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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

QUEM SÃO OS FASCISTAS

Do portal FAROL DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
Por José Nivaldo Cordeiro, Economista e mestre em Administração de Empresas na FGV-SP

Li de um fôlego o livro de Jonah Goldberg LIBERAL FASCIM – The Secret History of the American Left, From Mussolini to the Politics Meaning, que ainda não chegou em tradução brasileira. O livro não por acaso está na lista dos mais vendidos da http://www.amazon.com/. Escrito em estilo panfletário, linguagem em torrente de fogo, Goldberg mostra documentalmente a verdade mais óbvia: que a esquerda política dos EUA é que é fascista de crença, ela que rotineiramente acusa os conservadores de sê-lo. A farta documentação é sublinhada por uma narrativa poderosa das personalidades históricas. Os sucessivos presidentes, desde Wilson, têm seus governos esmiuçados. Fabuloso.

Alguém poderia argüir que é um livro norte-americano para um público local. Errado. O que Goldberg revela é também a nossa imagem e semelhança. Veja você, caro leitor, que a nossa esquerda acusa o regime militar de “fascista” todo tempo e, no entanto, quem tem agigantado o Estado, regulado a vida privada e mesmo destruído o modo de vida tradicional, incluindo a criação de um racismo institucional que nunca houve em nossa história republicana é a esquerda, ela mesma que se apossou do Estado em 1985 para não mais largá-lo. Quem são os fascistas?

Goldberg traça paralelos incríveis entre a história da Alemanha e da Itália com a história dos EUA do mesmo período e mesmo de momentos mais recentes. Mostra que a raiz da ação política e da ação governamental, desde Wilson, tem sido basicamente a mesma que deu fundação ao nazismo e ao fascismo italiano. Mostra mais, a cumplicidade entre os mesmos grupos políticos, as mesmas crenças, as mesmas motivações. A inspiração na Prússia de Bismark. Eugenia, abortismo, gaysismo, ambientalismo, regulação da vida prática, destruição dos laços familiares, absorção da formação infantil pelo Estado: todo o projeto totalitário foi posto em prática na terra de Tio Sam. Até o nome Terceira Via foi tomado dos fascistas. Os verdadeiros fascistas dos EUA, aqueles doutrinários, estão no Partido Democrata. Criaram o que ele chamou de “mommy state”, o Estado que esmaga o indivíduo pelo excesso de cuidados que chamou para si. Mãe terrível que devora seus próprios filhos.

Uma das práticas típicas do fascismo é o ativismo, especialmente o de caráter bélico. E o ativismo pacifista também. Então tivemos a curiosa situação de ter naquele país um governo esquerdista fascista que fazia a guerra e que mobilizava seus militantes para fazer passeata contra a mesma. Uma completa loucura cuja lógica só pode ser captada quando se olha a coisa na sua dinâmica política, à luz de sua gênese e da filosofia inspiradora.

E o fato é que o resultado desse processo foi o vertiginoso crescimento do Estado, cuja arrecadação já supera 30% do PIB. E crescendo a cada período, não obstante espasmódicos momentos de redução dos impostos, feitos por presidente republicanos. Mas estes também passaram a defender a causa fascista do Estado grande, na crença de que assim se legitimam e podem se manter no poder. Elegem-se para deixar tudo como está, até porque não teriam força no Congresso para fazer o que precisaria ser feito. A verdadeira batalha política que se trava no campo eleitoral é saber quem será mais populista e mais “mommy” para os eleitores. Lá como cá. Quem dá mais bolsa-família?

Goldberg destaca a aliança entre o big business e os fascistas, embora estes digam que são os conservadores os representantes das grandes corporações. O que desse conluio resulta é a criação de barreiras à entrada artificiais nos mercados e a cartelização de tudo. Quando uma nova empresa se destaca, como a Microsoft, é questão de tempo que os burocratas ponham as mãos sobre ela. O caso da empresa de Bill Gates demonstrou isso. Não há como alguém escapar de pagar os lobbies e os elevados gastos com políticos e advogados.

Acertadamente o autor tributa a Nietzsche a grande responsabilidade filosófica de inspirar essa virada nos valores e de ser o patrono dos totalitários. Mas, infelizmente, sua análise pára aí. É verdade que Goldberg gostaria de restaurar uma ordem conservadora e que ele é um franco lutador da causa do livre mercado. Mas Nietzsche sozinho não explica o século XX e a emergência do Estado Total (ou fascista, como ele chama, o que é a mesma coisa). Para compreendê-lo ele teria que voltar ao Renascimento, a Maquiavel, a Hobbes e a Locke, pelo menos. E bem sabemos como esses autores são os queridinhos dos que defendem o liberalismo clássico de forma acrítica. Foi a arrogância da razão defendida por esses filósofos que destruiu a ordem estabelecida pelos valores judaico-cristãos e sem entender o verdadeiro significado que tomou o Direito Natural com os modernos não se compreenderá o que está se passando. Goldberg falhou clamorasamente aqui.

