Por Arlindo Montenegro em 02 de maio de 2008
Uma menina repórter da televisão do bispo Macedo, passou 20 dias em Cuba e produziu um documentário em que mostra o culto a Guevara e ao velho Castro, a vocação musical de um povo, com raros contatos com o mundo exterior neste meio século e as belezas da ilha. Mostrou outras coisas, com a leveza da alienação.
O nome da menina é Andréa Veron, que perdeu a oportunidade de informar-se, antes da visita, lendo o livrinho “Cuba: est’il socialiste?” de René Dumont, um comunista francês, especialista em pastos para vacas, que passou dois anos tentando ensinar como produzir leite. E concluiu que Cuba era um grande latifúndio dominado por um único e voluntarioso capataz
Com esta simples leitura a mocinha teria informação suficiente, da experiência de um comunista europeu, para compreender e traduzir o que viu. Mas parece que leitura e informação multidisciplinar têm pouca ou nula importância para os jornalistas da mídia eletrônica dos nossos dias.
Nossa turista foi hospedada num hotel de luxo que oferecia “muita comida, até pratos japoneses no café da manhã, tendo como paisagem o mar do Caribe, telefone e até acesso à internet”. Depois hospedou-se com uma família cubana, num conjunto residencial da periferia de Havana, “parecido com aquelas construções da União Soviética”, tudo cinzento, decadente, móveis quebrados sem possibilidade de substituição ou conserto, nenhum conforto que nem dos favelados das novelas da rede globo. (O erro de grafia é proposital).
A moeda cubana para os turistas é específica e vale 1 euro. Já o Peso que os nacionais utilizam, não vale nada. “Tudo muito caro.” Em vez de dizer: arrancam a pele dos turistas porque o Estado, dono e controlador de toda atividade econômica perdeu a fonte de renda da União Soviética, que mandava leite e carne enlatada antes da queda do muro de Berlim e subsidiava as aventuras guerrilheiras de Castro; pagava o dobro pela produção de açúcar (hoje reduzida a 50%); financiava a gasolina e mantinha militares, médicos, engenheiros e outros profissionais de nível superior como “voluntários” na ilha.
Nas entrevistas gravadas, a menina destacou que “não há nenhuma propaganda de produtos como roupas, sapatos... somente out doors contra os EUA e outros imensos com as caras e frases de Castro e Fidel”. A única emissora de tv, a única emissora de rádio, a única agencia de notícias, os dois jornais oficiais “Granma” e “Juventud Rebelde”, foram comentados en passant, sem que a mocinha entendesse nada de propaganda e doutrinação no ambiente comunista. Ela nunca leu Gramsci nem sabe da existência de agentes da KGB que desertaram e abriram o verbo contando como a lavagem cerebral é feita até os nossos dias.
Para entrevistar uma moça que fabrica charutos, a janela da casa ficou fechada. Cautela e caldo de galinha não fazem mal. Em visita a um canavial, os trabalhadores levaram um pito das autoridades por falar com a repórter. Não a deixaram entrar com câmera na sorveteria Copélia, onde se formam filas quilométricas todos os dias: “única alternativa de encontro e lazer em Havana nas tardes de domingo... Não é como aqui onde a gente pode ir a uma padaria e comprar um bolo...e não me deixaram entrar com a câmera... foram bruscos, rudes...há uma forte presença policial...”
Lá não existem padarias, supermercados, feiras como aqui. Nem mesmo restos de feira para os miseráveis. Se a moça tivesse lido René Dumont, saberia que a dieta, a roupa e os sapatos de cada cubano, é fornecida pelo governo, obedecendo a uma “Caderneta de Abastecimento” que relaciona o que cada pessoa e cada família tem direito a adquirir por mês, se encontrar nas lojas do governo.
A Sorveteria Copelia e uma ou outra pizzaria são as alternativas dos poucos jovens que chegam a tempo, reforçar o estômago. Num dado momento o sorvete ou a pizza acabam e as portas são fechadas.
Voltando da província de Oriente, onde visitou a Sierra Maestra, nossa aventureira viu um médico e uma enfermeira pedindo carona para Trinidad, a 120 km. Os profissionais disseram que faziam aquilo uma vez por semana e esperavam até 6 horas ou mais por uma carona, já que o ônibus vivia quebrado por falta de manutenção e peças.
Para adquirir a licença de guiar um carro velho é necessário autorização do governo. A menina não concluiu que as sucatas consomem gasolina. Os carros novos são exclusivos das autoridades e diplomatas. E que a energia de Cuba é fornecida por Chavez e controlada pelo governo. Daí o transporte público incipiente, os caminhões que nem dos nossos bóias frias e os poucos veículos particulares abandonados pelos que escaparam na década de 50, todos propriedade do governo.
Os cubanos não têm acesso à internet. E os celulares proibidos até há pouco, foram liberados para uma minoria. Nem referiu que a presença maior em cada canto da ilha é de agentes controladores do Partido Comunista.
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