por Felipe Atxa em 25 de abril de 2008
Resumo: Chegará o dia em que participar de corridas com carros velozes também será uma questão cultural, de alta importância, e os Jr’s de importantes famílias brasileiras poderão correr usando o dinheiro público que, hoje, sustenta apenas seus filmes.
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Walter Salles
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u67102.shtml)
Faz mais de um século que o Cinema Brasileiro busca uma “identidade”, um “algo mais” que possa diferenciá-lo na cinematografia internacional. Pois agora ficou provado que os bilhões de reais em dinheiro público, as milhares de “comissões de notáveis” inventadas e compostas para destinar dinheiro público a si mesmas, tudo isso foi inútil ou desnecessário: o Waltinho, diretor de “Central do Brasil” e “Diários de Motocicleta”, é “a cara”, o símbolo definitivo de nosso cinema.
Para quem não sabe, Walter Salles (que antes era chamado de Jr., mas isso talvez evidenciasse certos “atributos” desinteressantes para sua carreira), cineasta de fama internacional, um dos herdeiros do gigante Unibanco (http://www.algosobre.com.br/biografias/walter-salles-jr.html), é também um bem-sucedido automobilista diletante. Apaixonado por carros velozes, parece dividir seu tempo entre correr com carro próprio, filmar com dinheiro público e fazer apologia do socialismo, como não deixa dúvidas a deprimente biografia celebratória de Che Guevara (http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=1970). Vamos à notícia:
O Ford GT do cineasta Walter Salles e do ex-Fórmula 1 Ricardo Rosset venceu a segunda etapa da GT3 Brasil, disputada neste domingo em Curitiba. A dupla dominou a corrida desde o início e impôs uma larga vantagem para o Dodge Viper de Xandy Negrão e Andreas Mattheis. A Ferrari F430 de Rafael Derani e Cláudio Ricci chegou na terceira posição. (http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Motor/0,,MUL419049-1310,00-FORD+GT+CONSEGUE+VITORIA+DE+CINEMA+NA+GT.html)
Se houvéssemos sabido, o tempo todo, que seria tão fácil assim, personificar em um só personagem, resumir, fechar a conta de tantas contradições, de tanta ambigüidade que abarca nosso cinema e nossos cineastas, talvez tivéssemos, mais cedo, feito menos filmes, discutido menos para saber qual seria o específico do filme brasileiro, qual era “nossa cara” nas telas. Enfim: torrado menos dinheiro público com filmes ruins.
A marca de Waltinho impressiona: são meras 1h00m54s915 para dar 43 voltas a bordo de um Ford GT (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ford_GT). E milhões em dinheiro público para bancar suas estripulias cinematográficas. Consultando o site da Ancine (http://sif.ancine.gov.br/projetosaudiovisuais/ConsultaProjetosAudiovisuais.do?method=init), vemos que a empresa produtora (http://www.cinemaemcena.com.br/Coluna_Detalhe.aspx?ID_COLUNA=89) de propriedade desse cineasta brasileiro, a VIDEOFILMES PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA., tem 4 páginas de projetos aprovados, uma extensa lista entre habilitados, finalizados ou em andamento, em que usa o incentivo fiscal para levar adiante seu sonho de fazer cinema num país miserável como o Brasil. Dentre eles, grandes produções, como “Cidade Baixa” (R$ 3.038.582,73 – SALIC 000387) (http://sif.ancine.gov.br/projetosaudiovisuais/ConsultaProjetosAudiovisuais.do?method=detalharProjeto&numSalic=000387); “Brasil aos 500 Anos” (R$ 2.050.527,95 – SALIC 984035) (http://sif.ancine.gov.br/projetosaudiovisuais/ConsultaProjetosAudiovisuais.do?method=detalharProjeto&numSalic=984035); ou mera compra de equipamentos, para poder “concorrer no mercado globalizado”, por assim dizer (lá se foram mais R$ 283.000,00 – SALIC 973975) (http://sif.ancine.gov.br/projetosaudiovisuais/ConsultaProjetosAudiovisuais.do?method=detalharProjeto&numSalic=973975). Filhos de banqueiros também merecem uma chance de empreender, não?
Se o Brasil não existisse enquanto tal, se fosse uma abstração ou um rabisco na mesa de um louco, diríamos que isto tudo é a síntese perfeita de nossas elites, da estranha relação entre Estado e sociedade, da contradição inerente na idéia de banqueiros socialistas e socialistas banqueiros, todos fazendo filmes e usando dinheiro público para bancar seus projetos pessoais, enquanto no resto do tempo usam o dinheiro que lhes é de direito para bancar os outros projetos pessoais restantes (como disputar corridas em carros de 400 mil reais). Tudo “junto-ao-mesmo-tempo-agora”. Acontece que o Brasil, a despeito de todas as evidências, não é um delírio, é um país real.
Chegará o dia em que participar de corridas com carros velozes também será uma questão cultural, de alta importância, e quando esse dia chegar, outros Jr’s de outras importantes famílias brasileiras poderão também correr, usando então o dinheiro público que, hoje, sustenta apenas seus filmes. Até lá, só nos resta gritar: Vai Waltinho! Vai Brasil!
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