Escrito por Wellington Moraes em 06 de maio de 2007
“O Socialismo Petista é parte da resolução aprovada no 7º Encontro Nacional, ocorrido entre 31 de maio e 3 junho de 1990, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo, e reafirmado no 2º Congresso, realizado em Belo Horizonte, entre 24 e 28 de novembro de 1999”
(Epígrafe do documento O Socialismo Petista)
"Foi assim que nós pudemos atuar junto a outros países com os nossos companheiros do movimento social, dos partidos daqueles países, do movimento sindical, sempre utilizando a relação construída no Foro de São Paulo para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política". (Luiz Inácio Lula da Silva, Foro de São Paulo, 2005)
A Internacional do Socialismo Petista se constituiu em julho de 1990. No momento em que desmoronou o socialismo soviético, o Partido dos Trabalhadores, PT, do Brasil, convocou em São Paulo o I Encontro. Nele se fizeram presentes os representantes de 48 partidos, organizações latino-americanas e do Caribe das mais diversas correntes do pensamento esquerdista. Socialistas, comunistas, marxistas, marxista-leninistas, nacional-socialistas stalinistas e maoístas encontraram uma tábua de salvação: o Foro de São Paulo (FSP). A proposta principal foi discutir uma "alternativa popular e democrática” (leia-se socialismo) ao neoliberalismo.
Naquele primeiro encontro a crise do modelo socialista soviético foi avaliada. As estratégias revolucionárias da esquerda latino-americana e do Caribe foram revistas. Além da luta pela renovação do pensamento esquerdista e do socialismo, também foram lançadas as bases para o avanço das propostas de uma unidade de ação das organizações antineoliberais na “luta antiimperialista e popular” por uma “sociedade justa”, “livre” e “soberana”, a exemplo de Cuba, da “República Popular” da China e da “República Popular Democrática” da Coréia do Norte.
No FSP foram definidas as bases de um novo conceito da unidade e da Integração Latino-Americana e do Caribe. Também se firmou o compromisso de solidariedade ativa, entre outros, com a Revolução Socialista Cubana.
No México, durante II o Encontro, o nome do Foro de São Paulo foi ratificado; estendeu-se a participação de organizações e partidos políticos do Canadá, dos Estados Unidos e da Europa. “Proletários de todos os países, uni-vos!”.
Em 1992, no III Encontro, em Manágua, capital Nicarágua, foi confirmada a abertura de “novas formas de luta contra o neoliberalismo”. Nesta ocasião o debate se concentrou em torno do "projeto alternativo" da esquerda latino-americana e das novas formas de integração dos povos da região. Concluiu-se que o capitalismo neoliberal havia agravado a situação da América Latina e que sua "perversidade estrutural" era a causa única de todas as dificuldades enfrentadas para consolidar as instituições políticas. O Totalitarismo Socialista gerado pela Revolução Cubana é um exemplo a ser seguido; já o “capitalismo neoliberal” precisa ser exterminado a qualquer custo, sob pena de um “fortalecimento do autoritarismo”.
No IV Encontro, Havana (1993), o FSP reafirmou a condenação do “bloqueio” (embargo) contra Cuba. Ratificou também o compromisso para continuar com a luta pela integração total e incondicional da Comunidade Latino-americana e do Caribe de Nações para o estabelecimento da União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL). Da mesma maneira que ficou constatada a ascensão da “mobilização social dos povos”, ficou ressaltada a necessidade de reconhecer e incorporar no pensamento programático a pluralidade étnica e cultural dos países, e a importância de lutar pela igualdade de gênero.
O V Encontro, realizado em Montevidéu (1995), registrou o aumento, a diversificação e o desenvolvimento das “lutas populares”, expressado através de greves, protestos, manifestações e bloqueio de estradas. Foi analisada, de maneira especial, a rebelião em Chiapas (sob direção do Exército Zapatista de Liberação Nacional, marxista-leninista, integrante do FSP) e caracterizada como uma “nova forma de expressão da luta pela democracia e o poder popular”.
Nesse mesmo sentido, para demonstrar sua solidariedade à Marcha do EZLN a Cidade do México (24/02/2001), o Grupo de Trabalho (GT) do FSP - contando com a "solidariedade ativa" da União Revolucionária Nacional Guerrilheira (URNG) da Guatemala, da Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN) e da Frente Farabundo Martí para a Liberação Nacional (FMLN) - emitiu uma declaração para que o governo de Vicente Fox desse as garantias necessárias à marcha do EZLN; O Partido Comunista de Cuba e o Partido dos Trabalhadores de Brasil manifestaram a importância de que se aprove a lei de direitos indígenas no México.
O “capitalismo neoliberal” foi condenado novamente pelo tribunal revolucionário do FSP em El Salvador (1996), no VI Encontro. Desta vez restou comprovado que ele havia aumentado: “as contradições e conflitos entre o desenvolvimento econômico e a conservação do meio-ambiente”, “a concentração da riqueza” e “a desigualdade no desenvolvimento técnico-científico na humanidade”.