O autor sublinha a semelhança das políticas dos presidentes conservadores com a agenda dos fascistas do Partido Democrata. Esse ponto é muito importante. Firmemente creio que, lá com cá, a alternância de poder entre os partidos não consegue recolocar as coisas no trilho, não tem como reduzir o tamanho do Estado Total. Muito ao contrário. Então o que vemos é que, qualquer que seja o eleito, lá como cá já sabemos que nada vai mudar, ou melhor, que teremos, o povo, que pagar mais impostos e agüentar mais regulação da vida privada. A pergunta é: qual é o limite desse processo? Onde vai parar? Na Europa já há Estado arrecadando cerca de 50% do PIB. Toda a gente passou a depender, direta ou indiretamente, do Estado. Na prática as liberdades cessaram.

Na América e aqui também. O que vejo é a criação de um enorme Estado policial, que regula tudo e, ao fazê-lo, cria mais e mais cargos de inspetores estatais para garantir que as leis malucas criadas sejam cumpridas. Uma rosca sem fim. Um exemplo claro são as leis de trânsito, sempre cheias de boas intenções e que, na prática, estão destruindo a liberdade de ir e vir. Mas a coisa também vai para áreas de indiscutíveis questões morais, como o aborto e o casamento gay. Ver essas questões pela ótica de saúde pública ou suposta igualdade de direito é desfocá-las: nem aborto é questão de saúde e nem casamento gay é questão de igualdade. Na prática o que se vê é a destruição daquilo que sempre se considerou mais sagrado, tendo-se em troca a institucionalização de crimes e de vícios milenarmente abominados.

Os mesmos ativistas que fazem campanha contra o tabaco são aqueles que pelejam pela liberação das drogas ilícitas. A coerência é total, contrariando as aparências: ambas as ações servem para abolir a liberdade individual, sujeitando-se as pessoas ao coletivo anônimo impessoal da burocracia do Estado. Além disso, mantêm a agenda febril do ativismo. O mesmo vale para as questões envolvendo alimentação, obesidade, doenças em geral. A obsessão com a saúde era uma das coisas mais caras a Hitler e Mussolini. Antes como agora.

Evidente que estamos vivendo uma forma de culto pagão ao Estado, um renascer de Baal. Essa gente progressista não esconde que cultua o paganismo, ao tempo em que rejeita como anátema as coisas da tradição judaico-cristã. Ambientalismo, Nova Era, Mãe-terra, Orientalismo: todas essas coisas são maneiras de negar as verdades bíblicas tão cultivadas no passado. E aqui Goldberg chama Hollywood de a maior agência de propaganda da história, por produzir filmes em série em defesa da ideologia fascista. É certo que alguns dos filmes comentados não caberiam nessa estética fascista, como os do Clint Eastwood e os dos Irmãos Wachowski. A metralhadora giratória de Goldberg, todavia, não poupou ninguém. Tomei como uma hipérbole.

Ler o livro é útil também para acompanhar as eleições que estão em processo nos EUA. O discurso e o papel de cada um dos pré-candidatos fica mais claro para estrangeiros. E podemos ter uma certeza: nesse jogo político insano que é jogado nos EUA todos perdem, o mundo todo perde, pois a verdade da alma está perdida: a religião do Estado Total escolherá seu sumo sacerdote e as coisas continuarão como sempre foram. Mais guerras virão, mais direitos também e, claro, mais impostos. Onde irá parar?

Receio que se não houver um renascimento vigoroso dos valores tradicionais, inclusive por parte das igrejas, isso não vai parar. A esquerdização das igrejas no EUA foi a mesma que vemos por aqui. No começo os fascistas infantilizaram os eleitores, toda a gente. Mas depois eles mesmos foram infantilizados, passaram a acreditar nas suas próprias propagandas fajutas, de sorte que se perdeu o discernimento. Toda a classe dirigente enlouqueceu, perdeu o descortino da realidade. Vive-se num sonho gnóstico muito perigoso. Nunca devemos esquecer que essa gente tem o poder de comando sobre os gatilhos atômicos e já deram prova real de que não hesitarão em apertá-los de novo. Lamentavelmente Goldberg não leva às últimas conseqüências o seu raciocínio. A derrocada dos fascistas históricos – Hiltler e Mussolini – tem a nos dizer que esse é o caminho da destruição: acabará tudo na mais insana empreitada, morrendo todos no final de uma maneira violenta.

Quem viver verá.

www.nivaldocordeiro.net

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".