Publicado em 28 de dezembro de 2011 às 8:56 hs
Não tomar Coca-Cola, abominar hambúrgueres e jamais pôr os pés na Disneylândia. Dentre os inúmeros sacrifícios que se pedem de um bom combatente anti-imperialista, exigências como estas são coisa de somenos.
O recém-falecido líder norte-coreano Kim Jong-il, a ser enterrado com pompas hoje, não tinha dificuldades em seguir essas regras. Em vez do refrigerante, preferia consumir conhaque francês de primeira qualidade.
Sendo tão firmes os seus compromissos em questões desse tipo, causa surpresa a notícia, divulgada pela mídia japonesa, de que seu filho e sucessor, Kim Jong-un, teria visitado a Disney de Tóquio aos oito anos.
Sabendo-se que o documento utilizado era um passaporte brasileiro, o caso haverá de ter repercussões em nosso país.
Estaria a exigir, sem dúvida, vigoroso protesto do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que há poucos dias emitiu nota de pesar pelo falecimento do ditador.
Segundo a nota, Kim Jong-il “manteve bem altas as bandeiras da luta anti-imperialista” e da “construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas”. A manifestação obteve apoio do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que, além de disciplinado militante do PC do B, não perde oportunidades na luta para manter as crianças brasileiras imunes à influência americana.
Tendo combatido as comemorações do Halloween, sugerindo sua substituição pelo nacionalíssimo Dia do Saci, não lhe será fácil absorver a notícia de que também nas melhores famílias a Disney oferece atração irresistível -e que as cores brasileiras foram utilizadas nessa expedição turística.
Mas existe outro modo de encarar a embaraçosa questão. Além dos estimados US$ 700 mil anuais em conhaque francês, Kim Jong-il não dispensava outros itens de importação para seu desfrute pes-soal. Filmes de James Bond e desenhos animados do Patolino estavam entre os seus preferidos.
O PCdoB poderia usar a informação para dizer que a Coreia do Norte é um país aberto culturalmente, elogio que faltou à sua nota.
Pensando melhor, talvez essa estratégia fosse equivocada. Quem sabe o melhor seria, em face dessas revelações, voltar atrás no lamento pela morte do ditador. Era frouxo demais em seu combate; precisaria da orientação ideológica mais firme de seus camaradas brasileiros para não cair nos engodos do entretenimento americano.
Manter ou não a nota de pesar a um fã de desenhos animados americanos? Eis um assunto a ser debatido no Comitê Central do PCdoB.
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