LUCIANO AYAN
A metáfora bíblica da “corrupção” (Adão mordendo a maçã) pelo conhecimento não deve ser vista como uma crítica ao conhecimento, mas uma constatação de que, após o conhecimento obtido, não podemos renegá-lo. A partir do momento em que perdemos nossa inocência, mudamos nossos filtros, e não conseguimos retornar ao estado anterior de inocência.
Isto significa que, após eu ter lido “A Arte da Guerra Política”, de David Horowitz, que eu traduzi aqui (vejam os links para os 8 capítulos ao final deste texto), eu não poderia ter esperanças na eleição de Mitt Romney, de maneira diametralmente oposta a muitos conservadores, que ainda alimentavam fé em sua vitória. A cada manifestação do tipo “Romney, eu acredito!” eu já pensava “Se ganhar, é por que o Obama realmente está com o filme queimado, pois no que depender de Romney…”.
A quem ainda não leu o livro de Horowitz, recomendo fazê-lo. Faça por sua livre iniciativa, ciente dos riscos que terá. Simplesmente, após a leitura do livro (e caso sua mente não edite o conteúdo), você perderá o direito à alimentar falsas esperanças na guerra política.
Ao entendermos o que é a guerra política, mudamos a forma de analisar toda a questão envolvendo essa disputa, que transcende à recém terminada eleição. Obama e os democratas estão afundando os Estados Unidos, e seu índice de rejeição era alto. Ganhar dele seria fácil demais, desde que os republicanos soubessem jogar o jogo político.
Porém, enquanto os democratas continuavam com seu “candidato das minorias”, os republicanos colocaram como seu oponente alguém que não possuiria qualquer identificação com o eleitorado. Romney era um verdadeiro aristocrata. Fica óbvio que a estratégia de buscar identificação com a massa dos eleitores nem de longe passou pela mente republicana.
Sei que após muitas eleições, a maioria dos perdedores tem a mania de culpar “a mídia”. Sim, claro que a mídia de esquerda ajudou o Obama tanto quanto aos petralhas no Brasil. Mas a questão é: “Ainda com a questão da mídia contra, o que vocês (oposição) fizeram para reverter o quadro?”.
Em suma, não dá mais para aturar o chororô de “a mídia é sacana” (sim, ela é, mas a questão é errada, e deveria ser: “agora, como você vai lidar com isso?”), mas já deu no saco ver isso ser utilizado como muleta para que sejam tomadas as mais estapafúrdias decisões políticas sem o menor senso de responsabilidade.
Por exemplo, quem foi que disse aos republicanos que Paul Ryan seria um bom vice? Com suas posições “anti-aborto em qualquer hipótese” (sim, eu sei que muitos conservadores de direita defendem esta posição), qual foi a mensagem que os republicanos queriam sub-comunicar ao eleitorado? Eu só consigo interpretar esta: “O voto feminino, em sua maioria, não nos interessa”.
Sei que o aborto é uma questão dura para a maioria dos conservadores de direita, especialmente os puristas, mas qual era o objetivo: fazer uma afirmação de seus princípios ou ganhar a eleição? Mas se o objetivo é somente afirmar princípios, então para que concorrer à eleição?
Eis então a grande diferença que decidiu esta eleição, mesmo sendo Obama um candidato facilmente derrotável: os democratas entraram para vencer e, na medida do possível, implementarem seus programas; os republicanos entraram para afirmar seus ideais e, com isso, desistiram da eleição.
Agora, a pergunta final: se é através da vitória eleitoral que se consegue implementar programas, o que querem os republicanos? Pode-se supor que a meta é massagearem seus próprios egos e depois terem como contar aos filhos e netos: “Olha, nós perdemos, lindamente, para um candidato fraco, mas não abandonamos nossos ideais”.
Seguem abaixo as regras para a guerra política, diretamente do livro de Horowitz. Regras seguidas à risca pelos democratas, e ignoradas de forma retumbante pelos republicanos.
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