Crítica Luiz Zanin Oricchio | Quarta-Feira, 08 de Abril de 2009
Diretor polonês faz um drama de guerra sóbrio, com cenas impressionantes e amparado em inserções documentais
Katyn é um drama de guerra sólido, embora um tanto careta do ponto de vista da linguagem cinematográfica. Lógico que essa passa a ser uma questão secundária, dado o interesse daquilo que o veterano diretor polonês tem a dizer. Por uma vez, temos um episódio da 2ª Guerra que não envolve diretamente o Holocausto. Mas temos um genocídio, o dos oficiais poloneses, ora atribuído aos nazistas ora ao exército soviético.
Sempre é muito difícil escapar dessas dicotomias em filmes do gênero, mesmo nos melhores, sobretudo porque as situações de guerra em geral ficam pouco claras para os participantes. Carl von Clausewitz chamava a esse fenômeno de "a névoa da guerra", expressão aliás usada como título de um filme que tem o secretario de Estado americano durante a Guerra Fria, Robert McNamara, como protagonista. O que não quer dizer que não se possam identificar heróis ou vilões mesmo em meio a esse fog sinistro. Mas as nuances parecem, nesses casos, mais presentes que contornos nítidos. Desse modo, a tendência do cinema é simplificar, para que não caibam dúvidas. E há aqui outro ponto: se é difícil distinguir com clareza heroísmos e vilanias dos oponentes, há uma vítima clara da guerra, e esta é facilmente identificável: a população civil.
Esse mesmo Clausewitz a que nos referimos é autor do clássico Da Guerra e autor da frase famosa sobre a guerra como continuação da política por outros meios. Uma visão fria, porém racional. Se quisermos entender as guerras temos de compreendê-las como atos da política, isto é, de busca pelo poder. Se quisermos nos compadecer das vítimas, podemos dispensar esse esforço, pois os horrores da guerra são bem claros.
A opção de Wajda é muito clara. Ele deseja levantar o véu de uma ignomínia e dirige seu filme dessa forma. As cores são sóbrias e discretas. A música de Penderecki empresta tom solene e angustiante ao relato. A brutalidade da morte aparece com nitidez na sequência mais forte do filme, o das execuções em série, como num matadouro de gado. Por fim, as inserções documentais - filmes de época, com as imagens da vala comum de Katyn - emprestam a credibilidade ao relato. É a força adicional que recebem os filmes históricos quando são, como este, "baseados em fatos reais". Convidam o espectador a nunca esquecer que, se o filme é uma encenação, ele o é de algo que realmente aconteceu, ainda que alguns personagens sejam fictícios e, outros, sínteses de pessoas reais com imaginárias.
A questão trabalhada por Wajda é, no fundo, muito simples. Não se trata mais de atacar o nazismo em obras sobre a 2ª Guerra, pois Hitler e sequazes são cachorros mortos da História. É preciso ver, em especial do ponto de vista polonês, a outra praga, stalinista, que se abateu sobre a Polônia com a vitória aliada. Essa a tragédia da Polônia, espremida entre potências. Por isso, uma personagem diz, em alto e bom som, que o país jamais seria livre.
Sempre é muito difícil escapar dessas dicotomias em filmes do gênero, mesmo nos melhores, sobretudo porque as situações de guerra em geral ficam pouco claras para os participantes. Carl von Clausewitz chamava a esse fenômeno de "a névoa da guerra", expressão aliás usada como título de um filme que tem o secretario de Estado americano durante a Guerra Fria, Robert McNamara, como protagonista. O que não quer dizer que não se possam identificar heróis ou vilões mesmo em meio a esse fog sinistro. Mas as nuances parecem, nesses casos, mais presentes que contornos nítidos. Desse modo, a tendência do cinema é simplificar, para que não caibam dúvidas. E há aqui outro ponto: se é difícil distinguir com clareza heroísmos e vilanias dos oponentes, há uma vítima clara da guerra, e esta é facilmente identificável: a população civil.
Esse mesmo Clausewitz a que nos referimos é autor do clássico Da Guerra e autor da frase famosa sobre a guerra como continuação da política por outros meios. Uma visão fria, porém racional. Se quisermos entender as guerras temos de compreendê-las como atos da política, isto é, de busca pelo poder. Se quisermos nos compadecer das vítimas, podemos dispensar esse esforço, pois os horrores da guerra são bem claros.
A opção de Wajda é muito clara. Ele deseja levantar o véu de uma ignomínia e dirige seu filme dessa forma. As cores são sóbrias e discretas. A música de Penderecki empresta tom solene e angustiante ao relato. A brutalidade da morte aparece com nitidez na sequência mais forte do filme, o das execuções em série, como num matadouro de gado. Por fim, as inserções documentais - filmes de época, com as imagens da vala comum de Katyn - emprestam a credibilidade ao relato. É a força adicional que recebem os filmes históricos quando são, como este, "baseados em fatos reais". Convidam o espectador a nunca esquecer que, se o filme é uma encenação, ele o é de algo que realmente aconteceu, ainda que alguns personagens sejam fictícios e, outros, sínteses de pessoas reais com imaginárias.
A questão trabalhada por Wajda é, no fundo, muito simples. Não se trata mais de atacar o nazismo em obras sobre a 2ª Guerra, pois Hitler e sequazes são cachorros mortos da História. É preciso ver, em especial do ponto de vista polonês, a outra praga, stalinista, que se abateu sobre a Polônia com a vitória aliada. Essa a tragédia da Polônia, espremida entre potências. Por isso, uma personagem diz, em alto e bom som, que o país jamais seria livre.
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