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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Como tornar-se um gostosão intelectual

OLAVO DE CARVALHO
Diário do Comércio, 24 de março de 2011

O grande benefício social das filosofias prontas é que basta aderir a uma delas da boca para fora, sem mesmo precisar conhecê-la, e instantaneamente o cidadão se eleva ao estatuto de fiscal das filosofias alheias, com direito a julgá-las ex cathedra e então sentir-se lindo, maravilhoso, um perfeito gostosão intelectual.

Três correntes de pensamento, por serem as mais citadas na mídia -- com a admirável brevidade dos escritos jornalísticos --, e também porque a classe dos professores universitários não as ignora de todo, têm sido no Brasil as mais freqüentadas por aquelas criaturas, que aí encontram o reconforto de uma prótese cultural capaz de dar, a baixo preço, uma aparência de solidez às suas vacilantes identidades pessoais, roídas na base por um pai relapso e uma mãe opressora (ou vice-versa).

São essas correntes:

(a) O marxismo, compreendido no seu sentido mais elástico, que não implica nenhum contato nem mesmo manual com as obras de Karl Marx, dando-se por satisfeito, no mais das vezes, com o vago e delicioso sentimento de pertinência à parte mais progressista e iluminada da espécie humana, adquirido na prática assídua de greves estudantis e na freqüentação diuturna de rodinhas de violão.

(b) O aristotélico-tomismo sem Aristóteles nem Tomás, que ninguém é de ferro. Para tornar-se autoridade na matéria, vá até à paróquia mais próxima, confesse uns pecados quaisquer (não os piores, é claro) e saia falando mal dos protestantes, dos judeus e dos esquisitões como eu. Isso vale por um Ph. D. em filosofia escolástica pela Universidade de Navarra.

(c) O liberalismo iluminista-materialista-cientificista, no qual se pode adquirir uma formação completa mediante o Dicionário Filosófico de Voltaire, mais alguns capítulos seletos de A Sociedade Aberta e Seus Inimigos de Sir Karl Popper e uma ou duas entrevistas do Dr. Richard Dawkins no youtube.

Uma quarta corrente de idéias é a dos tradicionalistas guénonianos, evolianos e duguinianos. Mas ela é bem menos popular que as outras três, porque seus membros praticam o segredo iniciático, que consiste em esconder-se debaixo da cama com medo do Kali-Yuga e jamais ser vistos em parte alguma, nisto consistindo, precisamente, o ritual de ingresso nessa comunidade de elite.

Qualquer pessoa de inteligência mediana, inferior ou nula pode se inscrever nos quadros de uma dessas quatro militâncias mediante simples declaração escrita, oral ou mental e transfigurar-se imediatamente em seu porta-voz autorizadíssimo, passando a verberar os adversários reais ou irreais das ditas cujas com palavras de fogo desferidas, quais mortíferos petardos celestes, desde os cimos imortais do Orkut ou do Facebook.

O imprudente que não tenha tido a oportunidade ou desejo de dissolver sua individualidade pensante num desses grupos de referência, ou que sinta a natural dificuldade humana de reduzir sua experiência do mundo às fórmulas mais simplórias e autoprobantes que neles se cultivam sob o nome de “filosofia”, de “teologia”, de “ciência” ou de “sabedoria esotérica”, será inelutavelmente chamado de “fascista” pelo primeiro, de “herético” pelo segundo, de “fanático religioso” pelo terceiro e de “profano” pelo quarto.

Feito isso, os membros de cada uma das agremiações se cumprimentarão efusivamente, celebrando a vitória da solidariedade comunitária sobre a intolerável pretensão individual de investigar a verdade da situação concreta.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".