10 Março 2011 | Publicado por Editor BRAHA em Especial
Por Mina Seinfeld de Carakushansky* - Jornal do Brasil
Nos últimos dois anos, o Brasil tem recebido freqüentes visitas de figuras mundialmente conhecidas, que aqui vieram juntar-se a políticos proeminentes, em reuniões onde a tônica é a defesa da liberação das drogas hoje ilegais. Cabe lembrar que a nossa legislação de drogas é uma das mais liberais do mundo, já que a Lei Nº 11.343, de 2006, restringe somente o tráfico de drogas. O usuário vale-se da lei apelidada de “Ai, Ai, Ai”: o usuário recebe apenas uma simples admoestação do Juiz. Na prática, isso equivale a uma descriminalização das drogas. Coincidentemente ou não, o consumo de drogas aumentou no Brasil, enquanto em alguns países o uso está em queda.
Cabe lembrar dois exemplos importantes: o da Talidomida e o do tabaco. A Talidomida foi retirada do mercado em 146 países, apesar de seus excelentes efeitos sedativos, pois ao ser consumida por mulheres grávidas, ocasionou o nascimento de crianças com atrofia dos membros ou problemas cardíacos. Hoje a Talidomida é proibida para mulheres em idade fértil.
Como consequência de todas as guerras do século 20, morreram 80 milhões de pessoas. Nesse mesmo século, por causa do consumo do tabaco morreram 100 milhões. Quase todas essas mortes teriam sido evitadas se os malefícios do tabaco tivessem sido precocemente divulgados de modo amplo.
Nos debates sobre as drogas que hoje são ilegais, jamais são mencionados os riscos diretos à saúde, a toxicidade para diversos órgãos do corpo e, mais importante que tudo, o fato de que as drogas psicoativas causam dependência.
A ciência já mostrou, através de dezenas de milhares de trabalhos científicos catalogados e com a chancela de associações médicas internacionais, que o uso de maconha está associado a muitas doenças, prejudica a imunidade, e deslancha o ataque cardíaco, além de muitos transtornos mentais graves. O uso de maconha está associado também a vários tipos de câncer, inclusive ao câncer congênito em bebês e provavelmente também danos genéticos. Sabe-se com certeza que os estimulantes como cocaína e anfetamina causam derrame, ataque cardíaco, psicose, comportamentos perigosos e até criminosos quando o usuário de alguma dessas drogas está ao volante.
Se tudo isto está bem documentado e é amplamente aceito pela comunidade médica internacional, por que então não se diz claramente que o uso de drogas deve ser evitado, e não ser considerado como um hábito a ser tolerado?
Na Austrália, país que tem uma política de saúde leniente na área de drogas psicoativas, é de cerca de 70% a taxa de infecção por hepatite C da população dos que usam drogas intravenosas. O número de pessoas com esquizofrenia paranóide crônica tem também aumentado drasticamente nas últimas décadas, devido ao uso da maconha e das anfetaminas. Ambas são toxinas para o cérebro, e está demonstrado que os seus danos se multiplicam e se complementam entre si, quando elas são usadas em conjunto.
Deve-se sempre lembrar que estas drogas causam dependência. Isto significa que a demanda por cada uma delas é, por definição, inesgotável, o que torna nula qualquer argumentação – comum entre os legalizadores – no sentido de que o Governo vai conseguir controlar a quantidade ou a qualidade das drogas fornecidas. Aumentando o uso de drogas, tanto em termos do número de indivíduos expostos a elas, quanto em termos de exposição por unidade individual, as complicações que antes eram raras, tornam-se cada vez mais comuns.
Como é possível defender a legalização das drogas nas rodas elegantes ou boêmias, com um olho no uso recreativo das drogas, e ao mesmo tempo fechar os olhos para os males que elas causam e para a quase inglória luta do nosso sistema de saúde pública para atender, mesmo de forma mínima, às necessidades já existentes na população, que não são poucas?
Tenho visto intelectuais e bem-pensantes defender a legalização das drogas, mas nunca vejo esta posição numa mãe ou um pai que tem um filho dependente.
* Mina Seinfeld de Carakushansky é Diretora da World Federation Against Drugs e da Drug Watch International, além de presidente de BRAHA - Brasileiros Humanitários em Ação.
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