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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O PT E A Guerra Entre Israel E O Hamas Na Faixa De Gaza

PAPÉIS AVULSOS (HEITOR DE PAOLA)

A declaração do PT sobre a operação de guerra israelense em Gaza é um retrato perfeito de como o conflito no Oriente Médio pode ser utilizado para fins ideológicos e partidários

Este comentário foi escrito pelo Prof. Franklin Goldgrub, autor de “O anti-sionismo – de esquerda, direita, liberal e islâmico" – Editôra Samizdat

Em primeiro lugar, associa Israel e Estados Unidos, segundo o conhecido mantra de que Israel é o braço do imperialismo no Oriente Médio, e atribui aos americanos a responsabilidade pelos “ataques” israelenses bem como o conseqüente dever de impedi-los.

Em segundo lugar, repete a conhecida comparação entre Israel e nazismo, que tem provado ser a cédula de identidade e o cartão de visitas do anti-sionismo militante professado pela esquerda.

Em terceiro lugar, atribui o conflito à “ocupação” israelense, argumento repetidamente usado para justificar o que tem sido chamado de “resistência palestina”, vinculando Israel ao colonialismo europeu dos séculos passados.

Ao assumir uma posição anti-sionista expressa nesses termos o PT não faz senão seguir a política adotada pela esquerda a partir da ideologização do conflito do Oriente Médio, decorrente da perda de influência francesa e inglesa na região (década de 50), substituída pelos Estados Unidos e pela União Soviética. 

A princípio parece estranho que a esquerda adira à posição anti-israelense defendida por regimes monárquicos de figurino medieval (alguns dos quais ainda persistem, como a Arábia Saudita e os Emiratos), bem como ao anti-sionismo visceral de suas sucessoras, as ditaduras castrenses (representadas principalmente pelo Egito, a Síria e a Líbia). Mais surpreendente ainda é a entente não oficial mas nem por isso menos conspícua entre a esquerda e o poder teocrático iraniano, cujas ambições nucleares são respaldadas pela Rússia, que procura recuperar o papel de potência, e a ainda comunista República Popular da China. 

Uma forma de compreender essa estranha relação entre a esquerda e as ditaduras árabe/muçulmanas é examinar a história da aliança entre a União Soviética com o Egito (Gamal Nasser) e a Síria (Hafez Assad), que inaugurou o que poderia ser chamado de “Realpolitik” ideológica no âmbito do conflito do Oriente Médio. A esquerda ocidental não fez senão herdar essas diretrizes e as adotou como próprias a partir do colapso do “socialismo real”

A partir do final da década de 60 e até a dissolução do regime soviético, os princípios ideológicos e éticos foram sacrificados às conveniências da Guerra Fria, isto é, à necessidade de combater e derrotar o capitalismo. Nesse sentido, regimes e crenças cujos valores são totalmente contraditórios com o ideário marxista foram considerados aliados no confronto com o ocidente. 

O fim da guerra fria, com a derrota da foice e do martelo, representou um duro golpe para os partidos políticos, sindicatos e movimentos da esquerda ocidental. As denúncias cada vez mais freqüentes dos crimes cometidos em nome do comunismo, o fracasso tecnológico das sociedades do leste europeu, o progressivo autoritarismo da revolução cubana, a transformação dos países do terceiro mundo que haviam adotado o modelo socialista em ditaduras brutais e ineficazes impactaram fortemente o pensamento e a prática do chamado campo progressista. 

Assim como aconteceu com a direita alemã na seqüência da derrota na primeira guerra mundial, a esquerda pós queda do muro de Berlim e pós colapso da União Soviética, procurou emergir dos escombros mediante um gesto dramático e convincente. Ao cabo da primeira guerra mundial, depois da derrota do Império Germânico e face à ameaça da revolução comunista, a direita alemã recorreu primeiramente à perseguição política, depois à eliminação física de seus adversários (Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht) e finalmente ao nazismo. 

O anti-semitismo pode ser analisado pela ótica do preconceito brutal e mesmo enquanto patologia assassina, mas representou acima de tudo uma estratégia altamente eficaz para permitir à direita teutônica manter o poder na esteira do fracasso militar que ela mesma havia provocado. 

