Com uma longa intervenção do presidente nicaragüense Daniel Ortega e outra do senador frenteamplista uruguaio José Mujica, foi encerrada no domingo (25) a 14ª edição do Foro de São Paulo. As atividades ocorreram no belo palácio que abriga a sede do Mercosul, às margens do Rio da Prata, numa avenida beira-rio da capital uruguaia.
Em três dias de reunião, com a participação de 844 delegados de 35 países da América Latina e Caribe — ademais de convidados de outras partes do mundo —, o Foro foi concluído com a aprovação de uma firme e contundente Declaração Final. O texto aponta para o chamado de que “seguiremos reafirmando nossa inquebrantável vontade de luta para conquistar a definitiva libertação de nossos povos e pelo socialismo”.
Nestes dias na capital uruguaia, o PCdoB esteve representado por José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais, e por Ronaldo Carmona, da Comissão de Relações Internacionais do partido. Também a UJS esteve presente na reunião de juventude do Foro, através de Ticiana Álvares, responsável por solidariedade internacional da organização juvenil.
A deputada federal Manuela D’Ávila — após reunião com o prefeito de Montevidéu, Ricardo Erlich, na qual foi acompanhada por Carmona — participou na sexta-feira de uma reunião dos parlamentares dos Partidos membros do Foro. Já José Reinaldo participou no sábado, em nome do partido, da mesa de abertura do Encontro, que debateu a situação política internacional.
Em sua fala, o dirigente do PCdoB destacou três tendências que marcam o quadro internacional. Em primeiro lugar, está a crescente e permanente ameaça dos Estados Unidos contra os povos do mundo, a partir de conceitos como o das guerras preventivas — materializados em feitos como o conflito guerra contra o Iraque e o Afeganistão e a recriação da IV Frota Naval estadunidense na América Latina
Também é possível classificar como “tendência” a intensa reação de povos e nações soberanas contra essas ameaças, destacadamente na América Latina e no Oriente Médio; e o surgimento de novos atores no cenário internacional que apontam para uma gradual mudança no quadro de forças no mundo, destacadamente China e Rússia.
O secretário do PCdoB também analisou a atual crise econômica internacional sob a ótica dos desequilíbrios estruturais do imperialismo norte-americano. Por fim, valorizou a nova realidade política da América Latina. Após viver dois ciclos reacionários — o das ditaduras militares e o do neoliberalismo —, a região vive um ciclo democrático e de acumulação de forças contra a hegemonia neoliberal.
José Reinaldo chamou a solidariedade com os povos ameaçados pelo imperialismo estadunidense — destacadamente com a Venezuela e com a Bolívia — e defendeu a ampla unidade antiimperialista dos povos do mundo.
O Plenário do encontro também retificou a decisão de incorporação do PCdoB como membro efetivo do Grupo de Trabalho (GT) do Foro de São Paulo. Trata-se da instância de coordenação do Foro entre um encontro e outro, que busca coordenar ações e iniciativas comuns a forças de esquerda da América Latina e Caribe.
Entre outras responsabilidade, caberá ao Grupo de Trabalho organizar as principais campanhas e iniciativas decididas na reunião de Montevidéu. Destaca-se a necessidade de apoiar ao presidente boliviano Evo Morales no referendo de seu mandato em agosto próximo.
Declaração Final
A Declaração Final do encontro, proposta a cargo de uma comissão de partidos que incluiu o PCdoB, retrata os principais debates ocorridos nestes dias em Montevidéu. O documento começa denunciando as grandes ameaças que pairam sobre os povos do mundo, como as políticas de guerra e de agressões por parte do imperialismo norte-americano, cujo objetivo é “frear o desenvolvimento autônomo de nossos países e os processos de unidade e integração”.
O texto denuncia as ameaças ambientais que estão gerando as mudanças climáticas no planeta, as ameaças de recessão mundial provocadas pela crise norte-americana e a crise mundial de alimentos, ameaçando com a fome muitos povos do mundo.
Em seguida, a declaração valoriza o novo momento político da América Latina, registrando que 13 paises da região participam dos governos nacionais partidos e membros do Foro de São Paulo. A lista dos treze países — nas quais partidos membros do Foro participam em distintos níveis — contém Uruguai, Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Cuba, Equador, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Republica Dominicana e Venezuela.
A declaração registra que “as forças progressistas do continente que se encontram no governo buscam por distintas vias implementar projetos que, de acordo com as características próprias de cada país, lhes permitam encarar os principais problemas que o neoliberalismo gerou”, para em seguida apresentar um conjunto de convergências destes novos governos progressistas da região.
O documento denuncia um conjunto de ações do “bloco conservador” contra as mudanças, que possui diversas características. Em seguida o texto se solidariza com a Colômbia – chamando a uma saída negociada do conflito armado – e homenageia Cuba, às vésperas dos 50 anos de sua revolução.
A declaração chama a convergência dos diversos processos de integração (Mercosul, Comunidade Andina, Caricom, Alba-TCP) e saúda a assinatura do Tratado Constitutivo da União Sul-americana de Nações (Unasul) na ultima sexta-feira, em Brasília. Também se lê o apoio ao Banco do Sul e a proposta de criação do Conselho Sul-americano de Defesa.
O discurso de encerramento coube ao presidente nicaragüense Daniel Ortega, que pronunciou um vigoroso e contundente discurso antiimperialista. Nele, o presidente nicaragüense prestou suas condolências às Farc pela morte de seu líder Manuel Marulanda, o Tirofijo, recordando de suas reuniões com o líder insurgente na zona de San Vicente de Caguan, no governo de Pastrana.
Ortega denunciou as falsas qualificações de “terrorismo” por parte dos Estados Unidos e da União Européia e lembrou que os povos da América Latina bem sabem o que é terrorismo, tendo em vista a política de agressões pelo imperialismo norte-americano.
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