6/8/2009 - 21h21
Estados Unidos dão tratamento desigual a governo de Honduras, Cuba e Venezuela.
Armando Valladares
Quando o presidente hondurenho Manuel Zelaya foi deposto, por ordem da Suprema Corte daquele país e com o apoio majoritário do Congresso, Honduras caminhava rapidamente para uma ditadura chavista, passando por cima da Constituição e das leis locais. Além do mais alto órgão judicial de Honduras, os mais importantes representantes políticos e religiosos do país já vinham alertando sobre o risco chavista.
Mas nem o presidente Obama nem o secretário geral da OEA, o socialista chileno Insulza, nem o "moderado" presidente do Brasil, Lula da Silva, nem mesmo – até onde sabemos – nenhum outro presidente latino-americano disse uma palavra sobre o fato. Alegou-se a autodeterminação, bem como a necessidade do diálogo, o respeito pelo processo político interno etc.
Todos esses atores políticos tiveram a chance de interceder a favor de Honduras e, embora essas oportunidades sejam muito recentes, eles preferiram lavar as mãos, como Pilatos. Eu gostaria de destacar duas dessas oportunidades.
A primeira foi durante a Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, perto de Honduras, durante a qual o presidente Obama, com seu estilo neo-kerenskysta, foi todo sorrisos com o ditador-presidente Chávez, flertou com o próprio Zelaya e com outros presidentes populistas-indígenas, como Correa, do Equador, e Morales, da Bolívia, elogiou o Lula "moderado" e anunciou que estava querendo dialogar e estabelecer "um novo começo" com a sanguinária ditadura de Castro.
A segunda foi na Assembléia Geral da OEA – que por uma ironia da história foi realizada na própria Honduras – durante a qual, com a aprovação do governo Obama, a ditadura de Castro foi absolvida e as abriram-se as portas para o país voltar ao organismo internacional. Debaixo dos próprios narizes e diante dos próprios olhos, os ministros das Relações Exteriores dos governos das Américas puderam sentir e ver a grave situação interna de Honduras. Contudo, todos eles preferiram lavar as mãos, como Pilatos.
Quando Zelaya foi afastado do poder, por determinação da Corte Suprema, com base em preceitos constitucionais que impedem que um presidente seja reeleito, as fantasias foram rasgadas e iniciou-se uma das maiores gritarias de esquerdistas e "moderados úteis" da história contemporânea, com uma verdadeira fúria contra um pequeno país que decidiu resistir a essas pressões. Um pequeno país que se agigantou espiritualmente, inspirado na expressão de São Paulo, esperando "contra toda as esperanças humanas", porém aguardando tudo da Providência, e lembrando o personagem bíblico de Davi contra Golias aos que se importam com o drama hondurenho.
No momento em que escrevia essas linhas, o presidente deposto Zelaya ameaçava voltar a Honduras, onde, segundo advertências, ele pode se tornar responsável pelo derramamento de sangue entre irmãos. Diante da resistência hondurenha, até o presidente-ditador Chávez olha para o presidente Obama e espera que ele quebre as resistências hondurenhas ao chavismo no país. Também no momento em que escrevia essas linhas, era divulgada a notícia de que a secretária de Estado, Hillary Clinton, havia telefonado ao presidente interino de Honduras, e a versão é de que ela lhe teria dado um ultimato.
Trata-se da mesma secretária Clinton que em Honduras, na recente reunião da OEA, aprovou a absolvição da sangrenta ditadura de Castro; a mesma secretária de Estado que, junto com o presidente Obama, está aberta ao diálogo com o governo pró-terrorista iraniano. Ela abre os braços aos comunistas cubanos, reúne-se e ri com o presidente-ditador Chávez e bate a porta na cara da delegação civil hondurenha que foi a Washington para simplesmente explicar sua versão dos fatos.
Há dois pesos e duas medidas de injustiça, hipocrisia e arbitrariedade que chocam. Como já foi lembrado, o cardeal de Honduras advertiu o presidente deposto Zelaya de que ele será responsabilizado pelo banho de sangue que possa ocorrer se forçar sua volta a seu país.
Por minha parte, como ex-preso político cubano durante 22 anos nas cadeias de Castro, em minha condição de embaixador dos EUA na Comissão de Direitos Humanos da ONU durante vários anos e como simples cidadão das Américas, tenho certeza de que, assim como o presidente Eduardo Frei Montalva passou para a história como o Kerensky chileno, por pavimentar o caminho para o socialista Fernando Allende, o presidente Obama corre o risco de passar à história como o Kerensky das Américas, se continuar a empurrar Honduras para o abismo chavista.
Armando Valladares foi embaixador dos Estados Unidos na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, durante os governos Reagan e Bush. Recebeu recentemente em Roma um importante prêmio de jornalismo por seus artigos em favor da liberdade em Cuba e no mundo inteiro.
Tradução: Rodrigo Garcia
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