03/03/2009
Imagine que um pianista, do início ao fim de um concerto, não execute uma única nota. Ou que um político dirija-se à tribuna no Congresso e, durante o tempo em que lá permanece, não pronuncia qualquer palavra. Pois é, na exposição que está sendo realizada no Centro Georges Pompidou, em Paris, chamada de “Vazios, uma retrospectiva”, simplesmente não há nada para se ver, além de nove salas inteiramente vazias! A explicação de Mathieu Copeland, um dos curadores do evento, é que “não se trata de uma exposição radicalmente conceitual, mas sim de um convite para explorar de forma bastante física os espaços, que têm cada qual a sua textura. É uma verdadeira experiência”. É claro que o sujeito não está dizendo absolutamente nada e que se trata de um hino niilista à estupidez e à desumanização, associado a uma pressuposição mórbida de que todos os que amam as artes são fantoches perfeitos.
Este fato ilustra bem o ponto a que quero chegar: o mundo está doente, espiritualmente doente! Percebe-se claramente – e não apenas na crise expressiva da arte, mas em praticamente todos os campos da ação humana – uma ruptura geral da perda de sentido da forma e da finalidade das coisas, bem como de desvio de valores!
Nove salas vazias! Isto é arte? O homem de nossos dias precisa ser reeducado, precisa aprender a desenvolver juízos de valor, mais do que pensamentos pura e pretensamente “racionais”, precisa deixar de ser escravo do reducionismo tecnológico. Com efeito, ele não vem apenas sendo vítima de uma dessacralização do belo em todos os níveis imagináveis, mas também do esquecimento e da negação do belo sob os ditames do niilismo, filho dileto do relativismo moral. É preciso dar a esse homem a oportunidade de redescobrir a dimensão ontológica do belo, para que ele possa voltar a sentir o arrepio metafísico (na expressão do filósofo italiano Giovanni Reale) que o belo provoca, quando apreciado com autenticidade.
Você iria, leitor, à exposição do Centro Georges Pompidou? Pagaria a entrada para contemplar o vazio? Sinceramente, nem que me pagassem bem...
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Um comentário:
Caro Cavaleiro, não iria ver o vazio hehe. Muito vazio para o meu gosto. Desconstruído, à la Derrida...
Assim como não iria ver o papel carbono, a guerrilheira assaltante, no "cheio" da missa, fazendo-se passar por Ester, uma avatar, que de guerrilheira nem de assaltante não tem nada.
As aves de rapina não têm descanso e invadiram até o templo, como foi profetizado. E templo de que padre, não?
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