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quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sr. Política volta com dedo acusador

ESTADÃO
Luiz Carlos Merten | Quarta-Feira, 08 de Abril de 2009

Em Katyn, em cartaz a partir de amanhã, Wajda reconstitui o massacre perpetrado pelos soviéticos e atribuído aos nazistas

No ano passado, Andrzej Wajda mostrou fora de concurso, no Festival de Berlim, um dos trabalhos mais ambiciosos da fase recente de sua carreira, Katyn. Este ano, o mestre polonês voltou à Berlinale participando da competição, e ganhou um prêmio por Tatarak, um relato intimista (e metalinguístico) adaptado do romance de Jaroslaw Iwaszkiewicz. Grande Wajda - ao longo de sua carreira de mais de 50 anos, o nome do diretor virou sinônimo de cinema político e foi isso mesmo que Jane Fonda disse ao lhe entregar o Oscar honorário que ele ganhou da Academia de Hollywood, em 2000. A Passionária de Hollywood, a grande contestadora dos anos 70, curvou-se diante de Wajda e o chamou de Sr. Política (Mr. Politics). A política realmente dá o tom das obras de Wajda que marcaram o cinema polonês e mundial - Kanal, Cinzas e Diamantes, Terra Prometida, O Homem de Mármore, Sem Anestesia, O Maestro, O Homem de Ferro. A provocação volta com Katyn.

link Assista ao trailer do filme Katyn trailer 

Em Berlim, Andrzej Wajda contou como foi obcecado, durante anos, por contar essa história sinistra sobre como um massacre de oficiais do Exército polonês foi atribuído aos nazistas, durante a 2ª Guerra Mundial, mas na realidade o crime foi cometido pelos comunistas que já estavam preparando o caminho para a tomada do poder, após a guerra. Há um totalitarismo do partido (comunista) contra o qual Wajda se insurge em seus filmes. O Maestro, O Homem de Mármore tratam disso. Em O Homem de Ferro, o cineasta tomou o partido de Lech Walesa e do sindicato Solidariedade (e o filme foi recompensado com a Palma de Ouro em Cannes). Katyn retira seu título da floresta da Rússia em que o crime foi perpetrado, em 1940. (Leia texto no quadro.) Durante décadas, o assunto foi tabu na Polônia. Somente depois de 1990, quando Mikhail Gorbachev se desculpou oficialmente, os poloneses puderam questionar abertamente o que havia ocorrido com suas lideranças.

Wajda explicou em Berlim, a um grupo de jornalistas, porque queria contar tanto essa história. "Perdi meu pai em Katyn, quando ainda era garoto (NR - o cineasta nasceu em 1926) e essa história terrível era um segredo de família que nos devastava." A ausência do pai foi fundamental em sua vida e se reflete na obra, habitada por mulheres marcantes como a mãe que lhe serviu como farol. Apesar do envolvimento pessoal, Wajda tentou fazer o filme com objetividade - com isenção, seria impossível. "Nunca pensei nessa história como uma ?memoir? de meu pai. Para mim, deveria ser um thriller político, para atingir o maior número possível de espectadores." Ele explicou que as restrições da censura oficial não foram o único empecilho à realização do filme. "O formato que eu queria não facilitou as coisas. Queria contextualizar o massacre num quadro amplo, contando a história desses oficiais e suas famílias e também tentando situar o que ocorria na Europa, na época. O roteiro foi escrito a partir de cenas selecionadas e diálogos extraídos de diários e da correspondência trocada entre os oficiais e suas famílias. Quis ser o mais exato possível, quase documentário, embora o que me interesse seja a ficção."

O filme começa com o Pacto Molotov-Ribbentrop, entre alemães e russos, que na guerra viriam a se tornar adversários. O jovem oficial Andrzej não atende aos pedidos da mulher e, no caos reinante - os poloneses ficam imprensados numa ponte, acossados pelos alemães numa ponta e pelos soviéticos na outra -, permanece ao lado dos companheiros de Exército, classificados como prisioneiros de guerra. Alguns personagens são reais - a mulher do general Smorawinski, o professor da Universidade de Cracóvia e sua esposa, mas a maioria é formada por uma combinação de figuras reais e fictícias, como o major russo Popov, cujo nome e passado são autênticos, mas sua participação na trama é uma especulação." Stalinistas de carteirinha poderão reclamar do formato tradicional, que transforma Katyn num filme de guerra em que o holocausto é redirecionado - os alemães são substituídos por comunistas e os judeus, por católicos poloneses.

Se a montagem do roteiro foi complicada, a financeira foi mais complicada ainda. "Foi difícil conseguir parceiros internacionais. Mesmo a França foi reticente. Natural, pois estava implicada." Para enfatizar a estrutura ?clássica? do seu relato, Wajda reserva para o desfecho a reconstituição do massacre dos 14 mil poloneses prisioneiros de guerra, entre oficiais e civis, executados pela NKVD, a polícia política soviética. É brutal. Existem ecos de Cinzas e Diamantes, o clássico de 1961 em que Zbigniew Cybulski faz um mercenário contratado pela direita polonesa para matar um líder comunista. Aqui, o caminho é de certa forma inverso, mas o retrato de época expõe a realidade de um país dividido, como era a Polônia da 2ª Guerra. O desfecho, como diria Shakespeare, é puro silêncio. Wajda, pintor, homem de teatro e cinema, queria terminar Katyn sob o signo dessa gravidade. "É o filme sobre a morte de uma nação, ou pelo menos dos sonhos de toda uma geração, que repercutiu pelas gerações seguintes." Sabendo que seu material era pura dinamite, o cineasta estava cauteloso no ano passado. Haviam políticos russos interessados em vincular o lançamento à data de aniversário de Josef Stalin, para criticá-lo. Wajda não concordou - "O filme é verdadeiro e necessário, mas também conta uma experiência muito íntima. Não quero servir como massa de manobra." Neste ano, em Berlim, ele admitiu que Katyn não obteve metade da repercussão política - nem na Polônia - que ele esperava. Sinal dos tempos. "As pessoas e o próprio cinema atual temem a política, infelizmente." 


A história real

Durante décadas, entre 1940 e 90, o assunto era tabu, tratado como segredo de Estado. Em plena 2.ª Guerra, 14 mil poloneses prisioneiros de guerra, entre oficiais do Exército e lideranças civis, incluindo políticos e intelectuais, foram mortos pela polícia secreta soviética, a NKVD, na floresta de Katyn, onde os corpos foram enterrados em valas comuns.

Durante anos, famílias inteiras esperaram pelo retorno de seus familiares. Quando o massacre foi descoberto, em 1943, as autoridades o atribuíram aos nazistas e o jornal Pravda chegou a sugerir que era uma limpeza de arquivo - os mortos seriam poloneses que colaboravam com o Exército invasor de Adolf Hitler. Em 1952, uma comissão do Congresso dos Estados Unidos investigou o assunto e apontou para a responsabilidade da URSS. Moscou reagiu acusando os norte-americanos e dizendo que era manobra da Guerra Fria.

Nos quase 40 anos seguintes, as tentativas de estabelecer os fatos esbarravam na censura oficial e até na repressão. Em 1990, Mikhail Gorbachev admitiu o crime e pediu, oficialmente, desculpas ao povo polonês.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".