| 23 NOVEMBRO 2009
A simples idéia de fazer a conferência é um mal em si; realizá-la é apenas um passo para a destruição do capitalismo de livre empresa no Brasil. Dizer que o contrário, como fez o editorial, é acariciar a cascavel antes do bote. Uma postura mais pusilânime diante da gravidade dos fatos seria impossível ao jornal.
Pode-se combater a ameaça de uma cascavel preparada para o bote acariciando-lhe a cabeça? Ou um leão caçando, afagando a sua juba? Pois foi mais ou menos isso que o jornal Estadão fez em dois editoriais sobre a CONFECOM, que quero aqui comentar. Na verdade, o título aqui mais apropriado seria algo da série que tenho escrito, do tipo "Estadão mente sobre a CONFECOM". Faço a concessão porque sei que o Estadão, outrora tão odiado pelas esquerdas enquanto "barão da mídia", está morrendo de medo, como de resto todos os empresários do setor. A mídia, desde o início, devia ter sido a vanguarda de resistência contra a tomada do poder pelos leninistas, mas se acovardou. Agora está em xeque e sua própria sobrevivência como negócio sofre ameaça imediata, no estilo daquela feita por Hugo Chávez na Venezuela e pelo casal Kirchner na Argentina.
Pode-se ignorar voluntariamente a revolução em curso o quanto se queira, pode-se recusar a lhe dar combate, mas ela não ignorará ninguém, especialmente aqueles que estão envolvidos com os meios de comunicação. Como diriam os do meio sindical, "é a hora da onça beber água". O interessante do momento em que vivemos é que acabou-se o tempo da desconversa e da fuga. O caminho desapareceu e só restar se virar para enfrentar a serpente do mal e o leão de fogo do comunismo internacional.
Voltemos aos editoriais. O de 24 de agosto começou narrando o fato de que os representantes das associações empresariais (seis das oito entidades) recusaram-se a indicar participantes do circo de sovietes armado pelo PT, no que muito bem fizeram. Seria dar-se voluntariamente ao carrasco. Antes um tímido e amedrontado "não" do que o "sim" conivente para a guilhotina. A simples realização do evento é, já em si, a derrota da livre iniciativa que está no setor. Indicar representantes seria de ingenuidade atroz.
Qual a posição do Estadão? A mais ridícula possível: "A ideia de uma conferência para o setor não é má. Desde 2003, o governo federal já realizou eventos semelhantes para debater outras áreas, que vão da cultura à juventude, e eles foram úteis em apontar problemas, carências e demandas que podem ser resolvidos pelo poder público. A Conferência Nacional de Comunicação, no entanto, tem uma particularidade. O seu tema, "Construção de direitos e de cidadania na era digital", conforme estabeleceu o decreto de convocação, envolve não apenas os chamados "movimentos sociais", mas diz respeito, diretamente, às empresas que atuam na comunicação social. Se esse grupo se manifesta desconfortável com os rumos das discussões - a ponto de retirar-se dos preparativos da Confecom -, um sinal amarelo se acende".
Implicitamente, toma o lado do governo e condena a posição empresarial. A simples idéia de fazer a conferência é um mal em si; realizá-la é apenas um passo para a destruição do capitalismo de livre empresa no Brasil. Dizer que o contrário, como fez o editorial, é acariciar a cascavel antes do bote. Uma postura mais pusilânime diante da gravidade dos fatos seria impossível ao jornal. Na seqüência, passou a argumentar que a expressão utilizada no decreto de chamamento "controle social da mídia" em termos jurídicos, como se ainda fosse o caso, se é que algum dia o foi. A CONFECOM não foi feita nem para combater oligopólios (tarefa do CADE e da SDE) e nem para respeitar a ordem estabelecida. Como escrevi anteriormente, é o brado do PT idêntico ao de Lênin: "Todo o poder aos sovietes".
O tom sonso e acovardado foi mantido no segundo editorial, publicado na data de hoje (22): "A iniciativa foi oportuna, tanto pelo tema - a regulamentação dos meios de comunicação no Brasil - como pelo método". Só faltou dizer como Paulo Maluf dos bons tempos, antes de cair refém do PT: "Estupra, mas não mata". E, da forma mais sonsa possível, completou: "Esse tipo de conferência não pode - nem deve - substituir as instituições da democracia representativa, mas serve para arejar a administração pública". Ora, até a fuligem que cai na borda da Marginal do Tietê sabe que a CONFECOM foi feita para substituir as instituições. A quem o jornal agrada que essa encenação de covardia? Ou será conivência?
E ainda vestiu a carapuça da propaganda petista: "Há tempos, o Estado critica as distorções antidemocráticas geradas pela presença dos monopólios - mais de fato que de direito - e dos oligopólios na TV e na radiodifusão. Portanto, se a conferência preparar o caminho para que esses anacronismos sejam corrigidos, tanto melhor". O Brasil está em véspera da tomada do poder total pelo PT e o Estadão veio com essa conversa de cerca-Lourenço. Inacreditável. Para, no final, ensaiar um tímido alerta: "Qualquer clamor autoritário é inadmissível quando se trata de regulamentar a comunicação social". Toda a CONFECOM, desde o princípio, desde a fala inaugural de Frei Betto no Fórum Social Mundial (ver documentos Para entender a CONFECOM) é um clamor mais do que autoritário, é um clamor totalitário.
Se nem um participante agigantado da mídia, como o é o Estadão, se defende, o que esperar? Todo poder aos sovietes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário