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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O chefe supremo e a Casa Vil

AUGUSTO NUNES
19/09/2010 às 15:02 \ Direto ao Ponto


Outra vez depois do almoço, sempre suando a camisa num palanque a muitas léguas do local do emprego, o presidente Lula incorporou neste sábado o companheiro Hugo Chávez e, em mau português, sucumbiu a outro  surto de autoritarismo bolivariano: “Nós não precisamos de formadores de opinião, nós somos a opinião pública”, exaltou-se no comício em Campinas, consumido em desatinos contra a imprensa independente. Estava especialmente irritado com a reportagem de capa de VEJA, mas evitou identificar o alvo com todas as letras. Se o fizesse, teria de dizer alguma coisa sobre o que a revista descobriu e divulgou.
Como José Dirceu na segunda-feira, Lula fez de conta que o problema do Brasil é a liberdade de imprensa. Imprensa livre e notícia correta são soluções. O problema, não o único, é a liberdade dos bandidos de estimação, que se valem do salvo-conduto garantido pelo Padroeiro dos Pecadores Companheiros para espancar a lei impunemente. Indignado com a revelação de que os gatunos agora embolsam propinas até em salas do Palácio do Planalto, o Brasil que presta exige a punição dos delinquentes. Atropelado pela descoberta de que a roubalheira continua comendo solta um andar acima do que deveria frequentar com muito mais assiduidade, o presidente tenta matar o mensageiro.
Como todo governante primitivo, Lula odeia a liberdade de imprensa. Mas tem um motivo adicional para sonhar com a erradicação do que chama de “formadores de opinião”: a existência de gente com autonomia intelectual reitera o tempo todo que a unanimidade é inalcançável — mesmo por quem se considera emissário da Divina Providência. O presidente talvez morra sem saber que os governos passam e as discurseiras são esquecidas, mas a palavra escrita fica.
Daqui a muitos anos, os interessados em compreender estes tristes tempos não perderão tempo com improvisos eleitoreiros, versões cafajestes, álibis mambembes ou hinos ao cinismo. Vão procurar a verdade que estará nos textos publicados por jornais e revistas que não se sujeitaram à Era da Mediocridade. A releitura das três últimas edições de VEJA, por exemplo, será suficiente para atestar que a Casa Civil foi rebaixada a covil da família da ministra Erenice Guerra — infâmia que reafirmou a lição antiga como o mundo: a cabeça e a alma de um governante se traduzem nas escolhas que faz.
Como registrou a coluna do ótimo Ricardo Setti, a chefia do ministério mais importante da República foi quase sempre confiada a juristas notáveis, articuladores sagazes ou administradores públicos brilhantes. Lula escolheu, sucessivamente, um farsante, uma nulidade e uma delinquente. Por ter escolhido três afrontas, deve-se debitar na conta do presidente a gangrena que surgiu com José Dirceu, expandiu-se com Dilma Rousseff e, depois de Erenice, tornou inadiável a amputação de uma sílaba da Casa Civil. Três ministros e cinco escândalos depois, hoje só existe a Casa Vil.
Nomeado por Lula, José Dirceu produziu em 2004 o vídeo protagonizado pelo amigo íntimo Waldomiro Diniz e, no ano seguinte, estrelou o escândalo do mensalão. Nomeada por Lula, Dilma Rousseff, em parceria com a melhor amiga Erenice Guerra, fabricou o dossiê contra Fernando Henrique e Ruth Cardoso e se enrascou na história do suspeitíssimo encontro com Lina Vieira. Grávida de confiança e gratidão, a doutora em nada fez questão de ser substituída por Erenice. Nomeada por Lula, a advogada de porta de cadeia completou o serviço iniciado quando virou secretária-executiva.
Seis anos antes de saber que o braço direito de Dilma Rousseff transformou o gabinete no Planalto em arma dos muitos crimes e esconderijo, o Brasil soube que o braço direito de José Dirceu embolsava propinas para facilitar negociatas. “Um por cento é pra mim”, balbucia Waldomiro Diniz para o bicheiro Carlinhos Cachoeira no vídeo inverossímil divulgado pela TV. Velho amigo de Dirceu, o vigarista promovido a assessor para Assuntos Parlamentares da Casa Civil protagonizou o primeiro dos escândalos que o presidente, com a cumplicidade ativa da companheirada e nas barbas de um Brasil abúlico, tentou criminosamente acobertar.
A bandalheira inaugural desenhou a fórmula que seria utilizada nas seguintes. Pilhado em flagrante, Waldomiro pôde redigir em sossego o pedido de exoneração. Oficialmente, não foi demitido. Saiu porque quis, como Erenice agora. Saiu como sairia Dirceu em agosto de 2005, quando as investigações sobre o escândalo do mensalão revelaram que o chefe da Casa Civil era sobretudo o chefe da “organização criminosa sofisticada” que a Procuradoria Geral da República denunciou ao Supremo Tribunal Federal e os ministros prometem julgar em 2011. Ou mais tarde. Depende da coluna cervical do ministro Joaquim Barbosa.
O escândalo da Casa Civil avisa que a gula dos ladrões se agigantou com o incessante aparelhamento da máquina estatal. Erenice só precisou da lista de telefones e endereços para escancarar aos parentes as portas dos Correios, da Anac, da Infraero e do BNDES. Já desbastara o caminho do cofre quando era tecnicamente subordinada a Dilma Rousseff. Se não soube de nenhuma pilantragem da vizinha de sala e acompanhante, a sucessora que Lula inventou é inepta. Se soube, é cúmplice. Não existe uma terceira opção.
Erenice é Dilma. E as duas são Lula. Foi ele quem nomeou os inquilinos do gabinete desonrado. É ele o fundador e o chefe supremo da Casa Vil. O Ministério Público e o Poder Judiciário precisam acordar, antes que a nação anestesiada perca de vez os sentidos e a democracia entre em estado de coma.

Um comentário:

Anônimo disse...

Prezado Cavaleiro, dê uma olhada nisso:

http://caiafarsaeleitoral.wordpress.com/2010/09/03/brasileiro-criminoso-ou-burro/

O texto é longo, mas podemos constatar que nem tudo está perdido.
Vale a pena conferir os comentários também.

Grande abraço.

James Patrick

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".