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segunda-feira, 21 de abril de 2008

Quatro Décadas de Fraude

Do portal OLAVO DE CARVALHO
Por Olavo de Carvalho no Jornal do Brasil, 17 de abril de 2008

Em 1965, o célebre editor comunista Ênio Silveira lançou o livro de Edmar Morel, O Golpe Começou em Washington. Desde então, cada ano traz uma nova safra de livros, teses universitárias e reportagens que, com pequenas variações, reiteram ad nauseam a mesma tese: o golpe que derrubou o presidente João Goulart foi obra da CIA.

Embora a insistência em buscar novas provas sugira que as provas anteriores não provaram nada, o efeito dessa produção editorial se exerce automaticamente pelo número de obras, que não precisam ser lidas para funcionar como símbolos onipresentes de uma verdade venerável.

No entanto, essa imensa literatura vale rigorosamente nada. Toda ela, de alto a baixo, é puro charlatanismo, ainda mais criminoso quando praticado por historiadores e politólogos de ofício que a adornam com o prestígio do conhecimento acadêmico, da “ciência”.

Ciência – ou mesmo jornalismo, quando digno do nome – não é nunca empilhar indícios em favor de uma afirmativa. Não é nem mesmo organizá-los de modo a dar ares de consistência lógica a essa afirmativa. Ciência – ou mesmo investigação jornalística – é confrontar uma afirmativa com suas opostas, somando os fatores em favor de todas as alternativas com igual isenção, até que uma conclusão se imponha racionalmente contra ou a favor das preferências do investigador.

Se não há confrontação de hipóteses, não há ciência, não há jornalismo, não há conhecimento: há apenas oratória política, propaganda.

A obrigação do confronto é tão indispensável na busca da verdade, que, mesmo quando os próprios fatos não sugiram desde logo uma hipótese alternativa, o investigador tem a obrigação de criá-la como instrumento de aferição.

Mas se a alternativa já está presente, manifesta, visível, declarada no próprio tecido dos fatos, a teimosia em ignorá-la, a fuga à confrontação, a insistência obsessiva em argumentar a favor de uma única hipótese denotam algo mais que parcialidade: denotam a fraude pura e simples.

No caso da alegada participação americana na derrubada de João Goulart, o principal agente da inteligência soviética no Brasil na época, o tcheco Ladislav Bittman, já confessou claramente que ele próprio e seus colaboradores inventaram essa história em abril de 1964, produziram os documentos falsos necessários para dar-lhe verossimilhança e conseguiram impingi-la a toda a grande mídia brasileira (v. Sugestão aos colegas).

Na História, na investigação jornalística ou num inquérito policial, nenhuma prova ou indício tem mais valor que a confissão do acusado. Até o momento, nenhum ex-agente da CIA ou de qualquer órgão do governo americano apareceu confessando intromissão em assuntos brasileiros, malgrado a mania notoriamente endêmica que, na terra de Phillip Agee e Daniel Elsberg, essas criaturas têm de abrir todas as caixas pretas tão logo saem do emprego. Na verdade, nenhuma das obras do vasto gênero aqui considerado jamais forneceu um só nome de agente da CIA comprovadamente lotado no Brasil em 1964. O único nome líquido e certo é o do homem da KGB – e ele confessa ter inventado ponto por ponto a versão que se consagrou como cláusula pétrea da memória nacional.

No mínimo, o golpe de 64 foi um episódio da Guerra Fria, e a Guerra Fria não se travou entre o malvado Império e meia dúzia de desamparados brasileirinhos. Travou-se entre uma democracia capitalista e duas ditaduras comunistas. É impossível descrever honestamente a ação de uma dessas forças num país do Terceiro Mundo sem levar em conta a presença da força contrária. A história da suposta interferência americana no golpe de 64 suprime sistematicamente metade do cenário, e tem dois bons motivos para fazê-lo. Primeiro: a prova da sua mendacidade está guardada na metade suprimida. Segundo: Bittman confessa que tinha a seu serviço algumas dezenas de jornalistas brasileiros. Eles não podem contar essa história direito porque ela é a sua própria história.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".