Na Colômbia os heróis existem, sim!
Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Sob este título, o conhecido jornalista Pirry descreveu algumas das milhares de dificuldades que enfrentam diariamente os soldados de contra-guerrilhas, aqueles seres anônimos que, como ciganos, carregam a casa nas costas e... às vezes a lápide, com a única finalidade de salvaguardar a vida e a honra dos compatriotas que no mais das vezes os ignoram ou até os vilipendiam sem ter tido sequer a honra de ser soldados. Nós que comandamos unidades de contra-guerrilhas em combate, sabemos e conhecemos as qualidades humanas e militares destes valorosos colombianos que, uniformizados com uma roupa camuflada e com a alma pletórica de fortaleza moral, expõem suas vidas em defesa da liberdade. Seja nas planícies desertas, nas agrestes montanhas, nas selvas inóspitas ou nos ásperos morros das cidades, os soldados estão sempre prontos para combater pela Colômbia. Com sobeja razão se diz que o soldado nem vê nascer os filhos, nem vê morrer os pais. Essa máxima é coincidente com a vida de quase todos os militares colombianos dos últimos cinqüenta anos, período em que o Partido Comunista com seu braço armado, auxiliado pelos valentões de colarinho branco que sangraram as finanças públicas, e os narco-traficantes que puseram o país em xeque por meio do narco-terrorismo. Sem considerar datas nem horas, a ação patriótica, o sacrifício supremo e a inquebrantável vontade de luta do soldado colombiano têm impedido que os bandidos do povão ou fora dele, destruam a instituicionalidade.
Em boa hora, o popular jornalista Pirry apresentou ante a opinião pública imagens reais e episódios certeiros para que os garotinhos das camadas 5, 6 e 7, que amiúde enganam o serviço militar com argumentos estúpidos, que não hasteiam a bandeira nos dias pátrios e fora disso não pagam os impostos de forma honesta, entendam que o inimigo da Colômbia são os comunistas armados e desarmados, não os militares que com sua quota de sangue, suor e lágrimas lhes permitem viver com tranqüilidade no mesmo país em que os anti-militares o ensangüentam diariamente. E também serve para que as camadas 1, 2 e 3 vejam e entendam o que é que fazem os soldados, para evitar que os terroristas enganem seus familiares para comprometê-los na guerra ímpia contra a Colômbia.
Porém, estes vídeos servem, além disso, para destacar em primeiro plano a moral e honradez dos verdadeiros militares, daqueles soldados que entregam tudo em troca de nada e que não admitem nem alianças sinistras com bandidos iguais ou piores que as FARC, nem muito menos vendem sua alma ao diabo com ações tão aberrantes como os chamados “falsos positivos”’. Na realidade, são muito poucos os delinqüentes infiltrados que mancham o bom nome da instituição armada. Em contraste, são milhares de homens probos, cujo único lema é: “qualquer missão, em qualquer lugar e a qualquer hora”. Entretanto, os poucos com capacidade daninha afetam muito a imagem institucional. Os verdadeiros contra-guerrilheiros, os soldados exemplares, comungam com a doutrina que se ensina aos que temos a honra de haver sido alunos da Escola de Lanceiros [1]. Para o lanceiro não existe palavra “impossível”... No campo de combate só sobrevivem o valor, a lealdade e a honra. Em torno a esta filosofia de vida, se reza com fervoroso ânimo patriótico que só merece viver quem está disposto a morrer por um nobre ideal.
Enquanto via o documentário de Pirry, lembrei a histórica frase de um distinto general dos Estados Unidos na Coréia, sob cujo comando operava o batalhão Colômbia em 1952: “Combati em seis guerras, acreditei que já conhecia tudo que fosse relacionado com o valor no campo de batalha, porém estava equivocado: me faltava ver combater o soldado colombiano”. Talvez por essa razão, o ditador Fidel Castro advertiu os terroristas do M-19 que seu governo treinou na ilha em 1980: “Vocês vão combater contra o melhor Exército da América Latina”. Reitero: os que combatemos contra o M-19, as FARC, o ELN ou o EPL no comando de soldados colombianos, sabemos que isto é certo, que a galhardia, o valor e a coragem de nossos soldados é ilimitada.
O melhor de tudo: esses valorosos homens não pedem nada como reconhecimento. Pela regra geral, o soldado que se destaca em um combate o comandante o estimula com uma permissão especial para que saia para descansar quando entrar o próximo helicóptero. Porém, muitas vezes fomos testemunhas de episódios em que os soldados destacados em uma operação renunciaram a essa permissão especial, para estar com sua contra-guerrilha no combate seguinte, pois não estar com eles no momento crucial é interpretado como uma deslealdade. Muitas vezes os vimos caminhar doentes pelos frios cumes ou pela floresta tropical com uma mochila que pesa duas ou mais arrobas em suas costas. Não dizem nada, nem renegam, e ao chegar ao local da praça de armas também cumprem com o serviço de sentinela, ou as demais atividades administrativas ou operacionais. São os mesmos homens humildes e valentes que, iniciado o combate, protegem seu comandante, dão segurança ao rádio-operador e a quem tenha as metralhadoras, o lança-granadas ou os equipamentos de primeiros socorros. Muitos deles morrem nessa tarefa, porém isso não é obstáculo para que os demais percam a mística combativa. Em reiteradas ocasiões os vi prestando ajuda médica a um terrorista ferido, ou compartilhar sua escassa ração com o terrorista recém capturado ou que se entregou. Outras vezes os vi entregando sua manta à guerrilheira doente ou ao guerrilheiro assustado que se entrega ante uma patrulha e não tem nem um plástico para colocar no chão quando chega a hora de dormir. E mil episódios mais desta profissão honrosa, à qual Calderón de la Barca assim definiu: “a principal façanha é obedecer, e o modo como há de ser, é sem pedir nem recusar”.
Em síntese, o documentário de Pirry cai como o anel no dedo para que os indiferentes conheçam e apreciem o que os soldados fazem por eles para que as camadas baixas entendam que os comunistas são farsantes e os enganam ao metê-los em uma guerra sem sentido para que os valentões que se colam nas fileiras militares saiam por subtração de matéria e para que os vizinhos belicistas se dêem conta de contra quem teriam que combater, no desafortunado caso de o boquirroto de Miraflores ter a ousadia de agredir a Colômbia. O soldado colombiano é a biografia da pátria, é a guarda de honra do país, da constituição e das leis. Ele vai aonde os outros temem ir. Não o assustam nem o frio nem a morte, nem o fragor do combate. Sua mente e seu ideal estão na Colômbia, a pátria querida, tão formosa qual Deus a criou.
Por isso podemos dizer com orgulho: na Colômbia os heróis existem, sim!
Notas:
[1] “Lanceiro” é a especialidade militar mais honrosa para os militares colombianos. É um curso intenso de treinamento de combate de contra-guerrilhas. É orgulho e paradigma em toda a América Latina e como reza um adágio, “ser Lanceiro é uma honra que custa”. O autor do texto é Lanceiro.
O autor é Analista de assuntos estratégicos - www.luisvillamarin.com
Tradução: Graça Salgueiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário