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domingo, 4 de janeiro de 2009

LATET ANGUIS IN HERBA

FAROL DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
Ubiratan Iorio | 31/12/2008
Economista, Fundador do FDR

A propósito da recente tentativa do governo de nos impor, por medida provisória, a capitalização do “Fundo Soberano Brasil”, bem que podemos recordar - tal como Machado de Assis em “A Mão e a Luva”, ao descrever o encontro fortuito entre Estácio e Guiomar nos jardins de uma chácara na bucólica Praia de Botafogo do século XIX - o poeta Virgílio (Eclogae 3.93): há uma cobra escondida no capim! Em termos – digamos - menos literários, isto equivale à afirmativa de que em baixo desse angu tem caroço... Aliás, em se tratando de manobras do governo petista, a experiência tem mostrado com clareza contundente que praticamente todos os angus têm caroços e que há numerosas gatarias escondidas em todas as tubas do Executivo, miando hinos de louvor ao Estado onipotente, aquele mesmo que garante as suas sinecuras e prebendas, sempre custeadas pelos contribuintes...

Qui legitis flores et humi nascentia fraga, frigidus, o pueri, fugite hinc, latet anguis in herba! (Eclogae 3.92)! Ó crianças que colheis flores e morangos que nascem no chão, fugi daqui, há uma fria cobra escondida no capim... Eles – os homens da Fazenda, mentores do gesto despudorado – pensam, decerto, que somos um bando de crianças a colher inocentemente flores e morangos e incapazes de enxergar as víboras que, escondidas sob relvas aparentemente macias e inofensivas, apenas esperam para dar o bote. 

Esse tal “Fundo Soberano Brasil” (FSB) é uma excrescência abominável, cujos únicos propósitos são enfraquecer o Banco Central, fortalecer o projeto de um Estado ainda maior e mais forte e sobrepor o Executivo aos outros dois poderes. O FSB inspira-se em experiências semelhantes nascidas em economias – como a da China – que ostentam sistematicamente superávits nas contas internas e externas, coisas que, efetivamente, não acontecem no Brasil: nossa conta de transações correntes só é superavitária episodicamente e nosso déficit nominal interno é crônico e crescente. Os defensores do Fundo, no entanto, sempre simularam desconhecer essas características estruturais de nossa economia, ou – hipótese pela qual me inclino com probabilidade igual a 1 – julgam que não seriam importantes. Por isso, quando sugeriram, há alguns meses, a sua criação, alguns analistas mais perspicazes aventaram que se tratava de uma manobra – latet anguis! – para tornar possível o projeto do ministro Mantega e de seus súcubos neokeynesianos de intervir na política cambial, criando uma espécie de “BCB do B” (tomando emprestada a expressão do editorial do Globo do dia 30 de dezembro), para adotar medidas diametralmente opostas às de nossas autoridades monetárias. Duplicar os mecanismos de ação sobre o câmbio!... Essa gente não tem mesmo a menor idéia de como os mercados reagiriam a tamanho despautério, o que, aliás, é perfeitamente compreensível, pois nem remotamente são capazes de compreender o que vem a ser o processo de mercado... Um verdadeiro absurdo, que nos faz dar razão ao jornalista Reinaldo Azevedo, quando os denomina, sem a menor cerimônia, de “petralhas”. Com efeito, o Brasil que se dane, porque o importante, o relevante, o crucial mesmo é o “projeto de país” que vaga fantasmagoricamente em suas cabeças socialistas, para gáudio de seus neurônios heterodoxos... Lembremo-nos de que essa gente – que não pode, com efeito, ver um preço no seu lugar certo (determinado pelo mercado) -, quando o dólar estava fraco perante o real – época em que surgiu a idéia de criação do Fundo - pôs-se a crocitar insistentemente, corvejamento naturalmente acompanhado por exportadores e por detentores de posições credoras em dólares, que estavam, obviamente, perdendo. 

Agora, com a valorização do dólar frente à nossa moeda no bojo da crise internacional, o governo vem com essa pérfida manobra da MP 452, que altera inconstitucionalmente a lei de criação do FSB aprovada pelo Congresso, alegando a necessidade de dotá-lo de recursos, ao arrepio do Congresso. Em outras palavras, o presidente do país sanciona uma lei e, imediatamente, muda-a por uma medida provisória, que permite, inclusive, que o governo emita títulos com vistas à capitalização do Fundo. Sem dúvida, é uma Dívida Interna do B... É evidente que, mesmo na hipótese, defendida, pelo governo de que os R$ 14,2 bilhões necessários para iniciar as operações do FSB serão devidamente abatidos da dívida caso o Congresso aprove a MP, trata-se de um inadmissível rompimento de uma regra básica, aquela que não permite financiar gastos públicos via endividamento. Quebrando esse princípio salutar, a responsabilidade fiscal vai, com todas as letras, para a cucuia, ou seja, para o beleléu! Exatamente como eles desejam.

É chegada a hora de nosso Supremo pronunciar-se em defesa da democracia, ou seja, pela inconstitucionalidade da manobra perpetrada à sorrelfa, em meio às festividades natalinas, pelo Executivo. Quem pode garantir, dado o histórico deste governo, que o FSB não será “entendido” como um mecanismo para gastar recursos públicos, escapando aos imprescindíveis controles? Quem pode assegurar que não será utilizado para aumentar nosso – desde muito tempo – paquidérmico Estado? Quem pode asseverar que não se trata de manobra para incrementar sua presença na economia? E quem pode dar como certo o equilíbrio de nossas contas públicas? 

Muitos atos do governo petista podem ser colocados sob suspeição. Mas poucos como essa MP 452, que é uma tentativa claríssima – e não é a primeira! - de aplicar um drible duplo, no Legislativo e no Judiciário. Pela preservação da verdadeira democracia, ela não pode passar. Vejamos se nossos congressistas conformar-se-ão em abrir mão de legislar e se nosso Supremo recusar-se-á a desempenhar o papel de Ínfimo. Ou seja, se os zagueiros se deixarão fintar em troca de sabe-se lá – mas pode-se imaginar - o que... 

In ista vipera est veprecula. Nesta moita há uma víbora... Alguém ainda pode ter alguma dúvida?

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".