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terça-feira, 11 de março de 2008

Emir Sader e "A Infelicidade do Século": incompetência ou desonestidade?

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Cândido Prunes em 01 de julho de 2004

Resumo: A incorreta tradução do livro "A infelicidade do século" serve como uma preciosa amostra do que a esquerda é capaz de fazer para enganar a opinião pública brasileira.

© 2004 MidiaSemMascara.org


SOBRE O COMUNISMO, O NAZISMO E UMA TRADUÇÃO

Em 1998 a editora Fayard publicou o livro de autoria de Alain Besançon, membro do Instituto de França, intitulada “Le malheur du siècle – sur le communisme le nazisme et l’unicité de la shoah”. Esta obra mereceu uma edição em língua portuguesa pela editora Bertrand Brasil, no ano 2000, sob o título “A infelicidade do século – sobre o comunismo, o nazismo e a unicidade da shoah”.

Alain Besançon é um conhecido intelectual católico francês que dedicou várias décadas de estudos à problemática do comunismo, em especial do soviético. Publicou, entre outros livros, “Educação e sociedade na Rússia” (1974), “Ser russo no século XIX” (1974), “Presente soviético e passado russo” (1980), “As origens intelectuais do Leninismo” (1986). Trata-se, portanto, de um profundo conhecedor dos acontecimentos da cortina de ferro.

No livro “A infelicidade do século” o autor procura, como assinalou na introdução, abordar “duas questões vinculadas entre si ... A primeira tem a ver com a consciência histórica, que me parece, hoje, sofrer gravemente de falta de unidade. O desacordo tem a ver com o que este século tem de mais característico em relação aos outros: a extraordinária amplitude do massacre de homens feito por homens, que só foi possível pela tomada do poder pelo comunismo do tipo leninista e pelo nazismo do tipo hitlerista. Esses “gêmeos heterozigotos” (Pierre Chaunu), ainda que inimigos e originários de histórias diferentes, têm vários traços em comum. Eles se colocam como objetivo chegar a uma sociedade perfeita, destruindo os elementos negativos que se opõem a ela. Eles pretendem ser filantrópicos, pois querem, um deles, o bem de toda a humanidade, o outro, o do povo alemão, e esse ideal suscitou adesões entusiásticas e atos heróicos. Mas o que os aproxima mais é que ambos se dão o direito – e mesmo o dever – de matar, e o fazem com métodos que se assemelham, numa escala desconhecida na história”. Trata-se de uma obra, pois, que coloca praticamente no mesmo plano moral os regimes ditatoriais da Rússia soviética e da Alemanha nazista. O autor, aliás, não entra na discussão sobre qual dos dois regimes foi o mais perverso: ambos foram igualmente criminosos.

Alain Besançon buscou dissecar uma questão importantíssima: porque o nazismo sofreu uma superexposição crítica, sendo apresentado como a quintessência da maldade humana, enquanto o regime soviético ficou relativamente a salvo de condenações gerais e contundentes, embora tenha sido tão maléfico quanto o de seu “irmão gêmeo”? Ao passo que na Alemanha do pós-guerra os nazistas foram implacavelmente perseguidos e levados a julgamento, na Rússia e em muitos países da “cortina de ferro” os comunistas não tiveram o mesmo destino depois da queda do muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética. Inclusive continuaram na cena política e até retornaram ao poder em alguns casos. Um levantamento feito pelo próprio autor, via “internet” bem demonstra essa disparidade de tratamento, que persiste até hoje: “selecionemos os temas chamados por palavras-chave, que foram tratados de 1990 a 14 de junho de 1997, data da minha consulta: para “nazismo”, 480 ocorrências; para “stalinismo”, 7; para “Auchwitz”, 105; para “Kolyma” [maior campo de concentração soviético], 2; ... para fome na Ucrânia (5 a 6 milhões de mortos em 1933), 0. Esta sondagem tem apenas um valor indicativo.”

