quinta-feira, 30 de julho de 2009
Jamais cometa o erro, leitor, de considerar que Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, chegou ao limite. Sempre será um erro. Ele é tão ousado, mas tão ousado, naquele tipo particular de ousadia a que se dedica, que pode superar a si mesmo. Amorim é assim: quando se trata de degradar a política externa brasileira e de alinhá-la com delinqüentes da América Latina, ele sempre bate o próprio recorde. Só há uma coisa pior do que Celso Amorim: é Celso Amorim no dia seguinte.
Postei a notícia aqui ontem. O Brasil resolveu fazer coro à gritaria do tiranete Hugo Chávez e resolveu cobrar “transparência” da Colômbia, que está debatendo um novo acordo militar com os EUA. Releiam o que disse o chanceler brasileiro:
“Eu acho, pessoalmente, que, se há uma preocupação em relação a um novo acordo militar entre a Colômbia e os Estados Unidos, seria bom, digo isso no total espírito de amizade, que a Colômbia, transparentemente, diga o que é, para que as pessoas ouçam e vejam. Para que possa haver uma discussão. Inclusive, com esse objetivo foi criado o conselho de defesa”, disse Amorim, em referência ao Conselho de Defesa Sul-Americano”.
Se o contexto fosse outro, já escrevo a respeito, a fala já seria estúpida. Por quê? Porque essa sua oração sem sujeito - “se há uma preocupação em relação a um novo acordo militar…” - tem um sujeito claro, definido, identificado: Hugo Chávez. É ele quem está preocupado. É ele quem está numa espécie de corrida armamentista no continente. Há dias, a Venezuela anunciou uma cooperação militar com a Rússia. Vocês ouviram algum pio de Amorim? Agora, decidiu fazer a segunda voz para a estridência do outro, em nome daquela ridicularia chamada “Conselho de Defesa Sul-Americano”. Esse tal Conselho, diga-se, foi proposto pelo Brasil depois que a Colômbia atacou, no que fez muito bem, um acampamento de terroristas das Farc em solo equatoriano. O único objetivo dessa porcaria, quando existir, será opor-se aos EUA.
Agora vamos ao contexto. No sábado, a revista SEMANA, da Colômbia revelou, conforme vocês leram aqui, que armamento da Venezuela, comprado de uma empresa sueca, foi parar nas mãos das Farc. Vale dizer: estamos diante da prova provada de que Chávez fornece armamento pesado — lança-foguetes e os foguetes — para os narcoterroristas. O que antes era uma desconfiança muito fundada é agora uma certeza. Amorim se lembrou de apelar ao tal Conselho de Defesa? Pediu ao menos apuração? Nada!!! Segundo ele, não pode reagir com base “em notícia de jornal”.
É um despropósito. Quando se trata de cobrar “transparência” da Colômbia, a noticia de jornal serve. Quando se trata de censurar a Venezuela, nem mesmo a prova provada é o bastante. Notem bem: não se trata de um chute ou de uma ilação. As armas compradas pela Venezuela, conforme testemunham a empresa que as vendeu e o governo sueco, estavam com as Farc e foram apreendias pelo Exército colombiano. É fato, não é fofoca. É uma evidência. A prova está lá. Se Amorim quiser, pode até abraçar a bazuca.
Troquem as personagens. Imaginem se armas do Exército colombiano fossem encontradas com algum grupo que combatesse um desses gorilas de esquerda que estão à frente de governos na América Latina. O mundo viria abaixo. Mas Chávez pode armar a narcoguerrilha, estimular a arruaça em Honduras, mandar dinheiro para caixa dois de campanha na Argentina, interferir nas eleições na Bolívia e no Equador… O Brasil silencia.
