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sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Valorização falseada, falsa economia e um prejuízo infernal


Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
3 outubro 2008

Nossa infeliz economia, baseada em valorizações falseadas, não pode continuar por muito tempo. Ela é o equivalente doméstico da amizade que o presidente Bush tinha por Vladimir Putin. É o mundo da fantasia, do eterno mercado em alta e dos pacotes governamentais “bem sucedidos”.  As lideranças políticas nos Estados Unidos demonstraram que não entendem de economia. Elas não podem resolver a crise atual a não ser que voltem para a escola e consultem a sabedoria que por tanto tempo negligenciaram. Elas construíram seu mundo do pós-Guerra Fria sobre uma falsa expansão da economia, sobre falsas “parcerias” com inimigos. Elas permitiram uma política de expansão ilimitada de crédito.


“Expansão de crédito, escreveu o economista austríaco Ludwig von Mises, “[é] a principal ferramenta dos governos em sua luta contra a economia de mercado. Em suas mãos está a vara de condão projetada para esconjurar a escassez de bens de capital…e tornar a todos prósperos. 


Mas nem todos podem ser prósperos. O crescimento econômico criado pela expansão de crédito não pode durar. E é isto que os líderes americanos não perceberam. “As conseqüências inescapáveis da expansão de crédito estão demonstradas pela teoria dos ciclos econômicos. Até mesmo aqueles economistas que ainda se recusam a reconhecer a correção da teoria monetária — ou da teoria da circulação de crédito — das flutuações econômicas cíclicas, nunca ousaram questionar o caráter conclusivo e a irrefutabilidade do que esta teoria afirma com respeito aos efeitos inescapáveis da expansão de crédito”.

Von Mises: preceitos econômicos fundamentais que ajudariam a enfrentar a crise são ignorados.

E quais são esses efeitos?

De acordo com Ludwig von Mises, um impulso econômico ocasionado por uma expansão creditícia só pode ser mantido por mais expansão de crédito; no longo prazo, “[t] ransforma-se em depressão [1] quando cessa a expansão de crédito”. Esta conseqüência é absolutamente certa e a crise financeira atual ressalta o ponto. A expansão [o boom] econômica de anos recentes foi impulsionada por uma expansão de crédito sem precedentes. A cada vez que o mercado estava ameaçado de contração, mais expansão de crédito era insistentemente recomendada e logo posta em prática.

A vara de condão da expansão de crédito age como o vício da heroína. Quanto mais você a injeta, mais você a quer. Inevitavelmente chega o dia em que você não pode mais aumentar a dosagem porque acabou o suprimento. E assim é com a expansão de crédito. Os mercados estão acostumados com o acesso fácil ao dinheiro. Eles agora exigem mais e mais facilidades. Estão viciados. Mas ao fim, todavia, serão forçados a sofrer os efeitos da abstinência.

Será que pensamos que esta expansão poderia continuar para sempre e sem conseqüências? Evidentemente, não consideramos onde iríamos parar. E agora, finalmente, o governo dos Estados Unidos acredita que pode saciar a fome de crédito através de um impulso coordenado – o último suspiro de nossos insaciáveis viciados em crédito. O presidente Bush oferece um plano. A portas fechadas, Bush teria dito: “Esse trouxa pode afundar”. Mais uma vez, a gramática do presidente está errada. O trouxa em questão irá afundar.

Cada dólar derramado no resgate proposto será perdido. Comprar dívida “tóxica” não é uma solução. O mecanismo proposto para resgatar a economia representa uma nova falsificação de valores – e um novo desvirtuamento do mercado. Um pacote de resgate de US$700 bilhões é apenas o começo. Não é possível que o dólar sobreviva a esta nova iniciativa. O que vemos em Washington é um exercício de auto-engano. É o auto-engano de um país que não vê o perigo, de um país que ignora a sabedoria dos antepassados e o ABC da economia.  

Eles querem uma economia sempre em expansão. O que falharam em considerar é a natureza falsa de uma expansão assim engendrada. Valores falseados, idéias falsas e promessas de prosperidade falsas temperam o programa dos políticos de hoje. O lugar deles não é na direção de um grande país. Sua liderança consiste em lamentável ignorância e a república pode estar em seus últimos dias. Houve uma chocante disposição de destruir a moeda do país. “Se o governo não dá importância para até onde as taxas de câmbio podem subir, poderá, durante algum tempo, continuar a se agarrar à expansão de crédito”, explicou Mises. “Mas, um dia, o colapso da expansão aniquilará o seu sistema monetário”.

O plano proposto para salvar os mercados nada salvará. A solução proposta não é solução. Investimentos impróprios foram feitos e enormes perdas devem deles resultar. Devemos tomar o nosso remédio antes de melhorarmos. Depreciar a nossa já depreciada moeda torna as coisas piores. A expansão artificial deve ter um fim. Falsas apreciações devem consumir-se de modo que valores reais possam ser restabelecidos.

