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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Celso Arnaldo: depois da performance de Anna de Hollanda e Romero Britto, o Ministério da Cultura deveria ser lacrado

AUGUSTO NUNES
27/02/2011 às 15:06 \ História em Imagens




Por Celso Arnaldo Araújo
Dos 37 ministérios do governo Dilma (quatro órgãos e oito secretarias com status de ministério e 25 ministérios propriamente ditos), pelo menos 10 não serão sequer notados ao longo de quatro anos, seja pela insignificância da pasta ou de seu titular 196 ─ a menos que um ou outro, entre notórios pintas bravas, coloque as manguinhas de fora e os mangotes pra dentro.
O Ministério da Cultura – desmembrado do da Educação em 1985 por iniciativa do então recém-empossado presidente Sarney, o acadêmico Sarney – deveria estar na cota dos que precisam mostrar serviço, quando nada pela nobreza de seu objeto.
Está certo que, ao longo desses 25 anos, a pasta foi ocupada por inexpressividades culturais como José Aparecido de Oliveira, Aluisio Pimenta, Hugo Napoleão e Juca Ferreira – nomes de indicação política intercalados com intelectuais de nomeada, mas muito pouco à vontade na administração pública, como Celso Furtado, Antonio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet e Francisco Weffort.
Fazendo um balanço de suas Bodas de Prata, o Ministério da Cultura quase sempre foi uma miragem de boas intenções e muitas visões distorcidas, como é próprio das miragens. Poderíamos, sim, ter vivido sem ele todo esse tempo – a cultura erudita ou comercial sobreviveria através de seus mecenas naturais; a popular, de raiz, pela espontaneidade das manifestações da terra.
Mas a presidente Dilma não tem sido apresentada como contraponto à tronchisse de seu mentor Lula? Como a devoradora de livros, artes plásticas, Bach e Mozart? Ao aceitar de bom grado essa pecha de refinamento – que os frequentadores desta coluna sabem ser tão falsa quanto a nova cabeleira do Eike Batista – ela estaria obrigada a fazer do Ministério da Cultura, pelo menos na aparência, um dos pontos de honra de seu governo. E o que fez Dilma? A resposta inequívoca, sem margem a dúvidas ou interpretações, está neste vídeo estarrecedor. A ministra da Cultura de Dilma, Ana de Hollanda, é apenas a metade de um sobrenome ilustre. Seria essa sua única credencial para o posto? Tudo indica.
No começo do ano, em homenagem a Dilma Rousseff, o “artista pop brasileiro” Romero Britto, há anos radicado nos Estados Unidos, onde realiza trottoir permanente pelo universo das celebridades, fez um retrato da presidente – naquele estilo “meio Andy Warhol/meio Picasso depois de um estágio no ateliê de José Antonio da Silva”. E comprou uma página inteira no New York Times para anunciar o feito e bajular Dilma.
Há duas semanas, em audiência no Palácio do Planalto, acompanhado pela ministra Ana, o cubista pop levou o presente à presidente Dilma – como costuma fazer, em sua bem-sucedida estratégia de marketing, quando pinta poderosos: entrega em domicílio, sob holofotes. Na saída, abordados pelos jornalistas, Romero e a ministra protagonizaram um momento que, num país sério, causaria o lacramento do Ministério.
O vídeo começa – sem fala, para não ser ainda mais estupefaciente – com retratista e retratada posando (ou pousando, diria Emir Sader) ao lado do retrato. De início uma confirmação: os críticos dizem que todos os retratos feitos por Romero Britto – de Madonna ao Príncipe Charles – parecem-se com…Romero Britto. De fato, ele e o retrato de Dilma foram separados ao nascer. E agora reunidos com a própria Dilma. Mas o vídeo se torna um documento histórico – prova da seriedade que Dilma Rousseff pretende emprestar à Cultura em seu governo – quando entram em cena, aos 26 segundos, a ministra e o artista. Ele, num terno marca-texto e sapatos caneta Pilot. Ela, bem, ela é a irmã do Chico – até a bolsa descomunal, completamente fora de mão, deve ter seus fãs.