Silencia? Erro meu! O Brasil empresta o seu integral apoio. E depois a imbecilidade militante sai por aí a dizer que Lula quer ser o contraponto de Chávez na América Latina. Que contraponto? Depois do Bandoleiro de Caracas, Lula é governante mais assanhado, por exemplo, para reconduzir Manuel Zelaya à Presidência de Honduras. Não dá apoio nem mesmo ao Plano Arias. Lembrem-se que ele telefonou a Zelaya quando este estava a caminho (daquele seu jeito) de Honduras para desejar sorte e êxito. Caso o hondurenho se levasse a sério, poderia ter havido lá um banho de sangue. Com o incentivo de Lula.
O antiamericanismo, como vocês sabem, é uma droga pesada. É o crack da ideologia. O sujeito fica viciado e não consegue mais pensar. Durante anos, essa retórica foi o cimento a unir os dinossauros da América Latina. Mas Jorjibúxi já foi, está aposentado. Agora, quem está no poder é Barack Hussein, ele mesmo bastante, como direi?, antiamericano à sua maneira. Mas quê… É preciso continuar com aquela ladainha estúpida de sempre, que atribui aos EUA terríveis planos para mandar no continente — daí a tentativa de atribuir à cooperação militar Colômbia-EUA alguma secreta intenção, que requereria a anuência dos demais países da América do Sul. É uma piada! O Brasil já explicou à Colômbia por que está comprando aviões militares?
Alguém poderá perguntar: “Mas Reinaldo, considerando que o Brasil é o país mais importante da América do Sul, não faz sentido querer saber em que consiste a cooperação maior dos EUA com a Colômbia?” Ora, claro que faz. Mas isso se pode operar de modo diplomático, fora desse ambiente de Cassino do Chacrinha (com todo respeito ao apresentados) em que Amorim transformou a questão. ELE RESOLVEU COMPARECER AO DEBATE EM APOIO A HUGO CHÁVEZ, QUE NÃO RESTE A MENOR DÚVIDA DISSO. E o faz no momento em que esse bandidão, não tendo uma explicação razoável para as armas em poder das Farc, acuado pelos fatos, resolve acusar a vítima, que é a Colômbia.
Alguns países da América Latina não estão mais sendo governados por suas respectivas leis e Constituição. Estão sob o signo de um espírito, que é o do Foro de São Paulo, que tanto mais se evidencia quanto mais a imprensa tenta negá-lo ou ignorá-lo. Refiro-me, como sabem, àquele ajuntamento de partidos de esquerda da América Latina (foi onde Raul Reyes, o tal terrorista colombiano morto no Equador, viu Chávez pela primeira vez), muitos deles agora no poder. Não se deve pensar no foro como um lugar, com sede e escriturários cuidando da burocracia. O Foro serve para o alinhamento de posições políticas. E os candidatos a ditadores, caudilhos e demiurgos nunca estiveram tão unidos no continente.
O Brasil difere um tanto de seus parceiros? Sim! A despeito de todos os esforços do PT para liquidá-las, as instituições respiram. Lula bem que gostaria de se entregar a algumas aventuras “democráticas”, mas não pode. Então aplaude e apóia incondicionalmente todas as ações no continente que têm servido para fraudar o regime democrático.
Não! Não adianta dizer que Amorim, desta vez, passou de todos os limites. Amanhã, ele ultrapassa um novo. Afinal, como é mesmo? Só o Celso Amorim de amanhã consegue ser pior do que o Celso Amorim de hoje.
Só para encerrar: fico pensando o quanto este pobre diplomata sofreu até a chegada de Lula ao poder. Foram anos fingindo moderação e, vá lá, modernidade. Mas ele se revelou mesmo a partir de 2003: o seu negócio é estar na vanguarda do atraso, mergulhado no populismo até a cintura (onde outros estão atolados até o joelho), emprestando sua retórica à defesa daquilo que o continente e o mundo produzem de pior: genocidas, ditadores, filoterroristas, embusteiros…
Um dia ainda daremos no Itamaraty um banho com o sal grosso da ética e dos valores que fizeram as democracias ocidentais. Vamos livrá-lo dos maus espíritos da demagogia, da vangloria e do atraso.
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