma minoria que se julga "esclarecida") pode impor ditatorialmente aos demais aberrações contrarias à ordem natural.

Por exemplo, obrigar os médicos a praticar o aborto ou aos pais de família a aceitarem babás homossexuais para seus filhos.

- Essa “Ditadura da Tolerância” é uma manobra de perseguição religiosa?

José Antonio Ureta - Em uma de suas obras, Plinio Corrêa de Oliveira observa - e com muita razão - que quando os maus são minoria, eles pedem liberdade para o mal. Mas, quando passam a ser maioria, ou a manipular a maioria, então eles negam aos bons o direito de fazer o bem.

Para eles, a definição de liberdade é o contrário do que disse o presidente-mártir do Equador, Gabriel García Moreno: "Liberdade para todos e para tudo; exceto para o mal e para os maus". O lema deles poderia bem ser: "liberdade para todos e para tudo; exceto para o bem e para os bons".

O slogan de que se servem foi enunciado pelo jacobino Saint-Just, que chegou a ser chamado o "Anjo do Terror", durante a Revolução Francesa: "Nenhuma liberdade para os inimigos da liberdade".

É por esse tortuoso caminho que o liberalismo desemboca no totalitarismo e na perseguição dos opositores por motivos ideológicos. Como toda ideologia tem um fundo religioso, acaba dando numa perseguição religiosa.

- Como o Sr. vê o emprego desta palavra “tolerância” pela mídia? E qual o papel da mídia nessa “Ditadura da Tolerância”?

José Antonio Ureta - Segundo a doutrina católica, a tolerância é uma licença negativa do mal. O mal deve ser normalmente combatido, mas por vezes é preciso tolerá-lo para evitar um mal ainda maior ou para não prejudicar um bem maior. É a aplicação da parábola do joio e o trigo à vida social. Mas essa tolerância bem entendida não confere ao mal tolerado nenhum direito. Logo que as condições objetivas permitem erradicá-lo, esse mal pode ser eliminado.

O conceito relativista de tolerância, pelo contrário, afirma que todas as doutrinas e todos os comportamentos são equivalentes e devem coexistir. O que é uma utopia.

A mídia tem um grande papel em favorecer essa mentalidade relativista, apresentando como modelo as personalidades "abertas" (por exemplo, os artistas e políticos favoráveis à liberalização da maconha) e desacreditando os defensores de princípios absolutos como "autoritários", "fechados", "obscurantistas".

- A mídia de massa usa correntemente certos termos como “homofobia” e até “islamofobia”, mas parece que a mesma mídia se nega a utilizar o termo "cristianofobia" para caracterizar o assassinato e a perseguição aos cristãos. Isso não seria um indício de que a “Ditadura da Tolerância” visa apenas perseguir os cristãos?

José Antonio Ureta - Homofobia foi um termo inventado por um psiquiátra americano para estigmatizar aqueles que se opõem à homossexualidade, pressupondo que o fazem por desordens temperamentais e não por princípios. É uma maneira cômoda de amordaçar os opositores sem ter que responder a seus argumentos.

Vendo o sucesso da manobra, os líderes muçulmanos cunharam o termo de "islamofobia" para silenciar, no Ocidente, aqueles que denunciam as falsidades do Corão ou as injustiças nos países muçulmanos ou a invasão massiva de islamitas nos países desenvolvidos.

A mídia usa e abusa desses termos. Mas, como você diz, quando se trata de denunciar as perseguições aos cristãos nos países muçulmanos ou os ataques ao Cristianismo no Ocidente, a mídia cala a boca, ou é conivente com os ataques em nome da liberdade de expressão.

- Na Europa, há leis ou projetos de lei que vão na linha dessa “Ditadura da Tolerância”?

José Antonio Ureta - Claro que há. Por exemplo, os farmacêuticos católicos são obrigados a vender a pílula abortiva do dia seguinte e os anticoncepcionais, sob pretexto que são "medicamentos". Como quase todos os médicos jovens invocam a cláusula de objeção de consciência para recusar-se a praticar abortos, as feministas querem impor a prática dizendo que o aborto é um tratamento de saúde.

Em matéria de homossexualidade é parecido. As agências católicas inglesas de adoção de crianças tiveram que fechar porque não podiam "discriminar" os casais homossexuais. As paróquias não podem mais alugar o salão paroquial para casamentos (o que era frequente, porque era mais fácil fazer a festa logo após a cerimônia), porque não podem mais discriminar os homossexuais.

Nesta semana, na Inglaterra, o gerente de uma companhia pública que cuida de alojamentos foi sancionado por ter colocado no seu Facebook - num espaço que somente seus amigos têm acesso- a opinião de que permitir a celebração de "casamentos" entre homossexuais nas igrejas seria uma "igualdade excessiva" !

- O Sr. poderia dizer como nós aqui no Brasil poderíamos combater de modo inteligente e eficaz a implantação dessa “Ditadura da Tolerância”?

José Antonio Ureta - Acho que o melhor método é tornar pública a perseguição que está acontecendo em outros países e dizer que, se não há reação, o mesmo vai acontecer ai.

E, sobretudo, lembrar que "é preciso obedecer a Deus antes que aos homens", como disse S. Pedro quando foi conduzido diante do tribunal por pregar o Evangelho.

É melhor reagir agora do que depois ter que morrer como mártir ou, pior ainda, viver vergonhosamente como "cidadão de segunda classe".

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".