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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Leszek Kolakowski e a teoria da antijardinagem

Fonte: OBSERVATÓRIO DE PIRATININGA
QUINTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO DE 2009

Morreu a 20 de julho passado, aos 81 anos, em Oxford, Inglaterra, o filósofo polonês Leszek Kolakowski, que combateu o marxismo e inspirou, do exílio, o movimento Solidariedade em sua terra natal. No site da preciosa Dicta & Contradicta encontrei um texto de Kolakowski em inglês, que tomei a liberdade de traduzir.

Sua obra principal é o livro "Principais correntes do marxismo: sua ascensão, queda e dissolução", publicada em 1970, que já apontava que a doutrina de Marx era "a maior farsa de nosso século", enquanto nós, no Brasil, embarcávamos com tudo nessa canoa furada. A destacar: para o filósofo, o stalinismo não era uma perversão do marxismo, mas a sua conclusão lógica.

Dominada pelo ópio dos intelectuais, a "intelequitualidade" brasileira teria muito a aprender com as lições de Kolakowski, para quem o papel da filosofia "é nunca deixar dormir a energia investigativa da mente, nunca parar de questionar o que parece ser óbvio e definitivo, sempre resistir aos recursos aparentemente invioláveis do senso comum" e "nunca esquecer que existem questões subjacentes para além dos horizontes estabelecidos da ciência, cuja importância é crucial para a sobrevivência da humanidade tal qual a conhecemos".

Com vocês Leszek Kolakowski:

Teoria geral da antijardinagem: imensa contribuição a Antropologia social, Ontologia, Filosofia Moral, Psicologia, Sociologia, Ciência Política e muitos outros campos da pesquisa científica

Os que odeiam a jardinagem precisam de uma teoria. A antijardinagem sem uma teoria é um modo de vida superficial e sem mérito.

Uma teoria só precisa ser convincente e científica. Mas, para muitos, muitas teorias são convincentes e científicas. Portanto, precisamos de várias teorias.

A alternativa à antijardinagem sem uma teoria é cultivar um jardim. No entanto, é mais fácil ter uma teoria do que cultivar um jardim.

Teoria marxista
O capital tenta corromper as mentes das massas incultas e envenená-las com “valores” reacionários. Quer “convencer” os trabalhadores de que a jardinagem é um grande “prazer” para mantê-los ocupados em seu tempo ocioso, evitando que façam a revolução proletária. Além disso, o capital quer incutir-lhes a crença de que, com seu miserável jardim, eles são verdadeiros “proprietários” e não servos, de modo a cooptá-los para o lado dos patrões na luta de classes. Portanto, cultivar um jardim é participar da grande conspiração neoliberal que aponta para a rendição incondicional das massas. Abaixo os jardins! C.Q.D.

Teoria psicanalítica
A paixão pela jardinagem é uma qualidade tipicamente inglesa. É fácil perceber a razão disso. Foi na Inglaterra que a Revolução Industrial ocorreu inicialmente. A Revolução destruiu o meio ambiente. A natureza é o símbolo da Mãe. Matando a natureza, o povo inglês cometeu o matricídio. Os ingleses são subconscientemente assombrados pelo sentimento de culpa e tentam expiar seu crime cultivando e embelezando seus jardins domésticos e pseudo-naturais. Jardinagem é a participação numa gigantesca autofrustração que perpetua o mito infantil. Não entre nessa. C.Q.D.

Teoria existencialista
As pessoas cultivam jardins para tornar humana a natureza, para “civilizá-la”. Isso, no entanto, é uma tentativa desesperada e fútil de transformar o ser-em-si no ser-para-si. Isso não só é ontologicamente impossível; é também uma forma abjeta, moralmente inadmissível de escapar da realidade, tanto quanto a diferença entre o ser-em-si e o ser-para-si jamais pode ser abolida. Cultivar um jardim, ou imaginar que se pode “humanizar” a natureza, é tentar esvaziar essa diferença e negar desesperadamente seus status ontológico intrinsecamente inumano. Cultivar um jardim é pura má-fé. Cultivar um jardim é um equívoco. C.Q.D.

Teoria estruturalista
Nas sociedades primitivas, a vida se dividia no binômio antitético trabalho/lazer, que corresponde à diferença campo/casa. As pessoas trabalhavam no campo e descansavam em casa. Nas sociedades modernas, o eixo de oposição foi invertido: as pessoas trabalham em casas (fábricas, escritórios) e descansam a céu aberto (jardins, parques, florestas, rios, etc.). A distinção é crucial como suporte do modelo conceitual com o qual as pessoas estruturam sua vida. Jardinagem é confundir a distinção entre casa e campo, entre lazer e trabalho; é esvaziar ou até destruir a estrutura oposicional que é a condição mesma do pensamento. Jardinagem é um mal-entendido. C.Q.D.

Filosofia analítica
Apesar dos muitos esforços, não se chegou a nenhuma definição satisfatória de jardim e jardinagem; todas as definições existentes apresentam uma vasta margem de incerteza sobre o que pertence ao quê. Simplesmente não sabemos o que são o jardim e a jardinagem. Assim, usar esses conceitos é uma irresponsabilidade intelectual e, de fato, a jardinagem poderia ser muito mais do que isso. É melhor não cultivar jardins! C.Q.D.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".