No final do livro “A infelicidade do século” o autor incluiu um anexo contendo o discurso pronunciado no Instituto de França, em outubro de 1997, sob o título “Memória e esquecimento do bolchevismo”. Trata-se de um excelente resumo sobre os fatores que levaram a essa disparidade de tratamento concedido aos dois regimes políticos mais atrozes do século XX. Besançon alinha 7 fatores para explicar o fenômeno: 1) o nazismo tornou-se mais conhecido especialmente porque houve maior exposição dos cadáveres por ele produzidos. Também o extermínio completo de uma determinada porção da humanidade (os judeus), foi um fato sem precedentes. Por outro lado, os campos de concentração da extinta União Soviética “permanecem envoltos em brumas e continuam sendo um objeto distante, conhecido indiretamente”; 2) os judeus “assumiram a memória da shoah”, ou seja, preocupam-se em lembrar e registrar a tragédia do genocídio sofrido. Por exemplo, pode-se hoje visitar campos de concentração nazistas na Polônia. O mesmo já não acontece na Rússia; 3) o comunismo e o nazismo foram equivocadamente classificados como de “esquerda” e “direita”, respectivamente. Com o triunfo da intelectualidade socialista no pós-guerra no Ocidente, procurou-se falsamente ligar os horrores nazistas à direita, ainda que o comunismo e o nazismo tenham origens comuns; 4) o fato de a União Soviética ter sido um aliado do Ocidente na II Guerra Mundial, também afastou muitas críticas ao seu regime (não devemos nos esquecer que os soviéticos foram juizes em Nurembergue); 5) os soviéticos foram muito bem sucedidos em colocar todos os seus opositores sob um mesmo rótulo (capitalistas ou imperialistas). Assim fica estabelecida a dicotomia: de um lado, os regimes socialistas, e de outro lado um grupo tão heterogêneo quanto os regimes liberais, social-democratas, fascistas e nazista. Besançon ressalta que na França essa classificação tornou-se incrustada “na consciência histórica”, e o mesmo poder-se-ia dizer sobre o Brasil; 6) a dificuldade em preservar a memória sobre as atrocidades do socialismo, devido a sua longa duração (50 a 70 anos) e seu efeito “auto-anistiante”. Mesmo após o fim do domínio soviético, um dos maiores desafios foi a reconstrução moral e da consciência dos povos que viviam sob a cortina de ferro. Daí porque não houve uma “caçada” aos antigos dirigentes dos partidos comunistas, como houve após os 12 anos de regime nazista. Depois de 50 ou 70 anos era muito difícil que alguém não estivesse direta ou indiretamente envolvido com o antigo regime; e 7) é uma das características do Ocidente colocar o mal dentro de seu seio. A Alemanha nazista encaixa-se perfeitamente dentro desse modelo. A União Soviética e a China estão muito na periferia para encarnarem o mal absoluto a ser demonizado.

O livro de Besançon aborda eficientemente a destruição causada pelos dois regimes totalitários do século XX: desde a pura e simples destruição física, tão conhecida, passando pela destruição moral e desaguando na destruição política. O último capítulo do livro é dedicado à memória e como um e outro foram esquecidos, em especial o comunismo: “Esse perdão demasiado fácil pode partir... de uma repugnância em examinar a sua própria cumplicidade ativa ou passiva com aqueles aos quais se perdoa tanto mais facilmente quanto se atribui ao mesmo tempo uma absolvição sem confissão. Não se vê qualquer preparação de cerimônia pública de arrependimento a esse respeito. A extraordinária anistia de que se beneficiou o crime comunista me parece provir sobretudo deste último tipo de esquecimento. Ainda que tenha havido sob o comunismo mais mártires da fé do que em qualquer outra época da história da Igreja, não se constatam pressa nem zelo para elaborar o martirológio.”

Mas a edição padece de graves problemas. Começando pelas “orelhas” do livro, escrita pelo Sr. Emir Sader. Diz ele que a preocupação original de “A infelicidade do Século”, “é a de que o comunismo, protagonizando os enfrentamentos centrais da segunda metade do século, teve muitas obras imputando-lhe uma série de crimes – da mesma forma que o próprio capitalismo, poderíamos acrescentar -, enquanto que os crimes do nazismo, de alguma forma, foram exorcizados ou ficaram relativamente neutralizados na memória histórica”. Ora, essa afirmação demonstra um total desconhecimento sobre o conteúdo da obra de Besançon. Desconhecimento esse que seria aceitável no Sr. Sader se não tivesse sido ele o tradutor da obra.

Besançon demonstra à exaustão exatamente o contrário, ou seja, de que o nazismo e os seus crimes foram reiteradamente condenados (até porque passou a ser rotulado como de “direita”), enquanto um manto de silêncio cobriu o comunismo. Até uma pesquisa pela internet, como se mencionou, serviu como demonstração à tese apresentada por Besançon.

