Domingo, 07 de Dezembro de 2008
Guerrilha maoísta ressuscita graças ao lucro do narcotráfico e espalha uma nova onda de violência pelo Peru
As atividades do narcotráfico em áreas cocaleiras do Peru trazem de volta a lembrança dos violentos episódios que abalaram o país durante o auge dos ataques do Sendero Luminoso, nos anos 80. Fortalecidos pelo lucro da produção de cocaína, grupos remanescentes da guerrilha maoísta dão início a um novo capítulo na luta do governo peruano contra os rebeldes. Desta vez, porém, os objetivos econômicos do Sendero parecem se sobrepor aos políticos.
"O novo Sendero não é uma organização que busca poder político - os militantes lutam agora pelo controle das rotas de escoamento da droga", afirmou ao Estado, por telefone, Jaime Antezana, pesquisador peruano especializado em narcotráfico. "O movimento impulsionado por esse grupo é tão diferente da guerrilha dos anos 80 que é mais apropriado denominá-lo ?narco-senderismo?. Eles não são como os revolucionários de antigamente."
VIOLÊNCIA
Depois de passar mais de uma década na obscuridade, os ataques da guerrilha têm-se tornado cada vez mais freqüentes. Em menos de dois meses, mais de 20 militares foram mortos, segundo dados do governo. Na semana passada, o presidente Alan García afirmou que os recentes atentados são perpetrados por "traficantes disfarçados de terroristas políticos".
O Peru é, juntamente com Colômbia e Bolívia, um dos principais produtores mundiais de coca. Segundo Héctor Luis Saint-Pierre, coordenador da área de paz, defesa e segurança internacional do programa San Tiago Dantas (que reúne pesquisadores da Unesp, PUC-SP e Unicamp), o Sendero aproximou-se dos traficantes depois que teve contato com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), há dois anos.
"O vínculo com o tráfico ajudou o Sendero a melhorar seu estoque de armas", disse Saint-Pierre. "Todo o financiamento que eles recebem hoje vem das drogas e seus objetivos também se concentram nesse campo - não há mais nenhuma reivindicação política."
As autoridades peruanas estimam em 300 o número de combatentes ativos do Sendero. Combatê-los se transformou em um grande desafio para García, que tem o índice mais baixo de popularidade desde que assumiu, em 2006 - apenas 19% aprovam seu governo.
"A fragilidade do sistema político peruano sempre deixou aberta a possibilidade de a guerrilha recuperar força", afirmou o historiador Eduardo Toche, do Centro de Estudos e Promoção do Desenvolvimento, em Lima. "No entanto, o Sendero não é ameaça para o governo."
Entre 1980 e 2000, a guerra entre o Estado peruano e a guerrilha deixou cerca de 70 mil mortos. Para Antezana, o ressurgimento do Sendero renova o conflito, que agora tem novas metas. "Apesar de as facções remanescentes terem retomado o discurso ideológico, a reinvenção da guerrilha tem apenas um fim: ocultar o que eles realmente são - um braço armado do narcotráfico."
OFENSIVA GUERRILHEIRA
18/5/1980: Sendero Luminoso declara guerra ao Estado peruano, abrindo campanha de violência que deixaria cerca de 70 mil mortos no país
16/7/1992: Carro-bomba explode na Rua Tarata, em Lima, matando 23 e ferindo 100
21/3/2002: Atentado com carga de 50 quilos de dinamite deixa dez mortos e 30 feridos nas proximidades da Embaixada dos EUA, em Lima
9/6/2003: Cerca de 200 guerrilheiros seqüestram 60 pessoas - entre eles policiais e estrangeiros - perto de La Mar, 350 quilômetros ao sul de Lima
9/10/2008: Ataque a comboio militar mata 14 pessoas
26/11/2008: Guerrilha ataca militares e mata quatro pessoas. Já são mais 20 o número de de policiais mortos nos últimos dois meses pelo grupo
"O novo Sendero não é uma organização que busca poder político - os militantes lutam agora pelo controle das rotas de escoamento da droga", afirmou ao Estado, por telefone, Jaime Antezana, pesquisador peruano especializado em narcotráfico. "O movimento impulsionado por esse grupo é tão diferente da guerrilha dos anos 80 que é mais apropriado denominá-lo ?narco-senderismo?. Eles não são como os revolucionários de antigamente."
VIOLÊNCIA
Depois de passar mais de uma década na obscuridade, os ataques da guerrilha têm-se tornado cada vez mais freqüentes. Em menos de dois meses, mais de 20 militares foram mortos, segundo dados do governo. Na semana passada, o presidente Alan García afirmou que os recentes atentados são perpetrados por "traficantes disfarçados de terroristas políticos".
O Peru é, juntamente com Colômbia e Bolívia, um dos principais produtores mundiais de coca. Segundo Héctor Luis Saint-Pierre, coordenador da área de paz, defesa e segurança internacional do programa San Tiago Dantas (que reúne pesquisadores da Unesp, PUC-SP e Unicamp), o Sendero aproximou-se dos traficantes depois que teve contato com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), há dois anos.
"O vínculo com o tráfico ajudou o Sendero a melhorar seu estoque de armas", disse Saint-Pierre. "Todo o financiamento que eles recebem hoje vem das drogas e seus objetivos também se concentram nesse campo - não há mais nenhuma reivindicação política."
As autoridades peruanas estimam em 300 o número de combatentes ativos do Sendero. Combatê-los se transformou em um grande desafio para García, que tem o índice mais baixo de popularidade desde que assumiu, em 2006 - apenas 19% aprovam seu governo.
"A fragilidade do sistema político peruano sempre deixou aberta a possibilidade de a guerrilha recuperar força", afirmou o historiador Eduardo Toche, do Centro de Estudos e Promoção do Desenvolvimento, em Lima. "No entanto, o Sendero não é ameaça para o governo."
Entre 1980 e 2000, a guerra entre o Estado peruano e a guerrilha deixou cerca de 70 mil mortos. Para Antezana, o ressurgimento do Sendero renova o conflito, que agora tem novas metas. "Apesar de as facções remanescentes terem retomado o discurso ideológico, a reinvenção da guerrilha tem apenas um fim: ocultar o que eles realmente são - um braço armado do narcotráfico."
OFENSIVA GUERRILHEIRA
18/5/1980: Sendero Luminoso declara guerra ao Estado peruano, abrindo campanha de violência que deixaria cerca de 70 mil mortos no país
16/7/1992: Carro-bomba explode na Rua Tarata, em Lima, matando 23 e ferindo 100
21/3/2002: Atentado com carga de 50 quilos de dinamite deixa dez mortos e 30 feridos nas proximidades da Embaixada dos EUA, em Lima
9/6/2003: Cerca de 200 guerrilheiros seqüestram 60 pessoas - entre eles policiais e estrangeiros - perto de La Mar, 350 quilômetros ao sul de Lima
9/10/2008: Ataque a comboio militar mata 14 pessoas
26/11/2008: Guerrilha ataca militares e mata quatro pessoas. Já são mais 20 o número de de policiais mortos nos últimos dois meses pelo grupo
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