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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Eugênio Bucci e a síndrome da interpretação apressada

Fonte: OBERVATÓRIO DE PIRATININGA
TIBIRIÇÁ RAMAGLIO
SEXTA-FEIRA, 17 DE JULHO DE 2009

Não sei porque me dei ao trabalho de ler um artigo do jornalista Eugênio Bucci intitulado “Adeus às almas”, publicado ontem em O Estado de S. Paulo. Não costumo ler a obra de doutores em jornalismo, na verdade. O jornalismo, no meu modo de ver as coisas, não é uma disciplina científica, de maneira que, se não exige uma graduação, menos exigirá uma pós-graduação, o que torna em portadores de títulos vazios os mestres e doutores nessa área. A quem pode interessar, pois, a opinião de um doutor em nada?

A leitura do artigo de Bucci só serviu para confirmar esse meu ponto de vista, uma vez que, a partir do funeral de Michael Jackson, o jornalista conclui que a indústria do entretenimento espetacularizou de tal modo a vida, que a religião perdeu sua razão de ser na ordem das coisas. Trata-se de uma tese profundamente ambiciosa e da mais “elevada profundidade”, como diria Hegel. Acredito que tenha sido justamente tamanha pretensão que despertou meu interesse.

Bucci começa seu raciocínio com duas premissas falsas. Segundo ele, desde que morreu, Michael Jackson “monopolizou o noticiário” e “a humanidade só tem olhos para o cantor de Ben”. No que se refere à humanidade, devo dizer que, pelas minhas menores contas, ao menos quatro integrantes dela aí não se incluem, sendo eles eu, meu sobrinho, minha mulher e meu amigo Rodrigo Gurgel, mas creio que um levantamento estatístico reduziria em muito a porcentagem daqueles que, nestes dias, só tem olhos para o cantor de Ben.

Quanto ao “monopolizou o noticiário” devo crer que Eugênio Bucci se limita a assistir aos telejornais, pois, sinceramente, de 25 de junho para cá, li os jornais impressos todos os dias, como também as revistas e a internet, e o assunto que ocupava as principais manchetes era sempre a esbórnia do Senado Federal sob a presidência do imortal José Sarney.

A imprensa escrita, aliás, não se presta muito ao monopólio de qualquer notícia, pois, ainda que a morte de Michael Jackson tenha prevalecido nos cadernos de (in)cultura (do que não estou convicto), as editorias de política, economia, cidades e esportes não deixaram de existir e de manter seu foco na cobertura dos assuntos que lhes são afeitos.

Mas vamos admitir que isso fosse verdade e seguir adiante, pois Bucci afirma que se entrega à pauta Michael Jackson “para registrar algo que, apesar do falatório global, não foi bem diagnosticado. O funeral de Michael Jackson explicitou, como nenhum outro episódio, o modo como a indústria do entretenimento engoliu as outras esferas da vida – a religiosa em particular”.

Ora, talvez esse algo não tenha sido diagnosticado por absoluta falta do que se diagnosticar. Elementar, meu caro Watson! Por mais espetacular que tenha sido o funeral de Michael Jackson, ele não pode ter explicitado que a indústria do entretenimento engoliu as outras esferas da vida, em primeiro lugar porque não existe nenhuma indústria do entretenimento. Isso não passa de uma abstração sociológica, com um ranço ideológico frankfurtiano, que nem metaforicamente é capaz de engolir coisa alguma.

Se o megavelório de Michael Jackson dominou as telinhas de TV, não dominou a atenção dos telespectadores e, ao menos aqui no Brasil, esteve longe de reproduzir aquela hipnose de massa que se presencia numa final de Copa do Mundo em que a seleção brasileira faz parte da disputa. Nesse caso, sim, se poderia falar que o espetáculo arrebata a esmagadora maioria de nossa população. Em outro, por mais espetacular que seja, isso me parece um grande exagero.

Pois bem, se o episódio do funeral de Michael Jackson não foi capaz de fazer o país parar por alguns instantes, de que modo isso poderia explicitar que todas as esferas da vida foram engolidas pela espetacularização? O fato de sei lá que pastores protestantes terem topado participar do misto de funeral e show que se promoveu para Michael Jackson não autoriza absolutamente a concluir que “na era digital, a massa engoliu a missa”, até porque a missa é uma cerimônia católica e uma conclusão do gênero mistura católicos com protestantes e só revela a enorme ignorância de Bucci no que se refere ao complexo fenômeno religioso.

Ignorância, sim, mas não só isso. A análise do doutor em generalidades permite entrever a má-fé com que aqueles que se autodenominam “herdeiros do iluminismo” dispensam à religião e ao sagrado. Por sinal, avançando ainda mais na argumentação desconcatenada de Bucci descobre-se o porquê de ele apregoar levianamente que “a linguagem do show business, com trinados em semitons, meneios de cabeça com os olhos fechados e luzes computadorizadas triunfou sobre eucaristias, homilias e transcendências confessionais”.

Avalia Bucci que “é por aí” – isto é, pela sua perspectiva – “que se entende [também] porque a política se despolitizou e, despolitizada, vem tentando se resolver pela estética da publicidade”. Organizando seu pensamento a partir de categorias marxistas, Bucci deve considerar a política como território sagrado e, se o seu suposto sagrado foi engolido pela indústria do entretenimento, porque não projetar esse sacrilégio para o sagrado de fato e colaborar com a depredação gramsciana dos valores sociais como um todo?

Ora, dr. Bucci, a política se espetacularizou por causa dos próprios políticos. Os meios de comunicação – e não nenhuma inexistente indústria do entretenimento – primeiramente reflete essa espetacularização, antes de colaborar com ela. Quem mais se beneficia da espetacularização da política no Brasil senão o próprio presidente Lula, o Chacrinha do poder Executivo, com cujo governo o próprio Bucci colaborou até pouco tempo atrás?

Lembre-se Bucci de que o PT foi o primeiro partido político nacional a se utilizar de recursos da criatividade publicitária, na campanha de 1988, que elegeu Luíza Erundina à prefeitura de São Paulo. Foi também o primeiro partido brasileiro a mobilizar sistematicamente artistas da TV para atuar em sua propaganda. Se o PT, na planície, politizou o espetáculo, não é de espantar que, no Planalto, ele espetacularize a política. Nem isso é motivo para concluir que a espetacularização engolfou o universo. Engolfou quando muito o Jornal Nacional e a mente sócio(pato)lógica de Eugênio Bucci e outros acólitos do núcleo petista da Escola de Comunicação e Artes.

Em tempo, alguém pode me explicar quem é, afinal, esse tal de Michael Jackson?

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".