No VII Encontro realizado em 1997, Porto Alegre, Brasil, confirmaram a tendência de ascensão das lutas sociais. Neste encontro o FSP resolveu estabelecer mecanismos de coordenação e da discussão permanente com o propósito de contribuir com a esquerda latino-americana e caribenha liderando as “soluções políticas, econômicas e sociais alternativas" ao neoliberalismo (logicamente, o socialismo) e a globalização liberal. Reforçou a solidariedade à integração em “benefício dos povos” e no desenvolvimento com “justiça social e harmonia com a natureza”.
O Encontro seguinte, o VIII, realizado no México, em 1998, refletiu o “crescente apoio dos povos das esquerdas e dos progressistas”, a causa da “crise do modelo neoliberal” iniciado na Ásia, nos países chamados os “dragões do Pacífico”, crise que “golpeou parte do mundo europeu e da América Latina, em particular o México, o Brasil e a Argentina”.
Para os integrantes do FSP ficou mais evidente que a “crise neoliberal”, que “apenas começava a sair à superfície”, propiciava a busca de “saídas alternativas” (socialistas) que poderiam ser implementadas pela esquerda. Considerou-se que “não há nenhuma democracia sem política, sem partidos, sem sindicatos e movimentos sociais organizados”.
Durante IX Encontro, em 2000, novamente em Manágua, o décimo aniversário do FSP foi comemorado e reafirmou-se a "colaboração na luta dos povos latino-americanos e do Caribe”.
Em dezembro de 2001, novamente em Havana, logo após os ataques terroristas às Torres Gêmeas, aconteceu o X Encontro do FSP. A nova política militar dos Estados Unidos de “guerra preventiva” foi considerada “intolerante”, “racista”, “xenofóbica”, “criminosa” e “genocida”. O banimento do partido nacional-socialista Baath e a derrubada do regime totalitário iraquiano não foram vistos com bons olhos pelos membros FSP.
O XI Encontro feito Antigua, na Guatemala (2002), caracterizou a ordem internacional como injusta e de alto risco, já que o governo dos Estados Unidos com sua “unipolaridade militar” - embora a mídia tenha noticiado sobre a coalizão de 45 países que apoiavam a ação militar contra o Iraque - havia "colocado o mundo em guerra".
Debateram também as novas perspectivas abertas e o momento histórico favorável para a integração latino-americana e do Caribe e a implantação de “um modelo alternativo” (como não poderia deixar de ser... o socialismo). Com a eleição de Lula, presidente de honra e membro fundador do FSP, a expectativa do “acesso” (aparelhamento) ao Estado Brasileiro definiu a luta pela “democracia” e a "unidade do povo como um projeto estratégico do FSP".
O XII Encontro foi realizado em São Paulo (2005), a 15 anos de sua fundação. Os balanços políticos, ano após ano, mostraram a crescente influência dos partidos do Foro de São Paulo na América Latina. Conclusão: as lutas deram frutos e ocorreu uma reconstrução política e social na América Latina e no Caribe, debilitando grandemente as “forças de direita”.
O documento base do XIII Encontro foi esboçado por uma comissão designada pelo GT do Foro de São Paulo. As seguintes organizações integraram esta comissão: o Partido dos Trabalhadores (Brasil), o Movimiento V República (Venezuela), a Frente Farabundo Martí (El Salvador) e o Partido da Revolucão Democrática (México).
Neste encontro, realizado em San Salvador, janeiro de 2007, a análise histórica da evolução do FSP concluiu que estamos presenciando “um novo período histórico”. Na nova realidade política regional as forças esquerdistas e socialistas devem atuar na ofensiva para aprofundar a “luta democrática”. Foi feito um balanço dos grandes avanços dos FSP na região e um dos pontos do debate analisou se estes avanços poderão lançar as bases para a construção do Socialismo do Século XXI.
Ficou evidente que o FSP deve contribuir para: 1 - impedir que as forças da direita e do “imperialismo” recuperem o controle político quase que totalmente perdido na região; 2 - defender os processos de “democracia revolucionária” em marcha; 3 - empregar toda sua força internacionalista e solidária com Cuba, os governos “democráticos” da esquerda e a “luta dos povos”.
No final do XIII Encontro foram emitidas 19 (dezenove) resoluções. Os seguintes países foram objetos de resoluções: El Salvador, Cuba, Porto Rico, Colômbia, Chile, Iraque, China, Guatemala e México. A sexta resolução pediu a desativação das bases militares dos EUA em todo o mundo e a dissolução da OTAN.
Leia a íntegra dos documentos do XIII Encontro do FSP:
http://forosaopaulo.fmln.org.sv/docs.htm
Revista MUNDOREAL: Leitura indispensável para a compreensão do Foro de São Paulo:
http://www.dcomercio.com.br/especiais/mundo_real/indice.htm
Referências:
http://forosaopaulo.fmln.org.sv
http://www.farcep.org
http://www.ezln.org
http://www.forosaopaulo.org
http://www.pt.org.br
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