Poucos percebem o quão destrutivo foi o boom econômico; pois o dano real é feito pelo regime de valores falseados e pelo nosso investimento coletivo nesses valores. Mises ressaltou: “[O]boom econômico é chamado de prosperidade, negócios em alta e impulso econômico. Sua conseqüência inevitável, ou seja, o reajustamento das condições aos dados reais do mercado é chamado de crise, queda brusca, negócios em baixa, depressão”. Esta última, porém, é o período de cura e correção.

A verdadeira mágica da ciência econômica é aprender a aceitar a correção. E é isto que nos recusamos a fazer. Os administradores financeiros do país deram um exemplo terrivelmente ruim. Tradicionalmente, o capitão afunda com seu navio. Enquanto o Titanic afunda, nossos financistas não querem ser resgatados em botes salva-vidas, mas em iates. Eles não querem aceitar que guerras e depressões são necessárias porque a natureza humana deseja a fantasia. A bolha da falsa paz e da falsa prosperidade necessariamente se rompe. Ao fim, a realidade precisa ser confrontada.

“As pessoas se rebelam contra a noção de que o elemento perturbador verifica-se no mau investimento e no consumo exagerado do período de expansão”, escreveu Mises. O fato curioso é, segundo Mises, que, “[Se] aplicarmos essa medida de comparação às várias fases das variações cíclicas da economia, deveríamos chamar a expansão de retrogressão e a depressão, de progresso”. A expansão se dissipa através do mau investimento dos escassos fatores de produção e reduz o estoque disponível através do excesso de consumo; suas supostas bênçãos são pagas com o empobrecimento. A depressão, por outro lado, é o caminho de volta ao estado de coisas no qual todos os fatores de produção são empregados para a melhor satisfação possível das necessidades mais urgentes dos consumidores.

Se o Estado deve fazer alguma coisa construtiva durante o período “progressivo” da depressão [i.e., o período de reajustamento de valores e alocações de recursos escassos conforme a realidade] é manter o poder de dissuasão nuclear do país e preservar a unidade nacional. Não há dúvida de que em breve os Estados Unidos se verão forçados a trazer de volta as tropas e fechar as bases militares no exterior. A situação financeira ditará a retirada do cenário internacional. Ela ditará um governo mais modesto. Mas os políticos se agarram à idéia de que o boom econômico pode continuar e que sua abordagem falsa da situação internacional é viável. Os Estados Unidos não podem salvar o mundo. O país terá sorte se puder salvar a si mesmo.  O plano de resgate financeiro proposto pelo presidente Bush não é apenas uma medida socialista. É uma tentativa de evitar o retorno às avaliações corretas, reais. De fato, é uma tentativa ignorante de prolongar o dano que já foi feito.

Nossos políticos querem nos dar dinheiro [crédito] fácil, um fomento ao regime de shopping-center. Eles acreditam que isto evitará que milhões percam seus empregos. Eles acreditam que as medidas que propõem salvarão bancos em apuros. A prosperidade, então, continuará. “Esse raciocínio parece plausível”, escreveu Mises. “Não obstante, ele está completamente errado”. boom econômico elevou os preços e salários a níveis altos demais. A demanda perdeu toda a noção de oferta. O consumidor agora está acostumado a obter o que quiser, ainda que não tenha os recursos para tanto. A fim de colocar as coisas no lugar, os salários precisam cair, o consumo precisar ser restringido e práticas imprevidentes devem ter um fim.

“Não há nenhuma utilidade na interferência por meio de uma nova expansão de crédito”, escreveu Mises. “Na melhor das hipóteses, isto apenas interromperia, perturbaria ou prolongaria o processo curativo de uma depressão, isso se não trouxesse de volta um novo boom, com todas as suas conseqüências inevitáveis”. Quando Bill O’Reilly [2] diz que o desastre é grande demais, que a despeito de seu apoio à economia de mercado não vê alternativa ao plano de resgate do governo, ele está negando o poder curativo de uma depressão. Ele está negando a lição fundamental da economia. O dano ao sistema econômico já ocorreu durante o período de falsa prosperidade.

Tão estranho quanto possa parecer, uma crise financeira e a depressão são necessárias. Nós precisamos passar por um período de dificuldades. Não há outro caminho para corrigir o regime de falsos valores, ou de valorizações irreais. O problema, é claro, tornou-se político. 


O regime é um sistema político onde o economicamente ignorante dá o tom. 


A magnitude do desastre é, por meio disso, amplificada, Os atores políticos agora põem o sistema político em risco. E porque há implicações de segurança nacional, eles agora põem nossas vidas em risco.

 

[1] NT: No contexto atual, “depressão” pode também ser entendida como recessão, ou recessão profunda. Todavia, na versão original de sua obra magna, Human Action [Ação Humana], de 1949, Ludwig von Mises usa apenas o termo depression. Por este motivo, decidimos manter o termo.
[2] NT: Bill O’Reilly é um dos mais famosos, influentes e respeitados comentaristas da TV a cabo americana, sendo talvez a principal estrela do canal de jornalismo FOXNews. Tido como conservador, é temido e odiado pela esquerda americana. Sua declaração, portanto, assume importância maior, apesar de equivocada.

© 2008 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com            

Tradução: MSM

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".