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quarta-feira, 30 de abril de 2008

Cuidado com os analistas políticos

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Olavo de Carvalho em 30 de abril de 2008


Resumo: Dissolver o conhecimento na manipulação e a inteligência na vontade de poder. É nisso que consiste a quase totalidade daquilo que, nas universidades e na mídia, se entende como ciência política.

© 2008 MidiaSemMascara.org

Todo mundo se interessa pela política e tem alguma opinião a respeito. Alguns fazem disso uma profissão. Comentaristas de jornal, cientistas sociais, professores universitários, analistas estratégicos pagos a peso de ouro pelas grandes empresas, todos se acham capacitados para desvendar os mistérios do poder e explicá-los ao comum dos mortais.

O público está de tal modo habituado à ruidosa presença dessas pessoas, que já conta com ela como um componente essencial da política mesma. Nenhum político se aventura a agir sem contabilizar a possível reação dos opinadores de ofício: o cenário que eles comentam é em grande parte criado por eles próprios. O poder que exercem é às vezes maior que o dos políticos mesmos.

Suas palavras se superpõem aos fatos e não raro os encobrem por completo, criando novas situações que nascem da pura imaginação do comentarista, mas no dia seguinte já se tornaram uma realidade com que é preciso contar.

O exemplo mais eloqüente foi talvez a Ofensiva do Tet , quando a vitória dos americanos sobre o exército comunista do Vietnã do Norte foi transmutada em derrota pelo noticiário da TV americana e acabou, por isso mesmo, gerando efeitos políticos equivalentes aos de uma derrota militar genuína.

Designar como derrota uma vitória militar explorada em sentido político contrário pela propaganda adversa é, com toda a evidência, uma figura de linguagem, uma metonímia. E tomar figuras de linguagem como descrições literais da realidade é sintoma de grave confusão mental. Uma vez disseminada, a confusão gera situações políticas reais que podem em seguida ser usadas como “provas” retroativas para legitimar como verdade literal a transposição metonímica que deu origem ao engano.

Aquase totalidade do que hoje se denomina comentário político é constituída tão-somente de retro-alimentação desse mecanismo alucinatório. Por isso é que, quanto mais analistas estratégicos, comentaristas de mídia e cientistas políticos se ouvem discursando no palco do mundo, menos compreensíveis se tornam os processos políticos reais e menos previsíveis, para eles como para seus ouvintes, os desenvolvimentos mais óbvios das situações de fato.

Quantas dessas mentes iluminadas puderam prever, no meio dos anos 80, a queda da URSS?

O grande sucesso editorial de 1987 foi Ascensão e Queda das Grandes Potências, de Paul Kennedy, que anunciava como iminente a derrocada dos EUA e a subida da URSS à condição de potência dominante. Pior: o fator que ele apontava como causa essencial do declínio era o crescimento desmedido do orçamento militar – justamente o expediente usado logo em seguida por Ronald Reagan para vencer a Guerra Fria.

Mas o maior vexame acadêmico daquela década parece não ter deixado nenhuma lição para a década seguinte. Uma vez consumada a dissolução da URSS, quantos luminares do comentário político puderam prever que o movimento comunista não se extinguiria com ela, mas, ao contrário, cresceria formidavelmente e logo estaria em condições de “reconquistar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu(C.T. - lema do FORO DE SÃO PAULO)?

Praticamente não houve, entre aquelas criaturas maravilhosas, quem não se apressasse em noticiar o fim do comunismo , seja para celebrá-lo apressadamente no altar da economia de mercado, seja, ao contrário, com o intuito perverso de dar ao comunismo sua melhor oportunidade de fazer-se de morto para assaltar o coveiro.

Nessas duas ocasiões, as poucas vozes sensatas que enunciavam conclusões baseadas na realidade foram sufocadas pela tagarelice majoritária. Ludwig von Mises e Eric Voegelin previram muito claramente o fracasso da URSS, mas ninguém ligou. Lev Navrozov e Anatoliy Golytsin passaram por loucos quando disseram que o fim do regime soviético era um upgrade do movimento comunista.

Se a capacidade de previsão é a marca distintiva do conhecimento científico, não vejo como escapar à conclusão de que a ciência política atualmente aceita como tal nas universidades e na mídia é uma fraude retumbante. Mas muitos de seus praticantes não têm mesmo a mínima intenção de conhecimento: o que querem é produzir efeitos políticos para os quais a confusão e o erro são em geral os instrumentos preferenciais.

Alguns deles usam apenas a máscara do prestígio científico como um ladrão se disfarça de padre ou de velhinha. Outros, mais cínicos, confessam que não são devotos da ciência no sentido usual da palavra: são “agentes de transformação social”. Não querem compreender a realidade, mas transmutá-la à sua imagem e semelhança. Se, tomando sua declaração expressa como mera auto-ironia elegante, o público prefere antes confiar nos seus diplomas de ciência política e continuar levando esses indivíduos a sério como analistas idôneos, ele o faz em prejuízo próprio.

De fato, a transposição metonímica da realidade não é somente uma falsificação pontual. É a destruição da possibilidade mesma do estudo científico da sociedade e da política. Vinte e quatro séculos atrás, Platão e Aristóteles inauguraram esse estudo com a distinção fundamental entre o discurso do agente político e o discurso da análise teorética .

É claro que este último pode, em seguida, ser incorporado ao primeiro e transformar-se ele próprio em meio de ação política. Mas confundi-los já na base é dissolver o conhecimento na manipulação, a inteligência na vontade de poder. É nisso que consiste a quase totalidade daquilo que, nas universidades e na mídia, se entende como ciência política

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".