Fonte: Correio Braziliense
Assunto: Opinião
Título: Embargo e bloqueio
Data: 18/11/2008
Crédito: Jarbas Passarinho
Jarbas Passarinho
Foi ministro de Estado, governador e senador
A esquerda — e não a latino-americana apenas — debita aos Estados Unidos a pobreza de Cuba. Mesmo alguns escribas que deveriam honrar os cursos que fizeram insistem em dizer que Cuba sofre uma represália há dezenas de anos, através do bloqueio que lhe é imposto pelos americanos, responsável por sacrifícios desumanos incidindo sobre o povo. Faltam à verdade, pois nunca foi Cuba de Fidel Castro objeto de bloqueio, exceto no episódio da crise dos mísseis, um dos momentos dramáticos da Guerra Fria, que poderia levar à III Guerra Mundial.
Khrushev tentara vários ultimatos malogrados visando a dominar completamente Berlim, cuja crise estendeu-se de 1958 a 1963. Ao lado de seu desejo de represália, buscando atingir os interesses militares dos Estados Unidos no Atlântico, os aviões U2, de espionagem americana, haviam fotografado, de altitudes inacessíveis à artilharia anti-aérea de Cuba, as rampas construídas para lançamento de mísseis de alcance médio, apontados para os Estados Unidos. Quem mais exultava com isso era Fidel Castro, considerando-se livre de uma recidiva do desastrado desembarque de tropa cubana anti-Castro, com instrutores da CIA, na Baía dos Porcos. Khrushev decidiu fornecer os mísseis a serem operados por militares soviéticos.
Kennedy havia tomado posse há pouco, mas diante da ameaça concreta contra o território americano tomou a decisão gravíssima: determinou o bloqueio dos portos de Cuba, para onde já se dirigiam navios soviéticos carregados de mísseis. Bloqueio significou cercar a ilha e impedir sua comunicação com o exterior. Assim foi que os navios soviéticos retornaram ao porto de origem, impedidos de atracar em qualquer ponto da ilha. Felizmente, Moscou submeteu-se ao bloqueio e iniciou negociação para evitar a humilhação.
Afora esse caso isolado, gravíssimo sem dúvida, Cuba nunca foi alvo de bloqueio, mas de embargo, ou seja, o governo americano, em represália à expropriação, por Fidel Castro, dos bens de americanos em Cuba, fez votar lei proibindo o comércio de empresas norte-americanas entre os dois países. Como a ilha dependia de importações de produtos americanos e exportava para os Estados Unidos, sua economia se ressentiu do impedimento. Tenho para mim que o embargo é apenas um estorvo que não é decisivo como represália. Não é propriamente inócuo. Dados confiáveis indicam, no presente, importação indireta de Cuba (através da Espanha ou outro país europeu) de US$ 500 milhões em alimentos dos Estados Unidos.
Lula fará tudo para obter a suspensão do embargo. Leio que o presidente eleito Barack Obama pretende utilizar-se dos ofícios de Lula na sua pretendida aproximação com Raul Castro. Cuba continua comerciando com a Europa, especialmente com a Espanha, que nela tem investimentos consideráveis, com a França e outros países europeus, bem como com a América Latina, notadamente Venezuela e Brasil. Exporta níquel, estimula o turismo de massa antes proibido, hoje uma das fontes mais expressivas da receita, comparável à remessa bilionária de dólares enviados pelos exilados que trabalham nos Estados Unidos. Passou a admitir as joint ventures com empresas capitalistas que pagam US$ 400, via governo, para os trabalhadores nelas empregados.
O governo transforma os dólares em pesos, ao câmbio oficial de 25 pesos cubanos por US$ 1, restando para cada trabalhador US$ 16 dólares. Da Venezuela, recebe mensalmente 100 mil barris de petróleo e, em troca, envia centenas de médicos para assistência aos pobres favelados venezuelanos. Entretanto, quando Fidel foi acometido da doença grave que lhe fez passar (ao menos simbolicamente) o poder ao irmão, foi preciso trazer da Espanha um médico competente para diagnosticar-lhe a doença e salvá-lo da septicemia.
Cuba perdeu a “pensão” que a União Soviética lhe dava, calculada pela historiadora russa Irina Zorina em mais de US$ 100 bilhões nas últimas três décadas, segundo afirmam, em livro documentado, Plínio Mendoza, Carlos Montaner e Álvaro Vargas Llosa. Em compensação, tropas cubanas foram enviadas para Angola, Etiópia, Somália e Nicarágua, com a missão de poupar os militares soviéticos, combatendo ao lado dos guerrilheiros comunistas na expansão do comunismo na África e América Central.
Foi ministro de Estado, governador e senador
A esquerda — e não a latino-americana apenas — debita aos Estados Unidos a pobreza de Cuba. Mesmo alguns escribas que deveriam honrar os cursos que fizeram insistem em dizer que Cuba sofre uma represália há dezenas de anos, através do bloqueio que lhe é imposto pelos americanos, responsável por sacrifícios desumanos incidindo sobre o povo. Faltam à verdade, pois nunca foi Cuba de Fidel Castro objeto de bloqueio, exceto no episódio da crise dos mísseis, um dos momentos dramáticos da Guerra Fria, que poderia levar à III Guerra Mundial.
