Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Minhas lembranças do Muro de Vergonha: presságios da liberdade na Europa. Freiheit Berlin!

Fonte: CONDE LOPPEUX DE LA VILLANUEVA
QUARTA-FEIRA, NOVEMBRO 11, 2009




Eu tinha apenas doze anos em 1989. Era o dilema da Guerra Fria, da ameaça nuclear, dos destinos do mundo dividido entre dois sistemas radicalmente contrastantes, numa época de extremos políticos. O país engatinhava em sua primeira eleição presidencial, depois de vinte anos de ressaca ditatorial do regime militar, isto, numa realidade de destinos políticos incertos. A frágil democracia, renascida tal como fênix das cinzas, era uma muralha de incertezas como o próprio mundo, quando uma inflação devastava uma economia nacional em frangalhos. Lembro-me das opiniões de alguns dos meus professores de história ou geografia. Uma boa parte, formada pelos cânones marxistas das universidades públicas, repassava as maravilhas das
“democracias populares” de Cuba e da União Soviética, em elogios rasgados da ditadura do proletariado no poder. Em contrapartida, eles adoravam criticar a democracia constitucional e capitalista do Ocidente, tachada de “ditadura burguesa”. Se para os professores, vivíamos numa ditadura, a explicação de todo mal da exploração estava na mais-valia, na suposta escravidão dos trabalhadores pelo empresariado, enquanto as liberdades civis e individuais eram o “fetiche” e a ilusão da sociedade capitalista.


Quando se criticava a ditadura do Partido Comunista e as perseguições políticas em massa do regime, os professores se limitavam a dizer que era
“preconceito burguês” ou “mentirosa propaganda capitalista”. Em suma, muitos professores não eram educadores, mas doutrinadores, militantes, objetivando “fazer a cabeça” dos alunos, numa espécie sutil de lavagem cerebral (como muitos, aliás, o fazem hoje). Dentre todo esse agitprop, uma professora escapava desse lugar-comum, uma distinta conservadora evangélica que contava a história do Brasil sem as chatices tecnocratas dos pseudo-dialéticos marxistas. Ela contava história como se contava realmente uma história de pessoas vivas, de carne e osso, e não de sistemas impessoais e extravagâncias de forças abstratas.


Contudo, no meio de elogios comunistas, aquela ladainha não me convenceu. Não que eu entendesse de marxismo-leninismo ou de capitalismo. Não que eu entendesse de mais-valia ou de baixa tendencial do lucro. Porém, achava estranho um regime de partido único ser democrático. Ou, no mais, um sistema em que não existia liberdade política, religiosa ou oposição livre. Todavia, estranhos eram os comunistas me explicarem o porquê de um regime tão maravilhoso possuir um muro que proibisse seus cidadãos de se locomoverem em seu próprio país ou sair dele. Era pior, eles não tinham liberdade nem mesmo de se locomoverem em sua própria cidade. Este muro, como se sabe, era o famoso
“Muro de Berlim”,onde a pobre cidade foi praticamente dividida ao meio, onde os bairros de uma mesma cidade e nação eram dois países diferentes, onde famílias inteiras de alemães foram separadas por décadas. Inexplicável é a permissão que os soldados tinham para atirar em seus próprios cidadãos se estes pulassem o muro. É espantoso como um regime tão lindo, tão democrático e tão maravilhoso ameaçava ficar só, já que se a população tivesse um mínimo de liberdade, fugiria em massa do paraíso para o inferno capitalista. O ditador comunista de plantão ainda declarava que o muro duraria “mais cem anos”.


Contudo, os professores diziam que eram
“movimentos reacionários de sabotadores”, as manifestações isoladas de pobres civis vítimas do regime totalitário. Ou a explicação curiosa, eivada de estupro contra o raciocínio lógico, repassada pelos professores, de que nos países comunistas, a imprensa e os sindicatos não eram livres, porque nenhum povo pode ser contra o seu próprio governo. Ou que o proletariado não poderia ser contra a sua própria representação estatal de classe. Em outras palavras, o “povo estava no poder”. Se atualmente todo marxista diz que o stalinismo corrompeu a memória socialista, alguns fanáticos de 1989 diziam que as atrocidades stalinistas foram invencionices causadas pelos membros “revisionistas” do Partido e que Mikhail Gorbatchev estava traindo as idéias leninistas. Glasnost e Perestroika eram sinônimas de “revisionismo burguês”, nas fileiras de alguns setores do Partido Comunista. Malgrado isso, contrastando com a União soviética, alguns professores achavam que o modelo político mais próximo da realidade brasileira seria a implantação do socialismo “científico” albanês ou cubano.


