Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

A revolução interrompida

Do portal INSTITUTO MILLENIUM
Autor Convidado:
Demétrio Magnoli em 03 de Abril de 2008

"Como todo mundo, eu gostaria de viver uma longa vida. (...) Mas não estou preocupado com isso agora. Só quero cumprir a vontade de Deus. E Ele me permitiu subir a montanha. E eu vi lá de cima. E enxerguei a terra prometida. Posso não chegar lá com vocês. Mas quero que saibam que nós, como um povo, chegaremos à terra prometida." Martin Luther King pronunciou essas palavras há exatos 40 anos, naquele que foi seu último discurso. Menos de 24 horas depois, o homem que tinha um sonho tombava morto, alvejado a tiros na sacada de um hotel de Memphis. Duas semanas atrás, um discurso sobre o mesmo tema, pronunciado por Barack Obama, evidenciou a distância que ainda separa a nação americana da "terra prometida".

O discurso de Obama nasceu de uma imposição, não de uma opção. Dias antes, o pastor negro de sua igreja, que foi seu confessor, amaldiçoara os Estados Unidos como uma "nação racista". O candidato precisava reagir a um escândalo - e escolheu o caminho mais digno. No lugar de apenas se dissociar de uma maldição revestida de amargura, ofereceu um balanço do "impasse racial no qual estamos presos há muitos anos". A peça, elegante e pungente, é uma crítica devastadora às políticas de raça.

O "povo" de King não eram os negros, mas a nação americana inteira. O seu sonho era uma visão pós-racial, expressa na esperança de que "meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação na qual não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter". A revolução que ele personificou foi interrompida pelos arautos do multiculturalismo, que rodearam a crença nas raças com as paliçadas defensivas das políticas de preferências raciais. A inversão do sinal sustentou a velha equação que faz cada um ser julgado pela cor da sua pele.

No seu discurso mais célebre, de agosto de 1963, King invocou a promessa de igualdade da Declaração de Independência. A mesma invocação perpassa o discurso recente de Obama, cuja candidatura nasceu como negação da negação multiculturalista e como retomada do fio partido há 40 anos. O tear do qual emana esse fio é a Revolução Americana, que ainda não cumpriu integralmente sua promessa fundadora.

A identidade dos Estados Unidos construiu-se sobre uma tensão de fundo entre aquela promessa e a concepção multiculturalista do melting-pot, que é o caldo constitutivo da nação. No melting-pot, os componentes do povo vivem juntos, no mesmo país, sem jamais se misturarem efetivamente. A noção de mestiçagem, como intercâmbio biológico e cultural criador, não tem lugar nesse conceito que celebra os muros e abomina as pontes. A novidade de Obama está na descoberta da mestiçagem como antídoto contra o multiculturalismo.

Há fissuras reais no mundo dos estamentos "raciais" americanos. Há um ano, a Suprema Corte declarou inconstitucionais as políticas educacionais baseadas em cotas raciais, e o juiz Anthony Kennedy associou uma indagação incomum a um protesto inesperado: "Quem exatamente é branco e quem é não-branco? Ser forçado a viver sob um rótulo racial oficial é inconsistente com a dignidade dos indivíduos na nossa sociedade." Nos últimos meses, centenas de milhares de jovens, negros e brancos, revelaram-se fartos das políticas de raça ao acorrerem em massa aos comícios gigantescos de Obama.

"Sou o filho de um homem negro do Quênia e de uma mulher branca de Kansas. (...) Sou casado com uma americana negra que carrega dentro dela o sangue de escravos e proprietários de escravos - uma herança que transmitimos a nossas duas preciosas filhas. (...) É uma história que marcou a minha personalidade genética com a idéia de que essa nação é mais que a soma de suas partes - que, a partir de tantos, somos verdadeiramente um." Obama é um mestiço, palavra que não encontra correspondência rigorosa na língua inglesa. A sua ancestralidade genética, em si mesma, carece de significado político. A singularidade relevante encontra-se na sua visão da mestiçagem como ponte entre King e a Declaração de Independência e como inspiração para a reinvenção da identidade americana.

Nenhum comentário:

wibiya widget

A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".