Entretanto a afirmativa feita pelo tradutor na “orelha” encontra ao menos duas explicações. A primeira – e mais óbvia – é de que o tradutor faz parte do grupo que exatamente procura anestesiar a memória histórica sobre os crimes do comunismo (procurando, entre outras coisas, infantilmente imputar crimes também ao “capitalismo”). Trata-se exatamente do antigo método totalitário de destruição moral, magistralmente descrito por Besançon. Citando Raymond Aron a esse respeito, essas palavras aplicam-se precisamente ao meio empregado pelo Sr. Sader: “Se eu tivesse que resumir o sentido de cada uma dessas empresas, acho que estas são as fórmulas que eu sugeriria: a propósito da empresa soviética, eu recordaria a fórmula banal ‘quem quer se passar por anjo, passa por animal’; a propósito da empresa hitlerista, eu diria: ‘o homem erraria ao se colocar como objetivo assemelhar-se a um animal de rapina, porque ele o conseguiria perfeitamente’”.

Mas o maior problema da edição brasileira não está na “orelha” do livro que distorce o verdadeiro conteúdo da obra. A própria tradução inverte em algumas passagens o real sentido das frases de Besançon. Assim, por exemplo, o Sr. Sader traduziu, nas páginas 10 e 32, “hipermnésia” (super-lembrança ou memória excessiva) por “hiperamnésia” (super-esquecimento), ao se referir à memória sobre o nazismo. Assim, ficou traduzida a frase da página 10: “Tive oportunidade de abordar recentemente esse contraste entre a amnésia do comunismo e a hiperamnésia do nazismo”. Ou seja, o tradutor diz que ocorreu uma amnésia exacerbada em relação ao nazismo, quando o autor diz exatamente o contrário no original. Isto é, há em relação ao nazismo uma super-lembrança, ou uma hipermnésia (sem letra a depois de hiper). Hipermnésia é uma palavra de pouco uso na língua portuguesa, mas perfeitamente dicionarizada, inclusive pelo “Aurélio”. Como essa palavra aparece mais de uma vez no texto de Besançon em francês (“hypermnesie”, nas páginas 10 e 36 da edição francesa) e foi traduzida com sentido contrário, é no erro de tradução que também se estriba a equivocada “orelha” do livro.

Há lamentavelmente outras derrapagens de tradução. Para ficar apenas num outro exemplo, veja-se a página 18, onde há um parágrafo em que Besançon discorre sobre a reação ocidental aos campos de concentração da Rússia comunista. O tradutor omite em uma frase a palavra “soviético”, que consta no original (página 19 da edição francesa), o que pode levar o leitor brasileiro a concluir que a afirmação se refere a campos de concentração nazistas, uma vez que no mesmo parágrafo há uma referência ao nazismo. Assim está redigida a frase erroneamente traduzia: “Para tomar um exemplo, a questão dos campos de concentração levantada por David Rousset pouco antes de 1950, foi considerada escandalosa”. O tradutor esqueceu-se que havia a palavra “soviético” após “campos de concentração”. Tal omissão injustificada pode induzir o leitor a uma confusão, pois compromete o sentido do parágrafo todo.

Os defeitos da edição brasileira, entretanto, para o leitor mais atento, servem apenas para confirmar a tese de Besançon. E mais, os equívocos cometidos na tradução encomendada pela Bertrand Brasil não podem ser atribuídos a um erro inconsciente, ou ignorância. Como muitos outros antes dele, que partiram em defesa de todos os “gêmeos heterozigotos” do socialismo, o Sr. Sader sabia exatamente o que estava fazendo.

Por fim, uma nota de louvor à capa da edição brasileira. Nela, significativamente, aparecem unidas as imagens da suástica, e da foice e o martelo, tendo ao fundo prisioneiros de campo de concentração. Pelo menos o autor da capa apreendeu e sintetizou o exato conteúdo do livro, o que infelizmente não se verificou com o tradutor.

Comentário do Cavaleiro do Templo: Emir Sader é filósofo orgânico do PT (intelectuais orgânicos (organizados, como órgãos de um único organismo, o Partido, o “intelectual coletivo”). Precisa dizer mais?

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".