Quando se tocava no assunto sobre a Primavera de Praga, os professores comunistas endossavam com uma candura estranha, as investidas dos tanques soviéticos sobre civis tchecos desarmados, que apenas pediam liberdade política e de pensamento. Esses mesmíssimos cães de guarda da tirania totalitária esbravejaram hipocritamente contra os
“porões” da ditadura militar brasileira. Na boca de muitos deles, Stálin era o guia genial dos povos, o sanguinário Mao Tse Tung era retratado como “filósofo” e “poeta” e o demagogo facínora Fidel Castro, o libertador da América Latina. Pode-se dizer que naqueles tempos o patrulhamento ideológico era mais direto, declarado, dogmático, sectário. Qualquer oposição aos dogmas deles era caso de fuzilamento sumário. O pobre aluno seria estigmatizado dentro dos piores chavões possíveis: “reacionário”, “fascista”, “pequeno burguês”, “inimigo do povo”, etc. E naquela redoma de ideologias e idéias histriônicas, eu era talvez um desses alunos opositores, às vezes tachado de “conservador” e“burguês”. Se isso era todo o ideal da esquerda universitária, representada pelos professores, o seu candidato à Presidência da República era um sapo barbudo que esbravejava contra a“desigualdade social”, o FMI, o “imperialismo norte-americano”, ao mesmo tempo em que reafirmava a utopia socialista. Não nos moldes soviéticos, mas nos moldes cubanos, o que dava no mesmo. Hoje, o sapo barbudo, depois de muita insistência, é presidente da república. Continua a beijar a mão do seu ídolo Fidel Castro e agora, do novo tiranete do momento, Hugo Chavez.


Um evento inédito, porém, acabou por surpreender os falsos sonhadores e os incautos ilusionistas. O povo da Alemanha Oriental espontaneamente subiu ao muro e enfrentou pacificamente a polícia fronteiriça. O regime mandou atirar nos manifestantes, mas os próprios policiais nada fizeram, e alguns aderiram à rebelião pacífica. Os que eram alguns, tornaram-se muitos, e o muro que dividia o despotismo da liberdade, o
“muro da vergonha”, foi tomado pela multidão, que chorava pela crença na liberdade. Aos poucos, flâmulas alemãs jorravam nas mãos dos manifestantes e o símbolo comunista era rasgado da bandeira.

Cidadãos aos montes atacavam a golpes de marreta a muralha, como que desforrando seu desprezo ao regime, e os pedaços do muro eram catados como souvenir de um passado oneroso ou de um fetiche glorioso de desafio a tirania. Era a queda do muro de Berlim. Era a queda do comunismo. Quando vi aquelas cenas, eu, que infelizmente não acreditava em Papai Noel, e felizmente tampouco cria nos meus professores, sorria maliciosamente, sadicamente. Toda aquela ladainha que meus professores pregavam caiu por terra, tal como cartas ao vento, tal como o próprio muro. Sorria maliciosamente da desmoralização de personalidades arrogantes, de muitos choros de desolação e ranger de dentes de raiva de pretensos intelectuais fundamentalistas e donos da verdade, ao revelar que eram, na prática, servos da mentira. A máscara havia caído.


De fato, a
“propaganda capitalista” de denúncia ao regime falava a verdade, enquanto os professores mentiam para os outros e para si próprios; as “democracias populares” revelaram-se cruentas ditaduras; o “povo no poder” era, na realidade, uma burocracia autocrática no poder; os sábios ditadores e guias geniais eram criminosos de guerra em tempos de paz; e se a “liberdade burguesa” era “fetichista”, a liberdade comunista era vigiada e sufocada. Eram ventanias que jogavam as cartas de baralho das mentiras mal intencionadas, ocultadas por trás do muro. Eram ventanias da liberdade, que derrubavam os muros da opressão, que mobilizavam os povos contra a tirania. Ventanias que chegavam à Tchecoslováquia, Polônia, Romênia, Bulgária, Hungria e todo o Leste Europeu. E sobre o cadáver do muro da vergonha e do Partido Comunista, defronte do Portão de Brandenburgo, a música de Beethoven soava a palavra daqueles tempos imemoriais, em uma Alemanha unida pela liberdade e pela democracia: Freiheit, freiheit Berlin!

P.s: Quem quiser ver mais a respeito do Muro de Berlim, clique aqui, no site Realismo Socialista.

Nenhum comentário:

wibiya widget

A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".