Democracias do Sul sob ameaça
(Entrevista com Alejandro Peña Esclusa)
Víctor Alvarez R
“Eu não sou um bom analista porque não sou objetivo”, disse Peña Esclusa, e se definiu como um indivíduo que está decidido a enfrentar os que, assegura ele, são uma máfia política e estão no governo venezuelano. O fará com uma atitude frontal, comprometida, parcializada e subjetiva. É opositor declarado do governo de Chávez e acusa de cúmplices aos que, sem apoiá-lo, não se desvinculam dele. Alejandro é venezuelano, engenheiro mecânico com estudo superiores em Administração Financeira e em Segurança e Defesa. Escreveu cinco livros, alguns deles publicados em inglês e português. Foi assessor do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Venezuela (CONASEDE). Jornalista correspondente do diário argentino La Nueva Provincia. Hoje em dia preside a organização UnoAmérica.
O que é UnoAmérica?
- A União de Organizações Democráticas da América, UnoAmérica, é uma confederação de ONGs latino-americanas, criada em dezembro de 2008 na cidade de Bogotá.
Qual é o seu objetivo?
- Tal como explica sua declaração fundacional, a finalidade de UnoAmérica é proporcionar aos grupos democráticos da região um mecanismo de intercâmbio de informação e apoio mútuo, que lhes permita enfrentar juntos o avanço do comunismo, particularmente a versão mais radicalizada do mesmo, incrustada dentro do denominado Foro de São Paulo.
Qual é a sua trajetória na política antes de UnoAmérica?
- Até os trinta anos me dediquei à atividade empresarial, e devo dizer que com muito êxito porém, é certo que as condições econômicas permitiam ser exitoso, com o dólar a quatro bolívares. Fui proprietário de empresas, me fui bem. Porém, depois da primeira desvalorização compreendi que a Venezuela ia passar por uma crise muito profunda e pensei que de nada me serviria ganhar dinheiro se as bases mesmas do país eram frágeis como se desenvolve alguém pessoalmente se o país não permite? Então, decidi me dedicar à atividade política na qual encontrei minha verdadeira vocação.
Que papel tem o jornalismo nos movimentos políticos? Que opinião merece o exercício desse oficio nesses tempos?
- Eu tenho uma teoria: a América Latina está dividida artificialmente, e creio que nossos países são realmente Estados de uma mesma Nação, que poderiam ser os Estados Unidos do Sul, e nós não nos desenvolveremos como povo até que não consigamos algum tipo de confederação com os países de fala hispânica. Desde essa perspectiva, é impossível conhecer e entender a história e o acontecer das realidades nacionais sem ter uma visão continental. Por que? Porque os vasos comunicantes entre nossos países são muito amplos, e cada vez que ocorre um evento político em algum lugar, ele tende a se expandir e a se converter em correntes para o resto. Estou convencido de que para ser um bom político, um bom jornalista, você deve conhecer até o último detalhe do entorno que rodeia seu pais. É uma tendência muito positiva porque, com efeito, o jornalismo ibero-americano está se tornando mais internacional.
De onde surge essa inquietação pela internacionalidade da política?
- É por uma necessidade: a de enfrentar as ameaças à democracia e à liberdade e difundir esse problema para que busquemos soluções juntos. Essa ameaça é continental e temos como exemplos os projetos totalitários de Ortega, de Morales e de Chávez, os quais cooperam e têm a mesma fonte que é o Foro de São Paulo. Como a ameaça é continental, é necessária uma resposta com a mesma amplitude.
Ao ser interrogado pelos assuntos mais relevantes da política regional na atualidade, o ativista político assinalou o caso da Nicarágua. Referiu-se à interpretação que alguns membros da magistratura nicaragüense fizeram, desprezando o artigo constitucional que proíbe a reeleição presidencial contínua. No entender de Esclusa, o que os juízes sandinistas fizeram não é competência da Corte porque, se perguntou ele: com que justificativa legal, se obedecem ou se desprezam partes da Constituição? O entrevistado qualificou a ação como um golpe de Estado constitucional.
O que se está fazendo a respeito na Nicarágua?
- Muito. Ocorreu algo muito importante: setores da oposição que estavam separados se uniram. Inclusive a manchete do diário La Prensa da Nicarágua diz assim: “Unidade total contra a ditadura de Ortega”, e informa um acordo de quatro bancadas parlamentares, que inclui o “Movimento Renovador Sandinista”. A isso se somaram cúpulas muito importantes que seriam as patronais nicaragüenses. Além de tudo isso, decidiram linhas de ação, as quais centram-se na resistência parlamentar.
A UnoAmérica está atendendo esse conflito?
- Difundimos o atropelo e velamos para que se dê a importância que tem. O caso da Nicarágua se relaciona muito com o de Honduras. Toda a força da ALBA estava dirigida ao caso Zelaya, porém agora se lhes abriu uma segunda frente. Honduras está perdida para eles, porque inclusive há países que estão dispostos a reconhecer os resultados das eleições, assim que agora os amigos de Chávez reagiram em conseqüência disso.
Para Esclusa, o fato de que Daniel Ortega faça sua reinterpretação constitucional foi um ato de desespero por parte da ALBA, sob o pensamento de que se Zelaya não pôde, Ortega poderá sim. A ALBA está buscando esses mecanismos para criar precedentes porque temem que o cenário de Honduras se repita em outros países.“Os governos da ALBA têm uma janela de tempo que se lhes vai fechar, e necessitam de uma massa crítica continental para avançar em seus planos”, afirmou, e continuou dando certeza de que um Chávez forçado pelas circunstâncias e pelo tempo, e com o objetivo de assegurar apoios políticos, obrigou a Zelaya a cometer um grave erro.
Como você tem a certeza de que Chávez é o operador nestes assuntos?
- Isso pode-se englobar na minha hipótese: a cumplicidade de todos os membros do Foro de São Paulo para chegar a acordos e alcançar objetivos estratégicos para que seus membros mantenham o poder. O operador mais radical do Foro é Chávez Lula é o gestor, quem dirige planos mais viáveis. Em poucas palavras, e por dedução lógica, entendemos que esse grupo funciona dando-se apoios mútuos com a meta simples de acumular mais e mais poder, e isso resulta em um solapamento da democracia.
E, definitivamente, o que a região necessita para fazer frente a esta ameaça?
- Faz falta uma nova corrente política no continente que resolva nossa grande contradição: ser a região mais rica do planeta e ter cinqüenta por cento de pobres e, enquanto isto seja assim, estaremos frágeis ante tentativas ditatoriais.
Tradução: Graça Salgueiro
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