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terça-feira, 14 de outubro de 2008

CRISE E IDEOLOGIA

Armando Ribas, Consultor do FDR
Escritor, Economista, Advogado, Professor de Filosofia Política, pertenceu ao staff do FMI, 1972-1976


O mundo está assustado com a crise financeira dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, infelizmente, a esquerda está encantada pelo que parece ser o fim do capitalismo e, conseqüentemente, o advento do socialismo. Portanto, a crise promove temor e alegria neste mundo embriagado de anti-imperialismo cuja denominação atual é o antiamericanismo em função da hegemonia americana. Pretende-se, assim, ignorar que a crise européia é produto direto das próprias debilidades do Estado de Bem Estar Social (Welfare State).

Na ordem interna dos Estados Unidos a crise foi aproveitada pelo candidato democrata à Presidência, Sr. Obama, para culpar Bush e os republicanos pela crise. A partir desta conceituação em grande parte errada, propõe a luta de classes e uma maior intervenção do Estado no mercado. Nesta aparente solução reside o maior risco com que se enfrenta a economia americana e conseqüentemente o resto do mundo.

Outro New Deal significaria o fechamento da economia americana supostamente para salvar empregos – e já sabemos os resultados do protecionismo que deriva precisamente do sistema socialista.

No momento em que escrevo estas linhas, todas as bolsas do mundo despencaram verticalmente, supostamente seguindo a tendência de Wall Street, apesar da aprovação do resgate financeiro peça Câmara de Representantes dos Estados Unidos.

Este pacote de salvação foi politizado no primeiro momento, e muitos republicanos votou contra na primeira votação. A reação de Wall Street parece que fez a maioria retomar a razão e o pacote foi finalmente aprovado.

Mesmo que não seja possível discutir os alcances imediatos dos resultados do resgate, felizmente não se incorreu no erro de 1929. Naquele ano, tal como agora, como descreve Milton Friedman em seu livro ‘Free to Choose’ (Liberdade de Escolher, publicado no Brasil pela Editora Record, 1980) e FED de Washington se opôs à proposta do FED de Nova York de atuar como prestamista de última instância. A conseqüência foi o fechamento de mais de 10.000 bancos e a derrocada de 50% da economia.

Não há dúvidas de que a crise financeira dos Estados Unidos teve sua origem na especulação excessiva com os créditos hipotecários, junto com a baixa taxa de juros que produziram a supervalorização dos bens de raiz. Ou seja, a denominada ‘bolha’ cuja explosão se debita a causa imediata do que se considera uma perda imensa de riquezas. Em minha opinião, quando o preço de um bem está reconhecidamente supervalorizado, sua queda não significa uma perda de riqueza para a sociedade - por mais que assim se sinta o proprietário do bem - porque o bem não desaparece.

Particularmente, no caso dos bens de raiz é um caso diferente do preço das ações. Por isto penso que o efeito mais perigoso da crise atual pode ser, e parece estar sendo, ideológico.

É provável que o impacto da crise financeira determine uma recessão nos Estados Unidos e nos demais países. Mas isto não se deve à queda das bolsas. Historicamente os preções das ações não refletem a evolução da economia real, mas sim a percepção especulativa do público a respeito delas. Em muitos casos nos esquecemos e não levamos em conta a expectativa de possíveis ganhos das empresas que não caem abruptamente em conseqüência da queda dos preços das ações, pois ela pode significar um incremento da rentabilidade por maiores que sejam as perdas dos proprietários originais.

Devemos recordar que entre 2000 e 2002 a Bolsa de NY caiu 35% e a NASDAC quase 60%. O preço das ações naquele período, segundo informações do FMI, caiu em torno de 15%. Apesar dos azares da Bolsa nesses dois anos o PIB americano cresceu 2.4%. Portanto, ainda no caso que se produzisse uma recessão apesar do pacote, ela não significaria um processo similar ao ocorrido durante as crises da década de 30, incluindo o New Deal.

Frente ao tsunami financeiro a esquerda comemora. Supõe que o capitalismo morreu e o pacote é percebido como o triunfo definitivo do socialismo, do Estado sobre o mercado – da generosidade frente ao interesse e o egoísmo. A meu ver, a realidade é bem outra. Seria o triunfo do poder sobre o direito, da opressão contra a liberdade. Esquece-se facilmente que nos países mais importantes da União Européia, como a França e a Alemanha, a deterioração econômica e os problemas bancários foram produzidos pelo próprio sistema que se propõe como solução que tem produzido um gasto público a superar os 50% do PIB.

No caso da América Latina dificilmente se pode pensar que está regida pelo sistema capitalista. Não existem limites ao poder nem respeito aos direitos individuais à vida, à liberdade e à propriedade, por mais que existam sistemas aparentemente democráticos. Deixemos de lado o caso de Cuba, cuja economia foi destroçada por Fidel Castro durante cinqüenta anos – por mais que a cegueira e a hipocrisia universais pretendam culpar o erroneamente chamado ‘bloqueio americana’ pela fome e a pobreza que afligem os cubanos.

Na Venezuela impera o denominado ‘Socialismo do Século XXI’, imposto pelo Sr. Hugo Chávez, admirador de Castro e impelido pelo preço inusitado do petróleo – o qual, diga-se de passagem, é outra das causas esquecidas dos problemas econômicos mundiais. Lá não se respeita a propriedade privada e os partidários do regime invadem terras e edifícios com a anuência e o apoio dos funcionários do governo. Segundo informação do CEDICE desde 2002 a produção de alimentos viu-se reduzida em 60%, o rebanho foi reduzido em 20% e a importação de carne aumentou 60% e a produção de açúcar diminuiu na mesma proporção.

O Sr. Chávez usa os ganhos do petróleo para expandir seu modelo por todo o continente, como na Bolívia de Morales e o Equador de Correa. Ambos pretendem ampliar seus direitos constitucionais (Correa já conseguiu), supostamente em nome do direito do povo, que é a desculpa para violar os direitos individuais. No caso da Bolívia, Morales encontrou uma oposição suficientemente forte, política e economicamente, o que não ocorre no Equador.

Ao mesmo tempo fica cada vez mais evidente o apoio de Chávez às FARC e o resto da América Latina se nega a reconhecer o caráter terrorista deste movimento. Numa reunião recente as pretensões de Morales receberam o apoio até mesmo de países supostamente democráticos, como o Chile. Sem dúvida, na Argentina o desconhecimento dos direitos individuais através de normas que violam a Constituição é também um fato evidente e esta foi a fonte do enfrentamento com os representantes dos produtores agrícolas.

A crise financeira transcende a economia e afeta diretamente a ideologia, e este é o maior perigo que a humanidade enfrenta hoje.

Tradução: Heitor De Paola

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".