Similarmente, os argumentos utilizados pelo atual anti-sionismo da esquerda podem parecer absurdos, porque se apóiam num conjunto de contradições, omissões, distorções e análises desprovidas de qualquer base histórica e lógica. Entretanto, assim como o anti-semitismo deu impulso ao nazismo, restaurando o orgulho abalado do cidadão alemão, permitindo o roubo e o confisco de bens dos judeus, bem como do respectivo mercado de trabalho, “compensando” o trauma do pós-guerra (como a inflação recorde que se abateu sobre a Alemanha), o anti-sionismo da esquerda é igualmente uma estratégia que nada tem de espontânea ou ingênua, concebida com a finalidade de recuperar a imagem da esquerda, duramente afetada pelo fracasso do socialismo real


Além dessa função abrangente, que explica a popularidade do anti-sionismo em toda a esquerda ocidental, trata-se, em cada país, de usar o conflito do Oriente Médio em função de interesses específicos relacionados à política local. Cada situação tem a sua particularidade. Chavez, na Venezuela, aproveita a guerra de Gaza para justificar a sua política anti-americana e arvorar-se em defensor dos palestinos, conservando ou mesmo aumentando a sua popularidade, estratégia nada casual, sobretudo quando usada em circunstâncias como as atuais, relacionadas à queda vertiginosa do preço do petróleo em função da crise econômica. 

No Brasil, não é preciso lembrar a perda do prestígio do PT (que contrasta com a popularidade irrestrita de Lula), em função dos vários escândalos em que o partido se envolveu. A classe média, notadamente, que além do acesso às notícias possui capacidade de análise, ressente-se da pesada carga tributária e sabe que está financiando uma política de paternalismo dirigida aos mais pobres, associada a vantagens concedidas aos setores bancário e industrial, os maiores beneficiários da política econômica do governo. 

A tentativa de recuperar a bandeira ética faz com que o PT mobilize a militância, servindo-se do conflito do Oriente Médio para restaurar a imagem de partido de esquerda, anti-americano e anti-capitalista. A finalidade é estancar a erosão diária ligada ao exercício do poder, com as habituais manifestações de acomodação, politicagem, favoritismo, clientelismo e corrupção


Ninguém melhor do que o estado judeu para encarnar os demônios da “agressão imperialista”, do “massacre da população indefesa”, do “genocídio”, papel que a aliança com os Estados Unidos torna ainda mais plausível e conveniente segundo a ótica progressista. O PT afivela assim a máscara da ética, de defensor dos oprimidos, de portavoz dos injustiçados, de corajoso representante do povo palestino... Não é improvável que a demonização de Israel se alimente também de arcaicas raízes anti-semitas presentes no “inconsciente coletivo” popular, que a prática tradicional da malhação do Judas no sábado de aleluia pode ilustrar. 

Evidentemente, esse mesmo PT nunca protestou contra o bombardeio de cidades israelenses, nem contra atentados terroristas (em Israel, em Mumbai, em Madrid, em Londres, em Nova York, etc), nem contra a opressão do povo árabe em geral (não há país árabe e/ou muçulmano que não seja governado por uma ditadura a única exceção, o Líbano, está em vias de perder essa condição, graças à Síria e ao Irã).

Muito menos protestou contra o genocídio de Darfur (300 mil mortos, 2 milhões de deslocados, visto que é praticado por um regime islâmico), nem contra a invasão do Tibet pela China, nem contra a repressão do povo birmanês pelo regime militar que governa Mianmar (apoiado pela China). Os exemplos poderiam ser multiplicados.


Mas quando aparece a possibilidade de demonizar Israel, o PT desperta de seu torpor diante das contínuas violações aos direitos humanos e se torna subitamente sensível ao sofrimento do povo palestino, cuja opressão brutal por parte das ditaduras do Hamas e do Fatah jamais havia suscitado qualquer crítica dos companheiros... 

Adendo e informação importante do nosso leitor, Samuel Groissman: Chama a atenção os comentários dos internautas que se vê a partir de um link no final da nota do PT. Tem gente dizendo declaradamente que judeu não presta. E eu tentei enviar um comentário e vi que assim como o meu, todos os comentários têm que passar por aprovação. Ou seja, todo anti-semitismo nos comentários dos internautas é aprovado pelo PT, mesmo os que tem conteúdo anti-semita.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Não se pode dizer que toda uma etnia não presta. No entanto, pode-se dizer perfeitamente que um grupo que se une, tendo por objetivo a espoliação de um país, não presta. O PT que preste atenção às suas palavras.
Até o nosso grande sábio, autor de uma culta reforma ortográfica, sabe disso: tanto que, neste tema, afastou seu discurso do de seu partido.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".