O texto a seguir é um capítulo do livro "Intervencionismo" de Ludwig Von Mises. O livro foi escrito em 1940 e a versão eletrônica completa está disponível para download em nossa Biblioteca Online ou clicando aqui.
É inegável que, nos dias de hoje, ditadura, intervencionismo e socialismo são extremamente populares. Nenhum argumento lógico consegue enfraquecer essa popularidade. O fanatismo impede que os ensinamentos da teoria econômica sejam escutados, a teimosia impossibilita qualquer mudança de opinião e a experiência não serve de base a nada.
Para compreender as raízes dessa rigidez devemos nos lembrar que as pessoas sofrem porque as coisas nem sempre se passam da maneira que elas gostariam. O homem nasce como um ser egoísta, não sociável, e só com a vida aprende que sua vontade não é a única nesse mundo e que existem outras pessoas que também têm suas vontades. A vida e a experiência irão ensinar-lhe que para realizar os seus planos terá que encontrar o seu lugar na sociedade, terá que aceitar as vontades e os desejos de outras pessoas como um fato e que terá que se ajustar a esses fatos, se quiser chegar a algum lugar. A sociedade não é o que o indivíduo gostaria que fosse. Qualquer indivíduo tem sobre seus conterrâneos uma opinião menos favorável do que a que tem sabre si mesmo. Julga-se com direito a ter um lugar na sociedade melhor do que o que efetivamente tem. A cada dia o presunçoso — e quem está inteiramente livre da presunção? — tem novos desapontamentos. Cada dia lhe ensina que existem outras vontades além da sua.
O neurótico tenta se proteger desses desapontamentos sonhando acordado. Sonha com um mundo no qual a sua vontade seja decisiva. Só o que tiver a sua aprovação pode acontecer. Só ele pode dar ordens; os outros obedecem. Na sua fantasia, é um ditador.
Na sua secreta fantasia pensa ser um ditador como César, Genghis Khan ou Napoleão. Na vida real. quando fala com os seus conterrâneos, tem que ser mais modesto. Contenta-se em apoiar a ditadura de alguma outra pessoa. Mas, na sua imaginação o ditador está ali para cumprir a sua (do neurótico) vontade. Um homem que, não tendo percebido os seus limites, proclamasse que ele deveria ser o ditador seria considerado insano pelos seus conterrâneos. Os psiquiatras o qualificariam como um megalomaníaco.
Quem apóia uma ditadura, o faz por achar que o ditador está fazendo o que, na sua opinião, precisa ser feito. Quem é favorável a ditaduras tem sempre em mente a necessidade de dominar todas as vontades, inclusive a sua própria vontade.
Examinemos, por exemplo, o slogan "economia planejada", que particularmente nos dias de hoje é um pseudônimo de socialismo. Qualquer coisa que as pessoas façam tem que ser primeiramente concebida e nesse sentido planejada. Mas aqueles que, como Marx, rejeitam a "produção anárquica" e pretendem substituí-la pelo "planejamento" não consideram a vontade e os planos das outras pessoas. Só uma vontade deve prevalecer, só um plano deve ser implementado, qual seja, aquele que tem a aprovação do neurótico, o plano que ele considera correto, o único plano. Qualquer resistência deve ser subjugada, nada que impeça o pobre neurótico de tentar ordenar o mundo segundo seus planos deve ser permitido, todos os meios que façam prevalecer a suprema sabedoria do sonhador devem ser usados. (Cf. SOCIALISMO VS. ECONOMIA DE MERCADO)
Essa é a mentalidade das pessoas que, numa exposição das pinturas de Manet(1) em Paris, exclamavam: a polícia não devia permitir isso! Essa é a mentalidade das pessoas que constantemente clamam: devia haver uma lei contra isso! E, quer eles admitam ou não, essa é a mentalidade de todos os intervencionistas, socialistas e defensores das ditaduras. A única coisa que eles odeiam mais do que o capitalismo é o intervencionismo, socialismo ou ditadura que não corresponda à sua vontade. Com que entusiasmo os nazistas e os comunistas lutam entre si! Com que determinação os partidários de Trotsky(2) combatem os de Stalin ou os seguidores de Strasser(3) os de Hitler.
Notas:
(1) Edouard Manet, pintor impressionista francês. (N. do E.)
(2) Leon Trotsky, comunista russo que se opôs a Stalin e foi exilado. Foi assassinado no México em agosto de 1940. (N. do E.)
(3) Gregor Strasser - um partidário de Hitler que mais tarde discordou dele e foi assassinado. (N. do E.)
"Quem diz: 'deveria haver uma lei sobre isto', está dizendo que homens armados pelo governo deveriam forçar as pessoas a fazer o que não querem, ou a não fazer o que gostariam de fazer... E aquele que diz: 'esta lei deveria ser melhor cumprida', está querendo dizer que a polícia deveria forçar as pessoas a obedecê-la. Aquele que fala em estado, fala em coerção e compulsão. .. Aquele que afirma que o estado é Deus, está endeuzando as armas e as prisões ... pois o culto do estado é o culto da força." (Anônimo)
Numa nota do livro Ludwig von Mises lembra que "Hegel chamava o Estado de 'o Absoluto'. Ferdinand Lasalle dizia "o Estado é Deus'. O professor Werner Sombart, no seu livro German Socialism (Socialismo Alemão), que era bestseller na Alemanha Nazista e que foi traduzido para o inglês e o francês, declara que o Führer recebe suas ordens diretamente de Deus."
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