Olavo de Carvalho
3 de março de 2007
Muito bem, Constantino. Acabou o debate (digamos que tenha sido um). Você já disse o que queria e ouviu o que não queria. Eu também.
Você conserva as suas opiniões sobre mim, eu as minhas sobre você.
Objetivamente falando, isso não tem a menor importância. O que as pessoas pensam umas das outras morre junto com elas. O que sobra é o que elas são, e isto em geral ninguém sabe exatamente – nem elas mesmas.
Mas confesso que me arrependo de uma coisa. De não haver feito as seguintes perguntas em primeiro lugar.
1. Você algum dia já imaginou a possibilidade de estar inteiramente errado? Já concedeu a essa hipótese a atenção tranqüila e sem prevenções que concedeu à hipótese oposta? Já buscou argumentos em favor da possibilidade que mais o desagrada no momento, já buscou imaginar as coisas como as imaginam os que acreditam nela? Já tentou se transportar em pensamento para dentro da alma dessas pessoas, sentir como elas, ver o mundo como elas vêem, como se você fosse representar o papel de uma delas no teatro e tivesse de fazê-lo com o máximo realismo interior ao seu alcance e, pior ainda, despertar a simpatia da platéia pelo personagem?
2. Antes de criticar o cristianismo, você tentou ler literatura cristã pelo tempo e com a atenção que você concedeu a Ayn Rand, Voltaire e Karl Popper, digamos? Leu The Cloud of Unknowing, os Relatos de um Peregrino Russo, os livros de Thomas Merton, Louis Lavelle, Bernard Lonergan, Wolfgang Smith, ou, para ficar mais perto, A Descoberta do Outro, do nosso Gustavo Corção? Leu-os sem prevenção, com isenção, concedendo-lhes a mesma credibilidade inicial que concedeu a outros livros, da sua preferência?
3. Por que não experimenta? Digo isso porque experimentei. Aos quinze anos, eu era tão admirador de Voltaire quanto você é hoje. E era tão entusiasta do evolucionismo que tinha quadros de dinossauros nas paredes do meu quarto, junto com um retrato de Darwin. Felizmente dei uma longa volta pelo marxismo depois disso e, quando percebi que o marxismo estava errado (o que afinal de contas não é tão difícil), me ocorreu a singular idéia de que eu podia estar errado também em tudo o mais. Decidi então inverter o rumo das minhas leituras. Isso me pôs de início numa grande confusão. Eu tinha então vinte e poucos anos. Passaram-se outros vinte antes que eu chegasse a algumas conclusões que me parecessem dignas de ser expostas em letra de forma.
Enquanto não concedemos às idéias que nos repugnam a mesma chance que concedemos àquelas que nos agradam, estamos em plena fé cega, ainda que essa fé seja em algo a que chamamos “razão”.
Atenciosamente,
Olavo de Carvalho
3 de março de 2007
Comentário do Cavaleiro: vocês sabem o que o sr. RODRIGO CONSTANTINO é capaz de fazer? Não? Leiam estes artigos (aqui, aqui e aqui) e, se acharem adequado, façam como eu: descartem esta pessoa da lista de autores que merecem ser sequer mencionados, que dirá levados a sério, muito pelo contrário.
Não demonstre medo diante de seus inimigos. Seja bravo e justo e Deus o amará. Diga sempre a verdade, mesmo que isso o leve à morte. Proteja os mais fracos e seja correto. Assim, você estará em paz com Deus e contigo.
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.
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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".
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