Talvez por incultura minha, não sabia da existência de Ana Buarque de Hollanda até sua indicação para o ministério – portanto nunca a tinha ouvido falar. Parece que fazia carreira como cantora e professora de música. Leio em seu currículo que, ano após ano, ministra oficinas, sempre sobre o mesmo tema: “O Cantor e a Segurança Interpretativa na Música Popular”.
Com base neste vídeo, a oficina “A Ministra e a Segurança Expositiva no Governo Dilma”, ministrada por Ana de Hollanda, é um retumbante fracasso. Ela explica aos repórteres o que Romero foi fazer no gabinete de Dilma:
“Uma audiência com a presidenta, é, vocês até fotografaram, é, deu um presente maravilhoso para ela, um retrato lindo”, explica a ministra, 62 anos mas carinha de menina encabulada encarregada de fazer a apresentação do trabalho da turma, naquela sem-jeitice que se confunde facilmente com despreparo, descrevendo para a imprensa o que, como ela mesmo diz, todos tinham acabado de ver e fotografar. Prossegue, ainda fora de prumo:
“Nossa presidenta ela conheceu seu trabalho no Hospital da Mulher, né Romero, ficou encantada. Tava contando isso, e aí ele apresentou várias propostas de trabalho, e eu vou deixá o Romero contá, acho que foi um assunto direto com ele, mas eu sou testemunha de que ela ficou apaixonada, o trabalho dele é muito alegre, muito colorido, muito, algumas marcas que são muito a cara do Brasil, essa coisa jovem, essa coisa cheia de energia, cheia de ideia, cheia de colorido, e umas ideias muito boas que ela gostou demais, né Romero? Então fala aí para eles”.
Então, a ministra da Cultura, que se expressa como a ginasiana que se senta no fundo da sala para não ser notada pelo professor, se recolhe e se encolhe, deixando restos de um sorriso que teima nervosamente em permanecer onde já não cabe.
Mas antes que Romero “fale aí pra eles” – hello: num estranhíssimo sotaque luso-americano para um pernambucano da gema – talvez fosse o caso de esclarecer o que seriam essas “várias propostas de trabalho” e “umas ideias muito boas” que a presidenta (arghh) gostou demais.
Romero gostaria de uma boquinha no Planalto como retratista oficial, uma espécie de Velázquez de Filipe IV na corte de Dilma I? Para tentar descobrir a verdadeira intenção do retrato de Dilma, eu precisaria ter assistido ao restante do vídeo – tarefa de que abro mão gostosamente, repassando-a aos pacientes colaboradores
Mas, pensando bem, nenhuma surpresa: Dilma Rousseff tem uma ministra da Cultura à sua altura.
E pensando o pior: no fundo, quem transformou Ana de Hollanda em ministra de Estado foi José Sarney, em 1985…

3 comentários:

Fusca disse...

Aiiiii, seráaááá que o Rommero Britto me apresenta para a ministra Anna de Hollanndda, e avalia a arte das charges do Fusca para doar para o blog da presidentA governantA chefA do Brasil? Aiiiii, vou adoraaaarrrr.

Fusca disse...

Artista brasileiro o caramba, é um grande lambe-botas (principalmente as de tamanho 44), um verdadeiro FILHO DILMA LULLA.

"Política sem medo" disse...

Minha nossa, nos nao poderiamos viver sem essa foto da PRESIDANTA! Alias a cultura da ministra Anna de Hollanda e visivel quando ela fala presidenta e no e seguida pelo artista plastico. Acho que Dilma sera agora uma nova mulher. E um trabalho tao importante que nunca ouvi falar nesse "artista plastico". A proxima favorecida por tao extremo ato de doacao sera a Roberta. Que faz a Roberta? Ja deve ter um cargo no ministerio. Bom para quem gosta de coisas bizarras e inuteis.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".