Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O fosso entre educação e os setores produtivos

UNIÃO CONSERVADORA NACIONAL

O esquema que impregnou as universidades brasileiras nos últimos anos mostra um dos seus efeitos mais perversos para o desenvolvimento econômico. O sistema virou uma máquina de produzir funcionários públicos que precisarão de mais impostos e verbas para tocarem suas atividades no Estado e, principalmente, na própria universidade. Segundo um levantamento realizado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea -, recentemente divulgado, apenas 1,9% dos 26 mil doutores brasileiros, atualmente empregados, está na indústria, enquanto 66% permaneciam na universidade e outros 18% no setor público. A educação superior brasileira é descolada do setor produtivo e voltada para o seu próprio umbigo.

Enquanto prevalecer este abismo em relação à indústria, poucas chances temos de nos firmar na economia moderna, cada vez mais exigente em termos tecnológicos e de inovação. Na realidade, grandes grupos de professores universitários sempre demonizaram e lutaram contra qualquer relação institucional entre as universidades e os setores produtivos da sociedade. O velho pensamento, traduzido pelo clichê da universidade pública, gratuita e para todos, impregnou vários setores da educação, afastando a possibilidade da troca efetiva da universidade com as empresas nacionais e globais.

Com 66% dos doutores permanecendo nas universidades o que se tem é a máquina pública do ensino superior priorizando a formação dos seus próprios quadros e concentrando o investimento público na alimentação de sua burocracia e de suas relações de poder. Isto acaba por criar uma atmosfera fechada de reprodução social de grupos de professores e seus discípulos. Pior, gera uma rede intricada de benefícios e favores, já que os próprios professores escolhem por meio de concursos os seus alunos para serem os seus futuros colegas.

O espírito que produz o progresso e o avanço nas ciências exige uma outra lógica de comportamento institucional e formação da Capital Humano. A ciência para se desenvolver precisa do confronto de idéias, de experimentos e de metodologias, da curiosidade cultivada ao extremo, da rebeldia teórica e de muito treinamento e dedicação. Não se forma um verdadeiro cientista em ambientes fechados que se auto-reproduzem em função somente de suas demandas e acordos. O resultado disto tudo é a falta de oferta de cérebros para os setores que demandam criatividade, ousadia e espírito empreendedor, tudo que motiva, fortalece e gera riquezas para o País.

A separação entre educação e mercado de trabalho faz inúmeras vítimas. Em 1980, um trabalhador no Brasil produzia em valor agregado o equivalente a US$ 15,1 mil por ano, em 2005, esse valor caiu para US$ 14,7 mil, segundo a OIT. Na realidade as distorções começam de forma efetiva no chamado ensino médio. Destoando de todos os sistemas educacionais que são mais produtivos, o ensino médio brasileiro não oferece as oportunidades diversificadas de profissionalização aos mais jovens. Só há uma opção de ensino médio, então todos, que sobrevivem ao funil educacional, são obrigados a se submeterem a uma lógica de formação exclusiva para o enfrentamento de vestibulares. Não há oferta de formação de profissional para atender a demanda e a matrícula no ensino técnico não chega a atingir 900 mil alunos no Brasil.

Não há um só estudante de ensino médio no País que não se sinta pressionado a decorar conhecimentos para provas e esquecê-los em seguida. Não se desenvolve nos jovens as habilidades necessárias para que o mesmo possa se aprimorar de forma autônoma e adquirir novas competências para o mercado de trabalho. O Banco Interamericano de Desenvolvimento divulgou um estudo, em 2008, que constata que mais da metade dos latino-americanos entre 15 e 19 anos não têm um nível adequado de educação para conseguir um trabalho bem remunerado. No Brasil, o percentual nesta situação é de 71,6%.

Esta separação radical entre o mercado de trabalho, setor produtivo e sistemas e estratégias de ensino é a receita do fracasso econômico e do desperdício de dinheiro. Qualquer atitude séria em Educação no País passa por uma reforma vigorosa do sistema de ensino nacional, que fechado em si, forma pouca gente, com má qualidade e apenas a quantidade suficiente para repor peças de uma máquina pública de ineficiência.

* Mestre em Sociologia, 42 anos, Consultor em Educação e Ex-Diretor de Avaliação da Educação Básica INEP/MEC.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".