15/09/2008
Por MARTHA MENDONÇA E ELISA MARTINS - Época
Profissão: Jornalista, é correspondente da Rede Globo em Nova York. Experiência: Cobriu oito guerras, entre elas a do Golfo, e morou em Berlim
Autor do livro-reportagem Camaradas, jornalista diz que o mito romântico da revolucionária nasceu de propaganda.
ÉPOCA - Que Olga você conheceu em suas pesquisas?William Waack - Uma profissional do serviço secreto militar soviético, treinada para obedecer em qualquer circunstância, sem jamais duvidar dos chefes e da linha estabelecida pelo Partido, disciplinada, mas sem interesse por assuntos teóricos, que ao chegar ao Brasil perdeu o foco da missão. O trágico em Olga é que ela não tinha saída.
ÉPOCA - Como assim?
Waack - A verdadeira dimensão trágica da figura de Olga é o fato de ela ter sido vítima de dois totalitarismos. Foi liquidada por um deles, o nazista, enquanto todos os seus companheiros de luta no Brasil, que sobreviveram à aventura de Prestes e conseguiram voltar a Moscou, foram destruídos pelo outro totalitarismo, o comunista - foram executados na Rússia antes ainda do assassinato de Olga. Mas não era um aspecto que interessava à máquina propagandística do PC da Alemanha Oriental, que iniciou o culto ao mito de Olga no final da década de 50, suprimindo partes de sua real história. O mesmo ocorreu no livro lançado no Brasil por Fernando Morais, que, na verdade, tem boa parte compilada da primeira biografia de Olga feita pela alemã Ruth Werner, a pedido do PC alemão, em 1962. Trabalhos que não contam a realidade.
ÉPOCA - Pelo que pesquisou, do que mais não se fala?
Waack - Um detalhe fundamental: o fato de que a mãe de Prestes pediu várias vezes às autoridades soviéticas que tentassem trocar Olga por prisioneiros dos soviéticos. Era impossível que isso acontecesse, pois, naquele momento, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, os soviéticos estavam entregando à Gestapo militantes alemães que se refugiaram em Moscou. Uma dessas pessoas, aliás, foi a última a ver Olga viva no campo de concentração. Era Margareth Buber-Neuman, uma colega dela de militância, alemã e judia, que chegou a ser preparada para ir ao Brasil, mas foi presa com o marido em Moscou e entregue à Gestapo.
ÉPOCA - Isso tira de Olga e Prestes o romantismo, a luta por ideais?
Waack - Prestes e Olga eram, antes de mais nada, soldados do Partido, e a esses soldados não se admitiam crises de consciência. Dou um exemplo: entre a derrota do levante de novembro de 1935 e a prisão dos dois, no início de 1936, Prestes mandou matar a namorada do secretário-geral do PCB, Elza, uma moça inocente e ingênua de 18 anos, que foi estrangulada por militantes do partido. Ele suspeitava, erroneamente, que Elza fosse informante da polícia. E Olga não se opôs à decisão, segundo o agente soviético no Rio que chefiava o esquema clandestino. Não havia nada de romântico ali.
Nota do Webmaster
Matérias do site que citam o caso Elza (Clique aqui )
Nota do Autor do livro:
No livro A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça, são descritos detalhadamente, 25 casos de "justiçamentos".
Caso Elza
Militante comunista. Elvira Cupelo Colônio nasceu em 1918 numa família de agricultores pobres de Sorocaba, São Paulo. Analfabeta, trabalhou como doméstica, até decidir ir para o Rio de Janeiro. Acompanhando seu irmão, Luiz Cupelo Colônio, passou a freqüentar as reuniões do Partido Comunista do Brasil, àquela época identificado pela sigla PCB (passou posteriormente a chamar-se PC do B, para distinguir-se do Partido Comunista Brasileiro, racha daquele). Em 1934, aos dezesseis anos de idade, Elza Fernandes tornou-se amante de Antônio Maciel Bonfim, conhecido como Miranda, há época Secretário-Geral do Partido Comunista do Brasil. Passou a ser chamada de Elza Fernandes, ou simplesmente de Garota. Elza deixou sua casa e foi morar com Miranda. Em 1935, ocorre o movimento que recebeu o nome de Intentona Comunista, planejada por Luís Carlos Prestes e outros marxistas, entre eles agentes estrangeiros de apoio enviados pelo Comintern, como Olga Benário Prestes, sua mulher. Fracassada a Intentona, a polícia de Getúlio Vargas iniciou a repressão aos comunistas, prendendo pessoas e documentos. Na tentativa de ocultar-se da polícia, os fugitivos ficaram desinformados sobre a situação uns dos outros. Em janeiro de 1936, Miranda e Elza foram presos em sua casa, à avenida Paulo de Frontin, 606, apartamento 11, no Rio de Janeiro, sendo apreendidos vários documentos do partido. Foram mantidos isolados, até Elza ser liberada, não se tendo certeza se por ser de menor, se por já ser desnecessária, ou se por outro motivo. Antes de partir, conversou com Miranda, que lhe recomendou que fosse morar com Francisco Furtado de Meireles, amigo de Miranda, em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro. Elza voltou duas vezes para visitar Miranda. Em 15 de janeiro desse ano, um dirigente do PCB, Honório de Freitas Guimarães, ligando para a casa de Miranda à sua procura, estranhou a voz que atendeu seu telefonema. Deduziu que Miranda havia sido preso. Com outras prisões que se seguiram de membros do partido, e sabendo dos métodos violentos da polícia de Getúlio Vargas, concluíram que Miranda havia delatado os demais. Descobriram também o endereço de Elza e que esta teria um bilhete de Miranda pedindo que os amigos a ajudassem. Concluíram que o bilhete havia sido escrito pela polícia e que Elza, e não Miranda, é que teria feito as delações. Formou-se um "Tribunal Vermelho", do qual faziam parte Honório de Freitas Guimarães (Milionário), Lauro Reginaldo da Rocha, Adelino Deycola dos Santos (Tampinha) e José Lage Morales. Elza foi interrogada pelo belga Léon Jules Vallée, um dos agentes enviados com Prestes e Olga pelo Comintern, órgão ligado ao governo soviético de Josef Stálin. Morales foi contra a condenação de Elza. Respondendo, porém, a um relato da situação feito, em 18 de fevereiro, por Honório Guimarães, Luís Carlos Prestes, escondido da polícia de Getúlio Vargas, em sua casa, à rua Honório, no Méier, enviou uma enfática resposta censurando seus companheiros pela hesitação em cumprir a sentença. Em 5 de março de 1936, Eduardo Ribeiro Xavier, de codinome Abóbora, levou Elza para uma casa à rua Mauá Bastos, n.º 48-A, Estrada do Camboatá, onde se encontravam Milionário, Tampinha, Francisco Natividade Lira (Cabeção) e Manoel Severino Cavalcanti (Gaguinho). Estrangulada por Cabeção com a ajuda dos demais, seu corpo mutilado (os pés foram amarrados à cabeça a fim de que pudesse caber num saco) foi enterrado no fundo da casa. Em 5 de março de 1936, Luís Carlos Prestes foi capturado. Em 1940, o corpo de Elza foi exumado.
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