Khrushev tentara vários ultimatos malogrados visando a dominar completamente Berlim, cuja crise estendeu-se de 1958 a 1963. Ao lado de seu desejo de represália, buscando atingir os interesses militares dos Estados Unidos no Atlântico, os aviões U2, de espionagem americana, haviam fotografado, de altitudes inacessíveis à artilharia anti-aérea de Cuba, as rampas construídas para lançamento de mísseis de alcance médio, apontados para os Estados Unidos. Quem mais exultava com isso era Fidel Castro, considerando-se livre de uma recidiva do desastrado desembarque de tropa cubana anti-Castro, com instrutores da CIA, na Baía dos Porcos. Khrushev decidiu fornecer os mísseis a serem operados por militares soviéticos.
Kennedy havia tomado posse há pouco, mas diante da ameaça concreta contra o território americano tomou a decisão gravíssima: determinou o bloqueio dos portos de Cuba, para onde já se dirigiam navios soviéticos carregados de mísseis. Bloqueio significou cercar a ilha e impedir sua comunicação com o exterior. Assim foi que os navios soviéticos retornaram ao porto de origem, impedidos de atracar em qualquer ponto da ilha. Felizmente, Moscou submeteu-se ao bloqueio e iniciou negociação para evitar a humilhação.
Afora esse caso isolado, gravíssimo sem dúvida, Cuba nunca foi alvo de bloqueio, mas de embargo, ou seja, o governo americano, em represália à expropriação, por Fidel Castro, dos bens de americanos em Cuba, fez votar lei proibindo o comércio de empresas norte-americanas entre os dois países. Como a ilha dependia de importações de produtos americanos e exportava para os Estados Unidos, sua economia se ressentiu do impedimento. Tenho para mim que o embargo é apenas um estorvo que não é decisivo como represália. Não é propriamente inócuo. Dados confiáveis indicam, no presente, importação indireta de Cuba (através da Espanha ou outro país europeu) de US$ 500 milhões em alimentos dos Estados Unidos.
Lula fará tudo para obter a suspensão do embargo. Leio que o presidente eleito Barack Obama pretende utilizar-se dos ofícios de Lula na sua pretendida aproximação com Raul Castro. Cuba continua comerciando com a Europa, especialmente com a Espanha, que nela tem investimentos consideráveis, com a França e outros países europeus, bem como com a América Latina, notadamente Venezuela e Brasil. Exporta níquel, estimula o turismo de massa antes proibido, hoje uma das fontes mais expressivas da receita, comparável à remessa bilionária de dólares enviados pelos exilados que trabalham nos Estados Unidos. Passou a admitir as joint ventures com empresas capitalistas que pagam US$ 400, via governo, para os trabalhadores nelas empregados.
O governo transforma os dólares em pesos, ao câmbio oficial de 25 pesos cubanos por US$ 1, restando para cada trabalhador US$ 16 dólares. Da Venezuela, recebe mensalmente 100 mil barris de petróleo e, em troca, envia centenas de médicos para assistência aos pobres favelados venezuelanos. Entretanto, quando Fidel foi acometido da doença grave que lhe fez passar (ao menos simbolicamente) o poder ao irmão, foi preciso trazer da Espanha um médico competente para diagnosticar-lhe a doença e salvá-lo da septicemia.
Cuba perdeu a “pensão” que a União Soviética lhe dava, calculada pela historiadora russa Irina Zorina em mais de US$ 100 bilhões nas últimas três décadas, segundo afirmam, em livro documentado, Plínio Mendoza, Carlos Montaner e Álvaro Vargas Llosa. Em compensação, tropas cubanas foram enviadas para Angola, Etiópia, Somália e Nicarágua, com a missão de poupar os militares soviéticos, combatendo ao lado dos guerrilheiros comunistas na expansão do comunismo na África e América Central.
Em Cuba, 11 milhões de cubanos vivem, desde o regime de Fidel, sob racionamento de alimentos, eletricidade, água e roupa, enquanto à nomenklatura cubana nada falta. A revista Forbes atribuiu a Fidel propriedade de US$ 900 milhões, mas somando todos os bens pertencentes ao Estado: 59 mansões suntuosas, reservas de caça, iate de pesca e dois imensos aviões russos para as viagens que fazia outrora. São bens destinados ao seu uso pessoal, mas não a ele pertencentes. A acusação me parece descabida. É o mesmo que dar como propriedade particular de Lula o caro avião que lhe serve para viagens ao exterior.
Ao contrário de denúncias dessa natureza, a vida do mais velho ditador do mundo tem fatos incontestáveis suficientes para evidenciar não o corrupto, mas o tirano. Uma denúncia inverídica enfraquece as provas da inexistência da liberdade e favorece os adoradores de Fidel, que debitam aos Estados Unidos um bloqueio que não passa de um embargo, para pretender justificar a indigência econômica resultante de quase meio século de Fidel Castro.
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